RESENHA CRTICA: Chat, o Rei do Brasil

Um trabalho bem cuidado, bem fotografado, cinematograficamente interessante, mas...

23/11/2015 07:08 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA: Chatô, o Rei do Brasil

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

Chatô, o Rei do Brasil

Brasil, 15. Direção de Guilherme Fontes. Com Marco Ricca, Paulo Betti, Andréa Beltrão, Gabriel Braga Nunes, Eliane Giardini, Leandra Leal, José Lewgoy, Walmor Chagas, Zezé Polessa, Tatiana Monteiro, Leticia Sabatella.

Se você tiver interesse em conhecer a vida e obra de Assis Chateaubriand (1892-1966) recomendo evitar o filme e simplesmente ler o livro best-seller biográfico que foi escrito por Fernando Moraes. Esta produção lendária é provavelmente a mais cara e longa já produzida no Brasil, já que começou a ser produzido em 1995 e só agora esta estreando nos nossos cinemas. Há varias polemicas e até processos acusando o diretor estreante e produtor, mais conhecido como ator, Guilherme Fontes de mau uso de verbas, mas confesso que é um caso complicado e acho injusto opinar sobre algo que não tenho provas ou elementos para julgar. O fato é que se esperava que o filme fosse um desastre e que mesmo seu visual tivesse envelhecido (já que cinema envelhece na prateleira muito rapidamente, mas como é filme de época e construído como uma alegoria e um delírio, isso não chega a acontecer). E acabou tendo uma reação oposta, o filme vem sendo saudado com entusiasmo. Talvez pela surpresa de constatar que Guilherme fez um trabalho bem cuidado, bem fotografado, cinematograficamente interessante. Ainda que pelo fato de usar pseudônimos e nomes quase sempre inventados se torne impossível se entender o que esta acontecendo. Vira na verdade um samba do Crioulo Doido, misturando fatos com invenções, preferindo o exagero e o grotesco, entre a farsa e melodrama, no que poderia ser uma oportuna critica a corrupção brasileira que não é coisa apenas atual, mas que já existia desde sempre e como já cansamos de perceber sem consequências!

O que mais me aborreceu é sem dúvida terem transformado Chateaubriand num canalha sem limites, capaz das piores grossuras e baixarias, de uma burrice indiscutível (se assim o fosse não teria chegado aonde chegou) , um protagonista desprezível sem um único momento de humanidade. E olha que com quase duas horas e meia de projeção se torna quase insuportável seguir sua trajetória confusa (na verdade, o filme só é desculpável pela interpretação de Marco Ricca no papel título, certamente seu melhor momento no cinema, ainda que o sotaque vai e vem sem critério).

Não há qualquer novidade em optar por fazer toda a narrativa uma espécie de julgamento (o diretor teve a ajuda confessa da turma da Zoetrope de Coppola que deve tê-lo levado a tornar todo o filme um delírio de um homem já doente, as portas da morte, que esta sendo massacrado num programa de TV. Ou seja, tudo que é mostrado e discutido vira algo circense, chegando mesmo a ter Chacrinha de condutor). Talvez fosse aceitável num teatro musicado mas na tela deixa o espectador perplexo e confuso ao tentar ao menos entender não apenas quem foi o herói como aqueles que o cercam, já que com frequência as figuras são misturas de diferentes personalidades históricas, quase todas transformadas em caricaturas (em particular as mulheres!).

É muito interessante de qualquer forma se constatar a falta de critério do brasileiro, que primeiro condenou o filme sem o conhecer e agora o elogiam como se isso os eximisse de culpa. Não percebem que no momento em que o filme vira farsa deixa de ter valor a crítica do oportunismo, até justificando os roubos, os golpes, tornando folclórico a desonestidade e a corrupção.

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

Linha
Todas as mterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantm voc conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar voc pode compartilhar suas preferncias, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se j!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro