Judy - Muito Alem Do Arco Iris

Rene Zellweger, de 50 anos, interpreta Judy Garland aos 47 anos, nao espere por uma cinebiografia nos moldes tradicionais

31/01/2020 13:51 Por Adilson de Carvalho Santos
Judy - Muito Alem Do Arco Iris

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Na primeira cena de “Judy – Muito Além do Arco Íris”, Louis B. Mayer (Richard Cordery) o chefão do MGM Studios, diz a uma jovem Judy Garland (Darci Shaw) “Eu faço filmes, mas você faz as pessoas sonhar”. Atrás das câmeras a vida de Judy Garland estava muito longe de ser um sonho. Em paralelo, a ex Bridget Jones passou por um período de depressão, se afastou e ressurgiu na pele de Judy Garland faturando todos os prêmios (Golden Globe, SAG Awards, Critic’s Choice), só faltando um Oscar para coroar sua fantástica atuação.

Não espere por uma cinebiografia nos moldes tradicionais, pois o diretor Rupert Goold constrói sua narrativa a partir da peça “The End of the Rainbow” de Peter Quilter que estreou em 2005 na Sidney Opera House na Austrália. O sucesso da peça a levou para o West End Londrino, chegando na Broadway em 2012. Esta permite um rápido olhar em uma carreira brilhante prematuramente interrompida em 22 de junho de 1969, quando o céu Hollywoodiano ganhou uma nova estrela ... Judy Garland.

René Zellweger, de 50 anos, interpreta Judy Garland aos 47 anos, quando chega a Londres para uma série de apresentações depois de quase 5 anos sem filmar. Em Londres Judy se divorcia de seu quarto marido, depois de três anos juntos. Nesse momento, conhece o jovem Mickey Deans, que se tornaria seu quinto marido a partir de Março de 1969. Renée recria Judy Garland com forte apelo emocional, à medida que o roteiro segue os últimos meses de Judy durante sua estadia em Londres entre o final de 1968 e o início de 1969 para uma série de apresentações que se tornaria seu canto do cisne em meio a um divórcio complicado, problemas financeiros e o descaso da mesma indústria que transformou Frances Ethel Gumm em Judy Garland há mais de 30 anos antes dos eventos mostrados no filme. Junto com o filme a trilha sonora a ser lançada terá Rene Zellweger em dueto com Sam Smith, grande admirador da estrela.

René passou um ano ensaiando para o papel treinando seus dotes vocais com Eric Vetro, renomado técnico vocal de estrelas como Ariana Grande e Katy Perry, que também trabalhou na produção dos sucessos “Os Caminhos da Floresta” (2014), “La La Land" (2016) e “A Bela & A Fera" (2017). Embora René já tivesse exercitado seus dotes vocais cantando e dançando no premiado “Chicago" (2014), viver um ícone como Judy Garland tornou-se um desafio hercúleo dada a intensidade vocal de quem marcou a história do cinema entoando e encantando gerações com “Get Happy", do filme “Casa Comida & Carinho” (1952), sua despedida da MGM. De sua fase no estúdio do Leão gravou “Somewhere over the rainbow" para “O Mágico de Oz” em 1939, imortalizando inocência e fantasia que em nada se assemelhava as agruras do star system ao qual pertenceu. Quando filmou a segunda é melhor versão de “Nasce Uma Estrela” em 1954, para a Warner, uma história de ascenção e queda (recentemente reformada com Lady Gaga e Bradley Cooper) que parecia espelhar sua própria trajetória. Da trilha deste ouvimos “The Man That Got Away”, uma canção sobre abandono, sentimento que parecia acompanhar a estrela em cada um de seus cinco casamentos.

Judy foi uma criança prodígio, dividiu o protagonismo de “Andy Hardy”, série de fitas com Mickey Rooney até ser escolhida para viver a Dorothy de “O Mágico de Oz”. Ainda que casada com o grande diretor Vincent Minelli, que a conduziu por sucessos como “Agora Seremos Felizes” e “O Pirata”, Garland nunca conseguiu se livrar de uma carência crônica que a acompanhava desde que nasceu em 1922. Não se achava bonita, bebia compulsivamente e se viciou em barbitúricos que gradativamente debilitavam sua saúde. Só o talento nunca a abandonou. Protagonizou na vida real uma das maiores injustiças já cometidas pela Academia: Judy estava internada depois de ter dado a luz, enquanto seu nome era apontado como o favorito para o prêmio de melhor atriz por “Nasce Uma Estrela”. Os repórteres invadiram seu quarto no hospital, mas a vencedora anunciada acabou sendo Grace Kelly. O constrangimento e a decepção abriram mais uma chaga no coração da estrela, um sentimento de rejeição que ela nunca conseguiu superar, e intensificado quando Judy perdeu para Rita Moreno o Oscar de melhor atriz coadjuvante de 1962 quando indicada por “Julgamento em Nuremberg”. Sua última atuação foi em “Na Gloria e Na Amargura” de 1963, título que parecia lhe sugerir um epitáfio. Em 2001 foi produzida a mini-série “Minha Vida com Judy Garland – Eu & Minhas Sombras” com Judy Davis vivendo o papel principal que lhe garantiu naquele ano o Globo de Ouro de melhor atriz em Minisérie.

O filme cumpre seu papel catártico de mostrar que a intérprete de Dorothy nunca viveu em um mundo de arco-íris, nunca superou a carência e a fragilidade que contrastava com um imenso talento. Liza Minelli não aprovou o filme, mas este funciona como dramatização e reimaginação de como uma das maiores estrelas do star system Hollywoodiano encontrou seus dias finais. Talvez o Oscar vindouro para Renée seja uma forma tardia de Hollywood dizer “We Love you, Judy!”

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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