Ganhar Dinheiro com o Cinema: O Que Importa
Como o atual Duna se restringe a primeira parte do livro, se deduz que vem mais Dunas por ai
Numa declaração recente, o realizador canadense Denis Villeneuve disse que adoraria fazer um filme de James Bond, cuja trajetória na pele do ator Daniel Craig se encerrou no último filme do famoso agente inglês. Villeuneuve ainda não fez seu filme de 007, já se vai escalando como quem não quer nada, mas chega aos cinemas com Duna (Dune; 2021), uma nova versão do romance de 1965 de Frank Herbert. Qual a relação intrínseca entre as aventuras de 007 e uma fantasia de ficção científica transformada em imagens de cinema? Ambos os projetos dão dinheiro, porque criam, com seu natural barulho midiático, uma legião de fãs inconscientes e fáceis. Em 1984 o grande David Lynch atropelou a si mesmo ao buscar o universo de Herbert; Villeuneuve é muito mais um artesão que um artista, e a grandiloquência visual do filme de Villeuneuve pouco se parece com o barroquismo enigmático de Lynch. E no entanto tanto Lynch quanto Villeneuve fracassaram na transposição da página para a imagem. É pena: porque a literatura de Herbert é muito mais séria e consequente que estes dois filmes.
Como o atual Duna se restringe à primeira parte do livro, se deduz que vêm mais Dunas por aí. Os produtores americanos não brincam em serviço. E Villeuneuve, espertamente, embarca nesta aventura cinematográfica de ganhar dinheiro. As coisas nos seus lugares. Duna vira uma espécie de marca industrial, nada mais a ver com o romance de Herbert senão seus conteúdos iniciais, nunca seu projeto estético e reflexivo. Com uma luxuosa fotografia de Greig Fraser e a música altissonante e exagerada de Hans Zimmer, o Duna de Villeuneuve divaga pela mente do espectador entre a hipnose de imagem e as facilidades dos embates físicos rocambolescos entre algumas personagens.
O elenco está adequado. Timothée Chalamet e Rebecca Fergusson nos papéis centrais, Oscar Isaac num papel de segundo plano (o ator é conhecido da refilmagem Cenas de um casamento, 2021, de Hagai Levi, e do novo filme de Paul Schrader, The card counter, 2021), além de aparições inesperadas de Charlotte Rampling e Javier Bardem. Pode ser meio torto descartar uma produção milionária que deverá criar os fãs construídos: mas é o que há por aqui.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br