Que Horas Ela Volta?
O melhor filme nacional do ano, provavelmente indicado oficialmente ao Oscar
Que Horas Ela Volta?
Brasil, 15. 112 min. Direção de Anna Muylaert. Com Regina Casé, Helena Albergaria, Michel Joelsas, Luis Miranda, Lourenço Muttarelli, Camilla Mardilla, Karine Teles,Theo Werneck.
Vencedor do Prêmio da Paralela Panorama do Festival de Berlim e premio do Público, filme de abertura em Gramado (Hors Concous), Prêmio do Juri River Run, Menção do Júri em Sundance para Regina e Camilla, este é por consenso geral o mais provável filme nacional indicado oficialmente ao Oscar e possivelmente também o melhor do ano. Anna Muylaert também autora do roteiro, estreou no longa do sucesso Durval Discos (02),que levou 7 Kikitos em Gramado, seguido pelo também interessantes É Proibido Fumar, retornando só agora ao longo num filme onde demonstra notável domínio da linguagem cinematográfica, numa história humana e sensível. E uma interpretação antológica de Regina Casé (quem viu Eu, Tu, Eles, 2000, sabe como ela é competente também em papéis dramáticos, não apenas em comédia que lhe sai tão fácil). Naturalmente faz uma variante de si mesma, é isso que todo bom ator é capaz de fazer, mas sem nunca cair em caricatura, ou exagero. Compõe sem mudo um retrato humano de uma mulher de meia idade de Val, que é empregada de confiança de uma casa de gente bem de vida: a dona de casa que trabalha com moda, o marido que quase não sai de casa (mas na verdade é o dono do dinheiro) e um filho adolescente Fabinho com problemas na escola (Joelsas, muito natural) mas que foi criado por Val que o trata com todos os mimos. E ocasional colegas de emprego, o que não é desenvolvido.
O que nos interessa é a vida de Val, que sofre porque deixou uma filha Jessica para criar no Nordeste e que agora esta adulta e com planos de fazer faculdade de arquitetura em São Paulo. Eventualmente essa jovem inquieta e liberta de convenções, ficará morando na casa da família, ate mesmo num quarto de hospedes mas com certas restrições como não usar a piscina ou se aproximar demais do rapazinho.
Com Regina e essa história, Anna poderia ter feito uma comédia rasgada mas preferiu uma narrativa sóbria, até mesmo um pouco europeia. Foi uma opção honrosa, que não tira o impacto do filme, que vai falar direto com o coração do espectador, que vai se identificar com a trama e apreciar a São Paulo que raramente é mostrada. Sem dúvida, o melhor filme nacional do ano, ao menos até agora.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.