Em Cartaz: Stella: Vitima ou Culpada
Filmes baseados em historias reais tem o atrativo de nos trazer ao conhecimento a trajetoria de pessoas cujas vidas tenham marcado de alguma forma sua passagem pelo planeta


Filmes baseados em histórias reais tem o atrativo de nos trazer ao conhecimento a trajetória de pessoas cujas vidas tenham marcado de alguma forma sua passagem pelo planeta, mesmo que muitas vezes essa passagem seja questionável. É exatamente este o caso da história de Stella Goldschlag, judia alemã que ficou conhecida como a traidora de judeus. Por sua delação, cerca de 3000 judeus foram caçados e mortos pelos nazistas. O roteiro de Marc Blobaum, Jan Braren e Killian Riedhorf sabe como conduzir gradativamente o público aos fatos que transformam uma mulher talentosa e sonhadora em um judas feminino. Na história, Stella (Paula Beer) é uma jovem judia alemã que cresce em Berlim durante o regime nazista. Apesar da repressão no país, ela sonha em ser cantora de jazz. Sua vida inocente se transforma quando, em fevereiro de 1943, ela é forçada a se esconder com os pais da ascenção nazista. Porém, após ser capturada e torturada pela Gestapo, Stella aceita uma condição para evitar que ela e a família sejam mandados para o campo de concentração de Auschwitz: trair e deletar outros judeus. O diretor Kiellan Riedhorf começa a jornada de Stella com um prólogo narrado como um sonho do showbizz com a ótima atriz Paula Beer cantando a icônica Let’s misbehave de Cole Porter. Com 15 minutos já somos jogados em uma realidade distópica em que Stella se junta a vários judeus no trabalho forçado em fábricas, ostentando uma estrela no peito com sua identificação como judia. A partir daí o inferno é um caminho gradativo cm Stella se tornando uma rebelde que ajuda a falsificar documentos para outros em igual condição. Cada vez mais Stella se distancia de seu sonho de se tornar atriz e cantora no famoso Cotton Club novaiorquino, e cada vez mais a tragédia assombra sua vida. A iluminação acompanha a narrativa escurecendo os tons da imagem à medida que Stella desce ao poço da degradação moral. O diretor é feliz o suficiente para não tomar partido em julgá-la por suas escolhas, mas também acaba ficando neutro demais, dividido entre a pena e a condenação. O rumo dos acontecimentos acaba tomando o mesmo rumo que outros filmes que trataram da mácula deixada pela Segunda Guerra na Europa, sem surpresas avançando de 1943 até 1984, encenando o julgamento de Stella por um tempo curto demais, o que poderia ter rendido uma discussão mais impactante de sua protagonista que de vítima se torna carrasca. Paula Beer entrega uma atuação intensa, dual, oscilando entre o bem e o mal, a sonhadora e a realista, cantando também com uma belíssima voz e no olhar mostrando que a guerra transforma todos na luta pela sobrevivência.


Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

relacionados
últimas matérias




