Amar, Beber e Cantar

Durante o ensaio de uma peça de teatro amador, na casa de campo do casal Colin (Hippolyte Girardot) e Kathryn (Sabine Azéma), uma notícia abala aquele seleto grupo: o melhor amigo deles, George, está prestes a morrer. As mulheres relembram a vida do colega, um cidadão mulherengo, enquanto os homens planejam convidá-lo para atuar no espetáculo

23/09/2018 00:43 Por Felipe Brida
Amar, Beber e Cantar

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Amar, Beber e Cantar (Aimer, boire et chanter). França, 2014, 108 min. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Alain Resnais. Distribuição: Imovision

Um pequeno grande filme-testamento do mestre do cinema francês Alain Resnais (1922-2014), que morreu meses depois do término das gravações. Na época, estava com a visão debilitada e precisou de ajuda da equipe para a realização – quem coordenou o projeto ao seu lado foi a esposa, a ótima atriz de seus filmes, Sabine Azéma, que aqui interpreta com maestria a espevitada protagonista, Kathryn.

Baseada na peça do inglês Alan Ayckbourn, a fita de arte é uma de suas mais acessíveis, uma ode romântica à amizade, simplista na forma, inteligente na concepção e metalinguística, que fala ao coração ao tratar do mundo do teatro. A estrutura do filme renova o gênero e mantém aspectos teatrais da fase final da carreira do cineasta (ele era um apaixonado pela arte dos palcos) – percebe-se um caráter minimalista, ambientado em lugares pequenos, fechados, só com diálogos.

A história gira em torno de um grupo de teatro, quase todos da terceira idade, que em pleno ensaio para o novo espetáculo leva um baque ao receber a trágica notícia de que um amigo próximo está com uma doença terminal, com poucos meses de vida. Entre conversas triviais, lembranças engraçadas e drinks no jardim o filme se constrói com perspicácia e inventividade. Pelos diálogos constrói-se o perfil do personagem doente, George, que nunca vemos.  Está aí o trunfo e o charme da obra, nunca conhecemos o rosto de George, temos a versão dele pelos depoimentos dos amigos, a partir de histórias que podem ou não ser verídicas.

A forma cenográfica é outro ponto alto, totalmente estilizado em um único cenário, coberto com panos para o ensaio do teatro (que nunca acontece também), com colagem de desenhos coloridos que demarcam as casas dos vizinhos. É a arte imitando a vida, sem a necessidade de ser tão verossimilhante, já que o essencial não reside somente naquilo que enxergamos de concreto.

Rodado em estúdio na França e na zona rural de Yorkshire Dales (Reino Unido), o primoroso filme derradeiro de Resnais recebeu indicação ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e lá ganhou dois prêmios especiais em 2014.

Se sentir afinidade pelas obras do diretor, não deixe de conferir os três trabalhos anteriores, bem semelhantes e com resultado encantador: “Medos privados em lugares públicos” (2006), “Ervas daninhas” (2009) e “Vocês ainda não viram nada!” (2012), todos disponíveis em DVD no Brasil.

E se quiser ir mais fundo, assista aos seus dois filmes emblemáticos da Nouvelle Vague, movimento que ajudou a criar, “Hiroshima, meu amor” (1959) e “O ano passado em Marienbad” (1961).

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Sobre o Colunista:

Felipe Brida

Felipe Brida

Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com

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