DICAS DE FILMES

Estreias da semana - Nos cinemas e no streaming

26/04/2025 02:32 Por Felipe Brida
DICAS DE FILMES

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Pecadores

Arrebatador, o novo filme de Ryan Coogler renova a parceria com o astro Michael B. Jordan – os cinco longas do diretor são com o ator, da estreia em ‘Fruitvale Station: A última parada’ (2013) até o anterior, ‘Pantera Negra: Wakanda para sempre’ (2022), passando por ‘Creed Nascido para Lutar’ (2015) e ‘Pantera Negra’ (2018). O trailer, até antes da estreia, na semana passada, não revelava o exato teor da obra; sabíamos que era um policial com terror. Nessa altura do campeonato, não é segredo falar que é uma fita de vampiro, mas um filme de vampiro inteligente, com forte crítica social, sangrento e ousado. Misturando ação e horror, carrega traços de ‘Um drink no inferno’ (1996). Michael B. Jordan performa papel duplo, de irmãos gêmeos travando uma luta contra a Ku Klux Klan e também contra um bando de vampiros brancos. A história se desenrola durante a Lei Seca, na década de 30, no estado do Mississipi. Os gêmeos Smoke e Stack, na tradução no Brasil Fumaça e Fuligem, são dois gângsteres temidos, que querem abandonar o crime. Para tanto, retornam para a cidade de suas raízes e se reaproximam da família. Gerenciam uma casa de blues (estilo musical condenado na época, que representava o canto dos escravos), até que um dia três desconhecidos - dois homens e uma mulher, todos brancos, com instrumentos musicais nas mãos, surgem na porta do local, com comportamento ameaçador. A partir daí, os personagens são tragados para uma descida ao inferno, em que enfrentarão uma legião de sugares de sangue. Não é um filme comum, traz uma mistura eclética de gêneros e temas, com uma crítica social envolvendo segregação racial, e trata ainda da formação do blues e da ancestralidade negra. Visionário, o diretor Ryan Coogler investe num novo formato de terror vampiresco, com pano de fundo real, e com equipe composta essencialmente por pessoas pretas. Há cenas que ficam ressoando na mente, como a da dança principal na casa de blues, em que a câmera gira em torno dos personagens, compostos por homens e mulheres vestindo figurino dos anos 30, mas interagindo com rappers e artistas da nova música afro, rompendo com a diegese. As sequências com os vampiros são assustadoras, algumas sanguinárias. Além de Jordan, há no elenco atores em bom momento, como Delroy Lindo e Wunmi Mosaku, fortes candidatos ao Oscar de coadjuvantes em 2026, e Jack O'Connell como o sinistro líder dos vampiros. Ah, e esse é um filme obrigatório para se ver no cinema, com som bem alto! Em exibição pela Warner Bros.

Limonov: O camaleão russo

Conheci o cinema do russo Kirill Serebrennikov na Mostra Internacional de Cinema de SP, em 2018, quando assisti à empolgante biografia musical ‘Verão’ (2018), premiada em Cannes. Impressionei-me pela narrativa desconstrutiva e o visual excêntrico, um preto-e-branco invadido por letreiros e balões coloridos. Fiquei atento a esse diretor, também roteirista de seus filmes, pouco falado no Brasil – ele tem 55 anos, produziu clipes musicais de bandas russas dos anos 90, e seu primeiro trabalho apresentado no Brasil foi o anterior a ‘Verão’, o drama ‘O estudante’ (2016). Não parei mais de ver seus trabalhos – ele lança um longa por ano, e depois de ‘Verão’ vieram ‘A febre de Petrov’ (2021), ‘A esposa de Tchaikovsky’ (2022) e ‘Limonov: O camaleão russo’ (2024), todos exibidos no Festival de Cannes e com exibição nos cinemas do Brasil. ‘Limonov’ é seu filme mais anárquico, com uma trama voraz, uma biografia do escritor, poeta e jornalista nascido na União Soviética, num território hoje ucraniano, Eduard Veniaminovich Limonov (1943-2020), que se envolveu com política e chegou a ser banido da Rússia. De ideias radicais e libertárias, tido como delinquente por alguns, Eddie, como era chamado, teve uma vida agitada, na Rússia e em outros países onde morou – o filme acompanha as peripécias dele pelo mundo. O britânico Ben Whishaw, um ator camaleônico, que interpreta papeis inusitados, fora do eixo, entra com tudo no papel de Limonov, com uma verve explosiva misturando humor, insensatez e melancolia, tudo o que rondava o interior desse autor russo inconformado com o mundo, que produzia seus textos críticos a partir dessa frustração. Limonov integrou o movimento Konkret dos anos 60, depois foi para o punk, teve muitas mulheres, e na década seguinte, no exílio nos Estados Unidos, trabalhou como mordomo e, numa passagem polêmica do filme, foi morar nas ruas com mendigos, onde teve caso com um deles. Mudou-se para Paris nos anos 80, trabalhou com jornalismo de moda, e com a queda do Muro de Berlim, voltou para a Rússia, onde fundou um partido de orientação bolchevique, virando ídolo dos jovens. Político, engajado, é um filme cáustico, com uma atuação soberba de Whishaw, que faz um trabalho sério, que conta com muitos, mas muitos diálogos. E o diretor traz seus elementos técnicos, com passagens em preto-e-branco e letreiros coloridos em stop-motion.

Baseado no livro best-seller de Emmanuelle Carrère, publicado em 2011, está nos cinemas pela Pandora Filmes, que vem lançando nas salas bons filmes de festivais e de gêneros variados – só nesse ano foram ‘Girassol vermelho’, ‘Quando chega o outono’, ‘Máquina do tempo’, ‘A voz que resta’, ‘Trilha sonora para um golpe de Estado’, ‘Redenção’ e ‘Encontro com o ditador’.

PS - O próximo filme do diretor será apresentado em Cannes em maio desse ano, ‘The disappearance of Josef Mengele’ (2025).

Abá e sua banda

Se você gosta de filmes de animação, prestigie esse caprichado longa-metragem brasileiro, exibido nas últimas edições dos festivais de Gramado e Rio e na Mostra Internacional de Cinema de SP e premiado em festivais no exterior. Na história, o príncipe Abá, que é um abacaxi adolescente, de 13 anos, foge do castelo onde mora para realizar seu sonho: ele quer ser músico. Seus dois melhores amigos, que também são músicos, Juca, um caju, e Ana, uma banana, partem com ele para uma incrível jornada em busca daquele ideal. Eles se preparam para um festival de música, porém são confrontados com Don Côco, um vilão maquiavélico que pretende acabar com os pomares da região. Com muita aventura e música, o filme, educativo e com mensagem ecológica, valoriza a cultura brasileira com canções alegres, que carregam brasilidade, além das formas e cores que remetem ao nosso país. É uma animação graciosa que mescla 3D e 2D, apropriada para todos os públicos, mais ainda indicada às crianças pela linguagem e ludicidade. Tem como diretor um expert em animação, que já fez curtas e seriados nesse formato, Humberto Avelar, e conta com vozes de Filipe Bragança, Robson Nunes, Carol Valença, Zezé Motta e Rafael Infante. Produzido pela Fraiha Produções em coprodução com Globo Filmes, Gloob e RioFilme, por meio da RioFilme. Distribuição nos cinemas pela Manequim Filmes.

‘Não sou eu’ e ‘Alegoria urbana’

A Mostra Internacional de Cinema de SP volta às telonas nesse fim de semana em três salas brasileiras de cinema. Com distribuição do Filmes da Mostra, dois filmes da edição de 2024 entram em cartaz: ‘Não sou eu’ (2024), de Leos Carax, e ‘Alegoria urbana’ (2024), de Alice Rohrwacher e JR. No primeiro filme, o cineasta francês realizador de ‘Holy motors’ (2012) e ‘Annette’ (2021) Leos Carax faz mais uma obra pessoal e transcendental, dessa vez um autorretrato que junta documentário e ficção. Realizado a pedido do Centro Cultural Pompidou, de Paris, o diretor, por meio da pergunta ‘Onde você está, Carax?’, tenta responder o questionamento com imagens aleatórias, com colagens e trechos de seus filmes e de vídeos caseiros, além de cenas de bastidores de seus premiados longas. É uma nova fase do universo criativo de Carax, que completa 45 anos de carreira. Exibido nos festivais de Cannes e San Sebastián, é um média-metragem experimental de 42 minutos, para público inserido em cinema de arte. Pode ser visto em sessão dupla com o curta ‘Alegoria urbana’. Neste segundo programa, também francês, a cineasta italiana Alice Rohrwacher, de ‘Feliz como Lázaro’ (2018), em parceria com o fotógrafo, artista visual e diretor JR, traz um conto urbano a partir do Mito da Caverna, de Platão – uma criança de sete anos observa uma série de acontecimentos numa cidade efervescente, mas que por vezes parece estacionada no tempo. A criança se desprendeu das correntes da caverna e agora se integra naquela sociedade moderna. Repleto de simbologias e significados, é um filme só com imagens e poucos diálogos, de apenas 21 minutos, típico de festivais de cinema. Ambos em exibição nos cinemas do IMS Paulista, IMS Poços de Caldas e no Cine Arte UFF, em Niterói/RJ. 

Bolero – A melodia eterna

Ex-atriz nos anos 70 e 80, Anne Fontaine se dedica à direção desde a década de 90, e já assinou filmes franceses admiráveis, como ‘Agnus dei’ (2016) e ‘Marvin’ (2017). No Brasil, acaba de ser lançado nos cinemas seu novo trabalho, inspirado em fatos verídicos, ‘Bolero – A melodia eterna’, exibido na última edição do Festival Varilux de Cinema, em novembro de 2024. Com roteiro dela, adaptado de um ensaio do musicólogo Marcel Marnat, o drama musical reúne trechos da vida do compositor e pianista francês Maurice Ravel (1875-1937), focando, como o próprio título induz, na criação de sua obra-prima, ‘Bolero’. O contexto é a Paris da década de 20, quando Ravel, apaixonado por música desde criança, agora aos 50 anos, recebe o convite da dançarina ucraniana Ida Rubinstein para escrever uma parte do balé em que ela estava envolvida. Sem inspiração, Ravel se agarra a fatos passados, revisita a infância e juventude, lembrando os traumas da Primeira Guerra e do amor não correspondido de sua musa, Misia Sert, que era patrona das artes, e assim começa a planejar ‘Bolero’, que demorou três meses para ser escrito. Concebido originalmente como uma peça de orquestra sem música, foi lançado em 1928 e se tornaria uma das músicas mais tocadas no mundo, que já foi tema de vários filmes – na abertura, temos a dimensão disso, com versões de ‘Bolero’ pelo mundo, instrumentais e cantadas por indianos, japoneses, espanhóis etc. O filme tem uma riqueza de figurinos e uma fotografia que realça o visual de Paris dos anos vibrantes da efervescência cultural. Exibido no Festival de Rotterdã, o drama, coprodução França/Bélgica, conta com um bom elenco, como Raphaël Personnaz, de ‘Anna Karenina’ (2012), como Ravel, Doria Tillier, de ‘Monsieur & Madame Adelman’ (2017), como Misia, Jeanne Balibar, de ‘Os miseráveis’ (2017), como Ida, e uma breve participação de Vincent Perez, de ‘A rainha Margot’ (1994). Em cartaz nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Vitória, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Salvador e Recife, com distribuição da Mares Filmes.

Mente perturbada

Com forte mercado consumidor de cinema, China e Hong Kong despontam na lista dos maiores produtores de filmes do mundo. Em 2024, os dois países realizaram 800 filmes, boa parte deles de ação e terror, gêneros que atraem o olhar do numeroso público jovem.  Porém, os filmes circulam mais na Ásia, e nós, aqui no Brasil, temos menos acesso às produções. Nos últimos anos a Netflix e os festivais de cinema feitos no Brasil trazem em sua programação fitas chinesas e honconguesas, como é o caso desse bom exemplar de horror psicológico ‘Mente perturbada’ (2023) – disponível para aluguel ou compra em streamings como Prime e AppleTV. É também um drama familiar com elementos místicos da cultura chinesa. São sete dias na vida de um jovem que retorna para Hong Kong, sua cidade natal, para visitar a mãe gravemente hospitalizada. Ele se hospeda no apartamento onde cresceu, localizado num condomínio suburbano antigo. Aos poucos, estranha a vizinhança e começa a ter visões sobrenaturais, de vultos pretos, principalmente à noite. Certo dia, acolhe um garotinho, que mora com a mãe no prédio, e descobre que ele também vê fantasmas. Com o tempo a relação dos dois personagens se fortalece, e entendemos o passado do protagonista, repleto de angústia e medo devido às visões que tem desde criança. Misturando drama, terror e suspense, o filme honconguês tem clima assustador, com tom sobrenatural, reforçado pelos cenários claustrofóbicos, dentro de um condomínio sujo, de quartos pequenos, onde as pessoas não são o que aparentam. Chama a atenção o elenco, com os veteranos Tai-Bo, de ‘Police story’ (1985), e Yuk Ying Tam, de ‘Infiltrado’ (2016), e de uma atriz que nunca mais vi, a chinesa Bai Ling, que fez carreira em seu país, mas nos anos 90 participou de grandes produções americanas, como ‘O corvo’, Justiça vermelha’ e ‘Anna e o rei’. Distribuição nas plataformas de streaming para aluguel pela A2 Filmes.

 

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Sobre o Colunista:

Felipe Brida

Felipe Brida

Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com

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