Um Amor no Imprio em Chamas
A beleza visual de A Queda do Imprio Romano, de Anthony Mann, de pr no cho qualquer pico digital
A beleza visual de A queda do império romano (The fall of the roman empire; 1963), dirigido de maneira espetacular e gigantescamente arrebatadora pelo americano Anthony Mann na mesma época em que o italiano Federico Fellini exercitava, na Europa, suas fantasias barrocas sobre Roma, antiga ou moderna, é de pôr no chão qualquer épico digital feito neste século XXI. Segundo conta o folclore de Hollywood, os gastos do produtor Samuel Bronston com este filme não foram recompensados nas bilheterias, e a produtora faliu. Vendo-se hoje o filme, nota-se claramente em seu visual as origens deste dinheiro todo: os cenários são caprichados e grandiloquentes, as exigências materiais das sequências de multidão são infindáveis e a riqueza pictórica deve ter exigido o máximo dos esforços técnicos da época. Mas não é nada disto que faz com que A queda do império romano permaneça como um exemplar luminoso do crepúsculo clássico de filmar, um épico cinematográfico como já não se consegue fazer (talvez o último lampejo da maneira clássica de fazer um super-espetáculo ambientado na Antiguidade capaz de atordoar esteticamente o espectador do futuro, tenha sido mesmo Excalibur, 1981, do inglês John Boorman): o que eleva a narrativa daquilo que, na imaginação cinematográfica, teria sido a desestruturação do império romano para a sua queda, é a mão audaciosa de Mann, que, mantendo as características hollywoodianas de filmar, abraça o feito como um pintor, percorrendo corredores palacianos e cenas de batalha com um brilho incomum na composição dos quadros.
Não importa dizer que Mann, como todo homem de Hollywood, simplifica um pouco as questões históricas e preenche com invenção romanesca os liames sociais e políticos da época. Mann não é Stanley Kubrick e muito menos Roberto Rossellini. Mas é uma vertente cinematográfica que inevitavelmente apaixona quem curte um belo filme (e belo é um adjetivo essencial e particular no cinema de Mann). Não importa também reparar as ingenuidades esquemáticas das descrições da luta pelo poder na Roma antiga, nem a forma demasiado fácil com que um caso de amor palaciano edulcora estas descrições. O que encanta mesmo é que tudo isto submerge na magnificência do olhar fílmico de Mann: o poder de uma câmara criativa e seu esplendor. Sai-se da visão destas três horas romanas com o senso de encantamento estético.
Até mesmo uma estrela como a italiana Sophia Loren vai ocultar-se muito no estilo de filmar de Mann. Símbolo do erotismo cinematográfico da época (havia então uma propaganda, veiculada muito em televisão naquele começo dos anos 60, em que Sophia tomava banho com um sabonete, Fiat Lux, se não me engano), Sophia aparece mais contida em seu corpo, talvez excessivamente vestida para os então admiradores de seu físico; mas os olhos líquidos da grande atriz e a carne particular dos lábios que ela exibe estão ali para delírio de todos. O mais do elenco mostra os durões de sempre de Hollywood, Stephen Boyd, Alec Guiness e alguns outros.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicaes de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br