The Batman
O filme mais longo do personagem equilibra acao e investigacao
Depois dos tropeços e erros cometidos na construção de seu universo compartilhado é bom que Matt Reeves tenha assumido a sobriedade em tratar um ícone dos quadrinhos como Batman. Sua proposta ganha não apenas por se desprender deste emaranhado de continuidade desastrosa como também por investir em um herói menos super, porém mais detetivesco, flertando com a estética noir que muito bem cabe em um personagem como o homem morcego em uma cidade de sombras como Gotham City. A escolha de Robert Pattinson (Crepúsculo, O Farol) para o papel de Bruce Wayne/Batman foi polêmica, mas não equivocada. O ator consegue convencer e, sobretudo, mostra química com a Mulher Gato de Zoe Kravitz.
A história começa com uma onda de crimes onde um Charada (Paul Dano) mais mortífero que suas versões anteriores (Frank Gorshin e Jim Carrey) inicia uma onda de assassinatos de importantes figuras da cidade. Sua psicose o coloca propositalmente no mesmo patamar que o lendário assassino do Zodíaco, condizente com o roteiro proposto por Reeves de aproximar os personagens de uma abordagem mais realista. O próprio Batman de Pattinson foi idealizado como um Kurt Cobain heroístico, cheio de conflitos e em busca de sua própria identidade como vigilante de uma cidade cheia de figuras corruptas e vilanescas como Carmine Falcone (John Turturro) e Oswald Cobblepot, vulgo Pinguim, na pele de um irreconhecível Colin Farrell.
É o filme mais longo do personagem com 2 horas e 55 minutos equilibrando ação e investigação. Isso não surpreende visto que Matt Reeves conseguir imprimir uma narrativa envolvente em “Dawn of The Planet of the Apes” (2014) e “War of the Planet of the Apes” (2017), fechando a citada trilogia iniciada por Rupert Wyatt em 2011 com “Rise of the Planet of the Apes) com coerência, uma tarefa hercúlea já que tanto Batman como “Planeta dos Macacos” vêm de cronologias intricadas e muito enraizadas entre seus fãs. O filme poderia ser menor, mas cada sequência serve a um roteiro sólido e não a uma colcha de retalhos de referências. E, não espere que seja “Ano Um”, pois Reeves deixa claro “Esse é o ano dois de Bruce Wayne no papel de defensor de Gotham”. O produtor Dylan Clark, colaborador de longa data de Matt Reeves, acrescenta que ele conseguiu tornar o personagem mais acessível emocionalmente e psicologicamente, se aproximando bastante dos thrillers policiais dos anos 70, tal qual “Chinatown” (1974), e a relação Batman/Comissário Gordon remete a “Todos os Homens do Presidente” (1976). Essa nova roupagem em cima de personagens tão familiares aos leitores de quadrinhos consegue não apenas ser mais realista como também atrativa para os não-iniciados nos quadrinhos do herói. Por isso, não estranhe ao se deparar com um Alfred mais atuante na ação (Andy Serkis) ou para a discussão de que justiça não é vingança. O roteiro é inteligente ao não perder tempo repetindo a origem do herói mascarado, mas incorpora o episódio da morte dos pais de Bruce Wayne à narrativa de forma fluída, preenchendo as lacunas. Além de tudo é o primeiro de uma nova era para o cavaleiro das trevas, e atenção para a cena pós crédito que porá água na boca dos fãs. A Batmania já completa mais de 80 anos, desde que os talentos de Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson apontaram um bat-sinal para as nuvens de nossa imaginação. Não tem como não lembrar do tema de Neal Hefti na clássica série estrelada por Adam West e Burt Ward, ou o traço de artistas como Neal Adams, Frank Miller e outros que firmaram o morcego como uma das grandes figuras da cultura pop e das telas.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com