Em Cartaz no Cinema: Rocco e Seus Irmãos (Rocco e i suoi Fratelli)

Com cópia restaurada, o CineSesc de São Paulo exibirá um dos maiores clássicos do cinema italiano

25/07/2016 22:48 Por Rubens Ewald Filho
Em Cartaz no Cinema: Rocco e Seus Irmãos (Rocco e i suoi Fratelli)

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Rocco e Seus Irmãos (Rocco e i suoi Fratelli)

Itália, 1960. 190 min. Produzido por Goffredo Lombardo para Titanus e Les Films Marceau Cocinor. Direção de Luchino Visconti. Roteiro de Luchino Visconti, Suso Cecchi D’Amico, Pasquale Festa Campanile, Massimo Franciosa, Claude Brulé, Vasco Pratolini e Enrico Medioli a partir do romance “Il Ponte della Ghisolfa” de Giovanni Testori. Fotografia de Giuseppe Rotunno. Música de Nino Rota (dos filmes de Fellini). Elenco: Alain Delon, Annie Girardot, Renato Salvatori, Katina Paxinou, Roger Hanin, Paolo Stoppa, Suzy Delair, Claudia Cardinale, Spiros Focas, Max Cartier, Corrado Pani, Rocco Vidolazzi, Nino Castelnuovo, Adriana Asti, Claudia Mori, Franca Valeri. Preto e branco.

Sinopse: Uma família do sul da Itália (Lucania) é obrigada a se mudar para Milão em busca de trabalho e onde já está um irmão mais velho. A mãe Rosaria (Katina) procura controlar os cinco filhos, que tomam caminhos diferentes. Um deles se torna boxeador profissional, outro quer se tornar operário especializado, o mais novo ainda vai à escola e Rocco, que sonha em voltar à sua terra é de todos o que tem melhor coração. Mas também acaba se tornando boxeador e se apaixona pela mesma mulher Nadia, que seu irmão, uma jovem prostituta.

Comentários iniciais: Esta é sem dúvida uma obra-prima do cinema italiano, filme preferido de críticos como Roberto Rios (HBO Latin America) e Luiz Carlos Merten (O Estado de S.Paulo) que envelheceu bem. Vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza, é geralmente considerada a obra-prima de Luchino Visconti (1906-76). Assim como foi ele um dos precursores do Neo-realismo, parece também ter chegado ao clímax do movimento e dali em diante parte por outros caminhos (com o mesmo Delon faria em 63 outro grande trabalho, O Leopardo, uma alegoria sobre o fim  da era da aristocracia na Itália). Ele reuniu um elenco internacional (como sempre os filmes italianos ainda eram dublados posteriormente e cada um podia dizer o texto em sua própria língua), como a grega Katina Paxinou (1930-73, vencedora do Oscar de coadjuvante por Por quem os Sinos Dobram, 1943) como a mãe, a jovem Claudia Cardinale num papel pequeno mas já deslumbrante. Durante as filmagens o italiano Salvatori (1933-88) e a francesa Annie Girardot 1932-2011, eventualmente vitima do Alzheimer, conheceram e se casaram (por uns tempos).

Critica: É difícil descrever o impacto deste filme, que só melhorou ao ser distribuído em cópia integral e que continua a ter uma força telúrica (por isso menos acessível aos que não estão familiarizados com a cultura italiana), com Katina como uma ”Mãe Coragem”, que às unhas e dentadas, tenta manter sua família unida, enquanto a cidade e o progresso, anseia destruir sua prole. Alain Delon é uma figura de plácida beleza (e que o conhece de papéis de gangsters posteriores custa a acreditar nisso) totalmente convincente como uma pessoa boa demais para sobreviver na selva da cidade. Embora Visconti fosse comunista de partido, o filme nem sequer é esquemático ou simplificado. Desenha apenas um grande painel de uma sociedade doente e corrupta (e que desde então só piorou).

Todo o elenco é perfeito, mas é o trio central, Delon, Salvatori, Girardot (a quem o filme transformou em estrela) que nos envolvem. (a sequência de morte também é clássica e ainda estarrecedora). Este é daqueles filmes que nos trespassam a alma, nos emocionam, até acima das meras lágrimas. Vai direto ao coração.

Ganhou no Festival de Veneza, Premio Especial do Júri e da Crítica. Fotografia, direção e roteiro do Sindicato dos Jornalistas Italianos, melhor produção (David di Donatello), mas foi esquecido dos Oscars e critica americana (as 12 facadas foram reduzidas a três na versão para os EUA, no total foram 30 minutos a menos! Ainda assim foi grande sucesso de público na Itália). A Administração da cidade de Milão exigiu 45 minutos de cortes e por isso o filme não estreou lá.

Coppola era tão fã do filme que chamou Nino Rota para fazer a trilha de Poderoso Chefão.Muito admirado por Scorsese, o filme teve paródias locais (Rocco e Le Sorelle, Walter e su Cugini, ambos de 61), foi citado em filmes como Hannah e suas Irmãs de Woody Allen, Touro Indomável.

Muitos críticos como Roger Siskel, fazem questão de acentuar como o filme é operístico, tem prazer em mostrar a decadência da sociedade (descrevendo Visconti como aristocrata (nobre descendente dos príncipes da região), homossexual, marxista, diretor de teatro, ópera e cinema , embora Rocco seja um filme idealista, o diretor também era apaixonado pela decadência misturado com realismo social.

Embora já o tenha visto meia dúzia de vezes, é com prazer que pretendo revê-lo na tela grande e cópia restaurada.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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