Descobertas de Filmes Que Passaram em Branco

Rubens Ewald Filho nos apresenta filmes desconhecidos que tem o seu valor. Ou não...

19/06/2018 16:31 Por Rubens Ewald Filho
Descobertas de Filmes Que Passaram em Branco

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Embora tenha sempre uma obsessão em assistir todos os filmes que tenham algo de interessante ou novo ou diferente, hoje em dia fica difícil separar o joio do trigo, até porque muitos deles passam escondidos em canais de televisão obscuros ou então em horários alternativos e ainda por cima tendo que competir com os Netflixes da vida. Além da minha eterna compulsão de procurar descobrir os filmes que eu não pude assistir porque não tinha idade ou acesso ou grana ou era barrado pela censura. Por acaso por estes dias esbarrei em alguns pérolas perdidas. Quero compartilhar com vocês...

Procurando Monica Velour (Meet Monica Velour, 2010)

Nunca tinha ouvido falar nesse filme modesto e quase amador, feito por um diretor bizarro (um tal de Keith Bearden, de quem nem o IMDB conseguiu apresentar uma biografia dele (mas com certeza é um original, meio sórdido, meio talentoso). Se bem que a surpresa maior para mim foi a participação de Kim Cattrall famosa por Sex and the City - e hoje lembrada por finalmente assumir que detesta sua ex-chefe Sarah Jessica Parker que era uma chata Ditadora! O que fiquei espantado é que ela já tem certa idade (nasceu em 1956) e aqui não tem o menor pudor em se expor. É a história de um adolescente, Tobe, magro, alto e feio (Dustin Ingram) que tem uma sorveteria daquelas que viaja pelos bairros e serve crianças, mas sua grande paixão é tentar encontrar uma atriz erótica/pornô (mas isso é mostrado discretamente) chamada justamente Monica Velour e que agora anda sumida. Aos 17 anos, resolve vender a lanchonete e vai atrás dela (ele tem um pai que é interpretado pelo grande e veterano ator Brian Dehenny, que corajosamente expõe-se pelado assumindo-se velho!). Bom, o rapaz consegue encontrá-la já quando esta bem madura, infeliz, com uma filha pequena que não consegue educar e sem nenhuma esperança na vida. Mas Tobe insiste, faz a corte e ela reluta. Mas se trata de uma história de amor de uma mulher da vida que é seduzida no melhor sentido da palavra porque esse sujeito magrelo, feio, nerd irá mudar sua vida (o ator eu não sabia tem feito carreira bem sucedida na TV em Vynil, The Last Tycoon e True Blood).

Tudo poderia cair em clichês, se não fosse pela surpreendente interpretação de Kim, que assume a idade, não usa maquiagem, não se penteia, e tem uma das interpretações mais sinceras e tocantes que já vi em muitos anos. O filme não a despreza como prostituta, mas nem precisa para bom entendedor. Nem a história é tão nova assim (mas eu gosto do nome que inventaram : Monica Velour é uma delícia!). Mas é um trabalho tão sincero, tão verdadeiro, que resulta emocionante e merecia muito. Uma pena que não lhe deram algum, porque ela merecia todos os prêmios. E o filme também sabe continuar e ter uma resolução inteligente e humana. Mas é mesmo Kim que eu quero saudar e elogiar, as aparências enganam e muitas vezes pessoas de talento não chegam a ter a consagração que mereciam.

Journey´s End (Inglaterra, 2018). Direção de Saul Dibb.

Não sei se será exibido no Brasil porque não faz muito tempo que passou nos Estados Unidos e estreou na sua terra natal a Inglaterra, em fevereiro deste ano. É outro que eu não conheço o diretor, o Mr.Dibb (foi preciso procurar o IMDB para perceber que assistimos aqui no Brasil vários filmes dele, e de qualidade, que foram A Duquesa com Keira Knightley (08) e o mediano Suíte Francesa (2014). Na verdade, esta é uma versão nova de um clássico do teatro britânico, que teve Laurence Olivier na sua versão original no começo dos anos 30, que por sua vez já foi filmado outras vezes (escrito por um certo R.C.Sheriff, que escreveu 40 roteiros, dentre eles Adeus Mr.Chips, As Quatro Penas Brancas etc e tal). Houve um Journey´s End em 1937 e depois em 83 e 89 ambos para a TV). O de 1930 era famoso, mas claro que nunca consegui ver, feito pelo diretor James Whale (famoso pelo terror de Frankenstein, A Noiva de Frankenstein , O Homem Invisível e foi biografado num filme chamado Deuses e Monstros, premiado com Oscar de roteiro em 1998, ele suicidou-se em 1957).

O que importa é que o texto é excepcional e se passa durante a Primeira Guerra Mundial, quando as vítimas morriam aos milhões dos dois lados da conflagração. Não se foge muito do teatro filmado (basicamente os interiores cavados na terra, onde os chefes se escondiam e se alimentavam com algumas cenas incríveis de batalha e alguns planos apenas sob o ponto de vista de um Drone). Mas é uma história absolutamente absurda sobre um dos maiores desperdícios de seres humanos, no caso no encontro entre ingleses e alemães (e não no fim da luta, ela iria ainda prosseguir!). Também não há um exagero no drama, do qual você já vai adivinhar a conclusão. Fora a qualidade da realização, fiquei surpreendido com o trabalho dos atores britânicos (a quem não canso de louvar!) começando por um que até agora não levava a serio, que é Sam Claflin, que me parecia um rapaz frágil mas que se sai especialmente bem (antes tinha feito Jogos Vorazes, o romântico Como Eu Era Antes de Você, no ainda inédito aqui Minha Prima Raquel, o atual Vidas A Deriva/Adrift). Não podia imaginar como conseguiu criar um oficial jovem que se torna alcoólatra quando não consegue impedir a morte em massa de seus companheiros. O elenco tem ainda o agora já adulto Asa Butterfield (de Hugo Cabret), o sempre competente Paul Bettany (que esteve há pouco em Han Solo), o promissor Tom Sturridge. O importante é que não cai em exageros melodramáticos. Nem precisava, já que é uma das tramas mais fortes de toda a dramaturgia moderna.

Human Highway (1982)

Quem não gosta de um filme verdadeiramente ruim? Um clássico do ridículo, principalmente quando envolve gente famosa! Não sabia sequer que existia este filme que foi realizado pelos cult roqueiro Neil Young (com a participação igualmente chocante do grupo Devo). Na verdade, Neil dirigiu o filme junto com o veterano ator infantil da Metro, Dean Stockwell (ainda vivo, que fez filmes como Paris, Texas, Veludo Azul e até no Brasil, Jorge um Brasileiro (88). Faltam-me palavras para descrever este delírio bizarro passado numa lanchonete no deserto, perto de um fabrica nuclear que pensam em destruir enquanto há naves passando por ali. O charme do filme além de ser incrivelmente mal dirigido e que o Neil reuniu um grupo de amigos e fez uma enorme chanchada sem pé nem cabeça, em nada de erótico ou engraçado. Na verdade, tudo é tão esquisito e maluco que acaba sendo divertido ou pavoroso. Ele reuniu outros nomes famosos como o Russ Tamblyn (West Side Story), Dennis Hopper (Easy Rider), Sally Kirkland (que foi já indicada ao Oscar). Certamente foi realizado com o consumo de drogas mas por alguma razão não se mostra isso na tela. Acho que vale realmente como uma curiosidade (os que viram variam entre “cool” e “stupid”). O slogan é Quando Amor e Fé Colidem (que não tem nada a ver).

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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