Machado de Assis Lido por Juremir Machado da Silva

O Machado de Assis que assoma do dialogo com Juremir Machado da Silva traz a marca do genio imperfeito

01/02/2023 13:12 Por Eron Duarte Fagundes
Machado de Assis Lido por Juremir Machado da Silva

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

 

Juremir Machado da Silva faz sua leitura de Machado de Assis ao longo de quase setecentas páginas de Machado de Assis, o cronista das classes ociosas (2022). No curso dos anos recentes, Juremir, leitor agudo, releu o que como brasileiro culto já desfrutara em leituras de formação da obra do mais prestigiado autor brasileiro e certamente leu algumas coisas que não lera antes, porque estavam escondidas do cânone. É um pouco como se o livro agora publicado por Juremir fosse a organização de leitura e notas. Aquilo que muitas vezes fica nos rascunhos de leitura é afinal erigido  aqui neste livro e se dá a ver no leitor de Machado de Assis: o leitor Juremir Machado da Silva. Ao leitor do leitor, cabe-nos espiar, no texto de Juremir, o que um leitor privilegiado de Machado de Assis pode descobrir numa obra tão surrada por tantas leituras desde o século retrasado. Machado de Assis, o cronista das classes ociosas é em muito uma coletânea de extratos de textos do autor carioca. No entanto, o mais interessante deste trabalho de Juremir (um trabalho hercúleo pelas minúcias de leituras pesquisadas quanto o é hercúleo para o leitor do leitor pelas exigências críticas e de atenção que traz) está nos ensaios do pé de página, que pouco a pouco se avolumam para cima e para o centro da página: nas relações destes ensaios, alguns de sentenças ou indagações brevíssimas (Pascal? Montaigne?), com a obra em si de Machado de Assis topamos o coração mesmo do que vai interessar em Machado de Assis, o cronista das classes ociosas. Fora destas relações entre o que se pode ler ou reler do velho escritor brasileiro e as observações do organizador-crítico, não haveria o grande sentido de nos aventurarmos por mais esta navegação machadiana. Adverte Juremir em sua nota de abertura: “Diálogo entre leitor e autor.” E acresce: “desencobrimento dialógico ou dialógica do descobrimento”. Um toma-lá-dá-cá entre o Machado de Assis lido e aquilo que dele leu Juremir Machado da Silva.

Excertos dos romances, contos, crônicas, poesias, peças de teatro, crítica literária ou teatral foram colhidos no inventário machadiano feito por Juremir. Os avanços e os recuos, estéticos ou sociais, de Machado de Assis são expostos e observados por esta leitura escritaexecutada com mestria por Juremir. A arte da fórmula como aura da genialidade de Machado de Assis e as camuflagens da sua novelística na questão das personagens negras. A admiração e a amizade de Machado para com o romancista José de Alencar, endeusando suas peças literárias e silenciando sobre a adesão de Alencar à escravidão. Quando, no corpo dum romance da primeira fase, Machado de Assis sai com um “prófugo dardânio”, Juremir anota: “O romancista evoluiria muito em direção ao coloquial”.

O Machado de Assis que assoma do diálogo com Juremir Machado da Silva (“desencobrimento dialógico”) traz a marca do gênio imperfeito. O homem ora adiante, ora encaixado nas limitações de seu tempo histórico. A audácia de Machado de Assis, o cronista das classes ociosas é pôr diante do espelho, não os livros propriamente, mas as nossas leituras. O diálogo entre Juremir e Machado de Assis traz para as páginas mais um intruso, o leitor dos dois escritores que vai, daqui a pouco, tentar reler Juremir Machado da Silva (“dialógica do descobrimento”) um pouco à luz de sua leitura machadiana, agora materializada num texto que, dada a extensão de tudo o que há no clássico brasileiro, não tem como ser completo, porém é bastante amplo.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

Linha

relacionados

Todas as máterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantém você conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar você pode compartilhar suas preferências, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se já!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro