Claudio B. Dalla Coletta é um descendente de imigrantes italianos, aquela massa de indivíduos que, entre a parte final do século XIX e mais ou menos pouco antes da I Guerra Mundial no século XX, saiu de seu país, a Itália de gente como o poeta Dante e o militante revolucionário Garibaldi, nação em que as dificuldades sociais e históricas se acumulavam com guerras e as transformações do capitalismo, e ganharam a América, o sonho do novo mundo, a El Dorado imaginada por muitos em vários locais distantes do planeta. Uma destas famílias andarilhas foram os ancestrais de Claudio. Que nasceu e se criou na serra gaúcha, na cidade de Veranópolis, mas veio ter à capital do estado, como muitos de nós, descendentes ou não de italianos, em busca de um sonho parecido com aquele dos antigos peninsulares que desembarcaram por aqui há tantos anos, a motivação da migração é sempre uma variante da procura por melhores dias que os locais em que se vive já não apontam, seja esta migração entre cidades ou entre países.

Em seu ensaio Da Itália partimos (2013), Claudio vai em busca de seu gene original. Estudioso, pesquisador, culto, o autor quer entender o que aconteceu na origem das coisas, vai à história italiana até antes dos movimentos migratórios para captar a aventura americana de seus avós. Claudio faleceu em 2008. Sua obra foi montada postumamente por sua própria família a partir dos extratos de seus escritos. Daí o livro tem algo, no todo ou em suas partes, da estrutura dum caderno de notas à guisa de anotações quase a esmo, um pouco pesquisa, um pouco memória. A narrativa, não revisada por Claudio, sofre em alguns aspectos. Lemos que Sophia Loren estrelou o filme O leopardo (1963), de Luchino Visconti; traído pela memória, escrevendo ali sem verificar o dado no calor da composição, Claudio trocou a estrela italiana: quem está no elenco do filme de Visconti é Claudia Cardinale. Num outro tópico, Claudio refere elogios ao filme americano Perfume de mulher (1992), de Martin Brest, com Al Pacino. Como um italiano na América, Claudio deveria elogiar mais (e também porque é bastante superior ao filme americano) o original italiano de onde os americanos tiraram sua cópia cinematográfica, o Perfume de mulher (1974), realizado na Itália por Dino Risi, com Vittorio Gassman no papel central. Mas são pequenos senões que não deslustram o escopo central e bem-sucedido de Da Itália partimos, verificar na história italiana os impulsos pré-migratórios daqueles indivíduos que um dia buscaram os solos americanos, entre eles o solo brasileiro.

Com trechos no dialeto “talian” (vêneto falado na serra gaúcha), Da Itália partimos funde as observações antropológicas e históricas estudadas com algumas experiências do próprio autor no convívio com outros pensadores (professores, padres e outros) da colônia italiana no Rio Grande do Sul. Se Claudio não tivesse morrido antes de concluir este seu necessário ensaio, uma segunda parte da análise posta neste livro poderia ser debruçar-se sobre a aventura familiar do autor, uma espécie de memórias à italiana.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)