O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett)
Um filme direto, sem tempos fortes, ou qualquer romantismo. E talvez por isso mesmo ainda mais tocante


O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett)
Israel, 2014. 115 min. Direção de Ronit Elkabetz, Shlomi Elkabetz. Com Ronit Elkabetz, Simon Abkarian, Gabi Ahbrami, Dalia Beger, Shmil Bem Ari.
Este drama israelense inspirado em fatos reais, foi indicado ao Globo de Ouro de filme estrangeiro em 2015 (perdeu para o russo Leviatã), ganhou melhor filme e ator coadjuvante (Sasson Gabal) da Academia Israelense e mais 10 indicações, prêmios no Festival de Jerusalém, Chicago, Oslo, National Board of Review, Hamptons, Hamburgo, San Sebastian, Palm Springs e foi a indicação oficial para o Oscar de filme estrangeiro (outra perda para o inferior Leviatã).
Extremamente direto e simples, sem firulas, o filme me interessou muito, ao revelar que em Israel não há casamento civil nem divórcio civil. Só os rabinos podem legitimar um casamento ou divórcio. Mas essa dissolução só acontece com o total consentimento do marido. Que no final das contas tem mais poder que os juízes. Aqui a heroína Viviane (feita pela também codiretora do filme) está a três anos pedindo o divórcio, enquanto ela tenta vencer a intransigência do marido. Tudo se complica quando de forma absurda problemas pessoais são trazidos ao julgamento.
A história foi inspirada na própria mãe da diretora, e é contada em três capítulos, (Tomar uma Mulher, Os Sete Dias e o ultimo que leva o título do filme). Primeiro a heroína Viviane mãe de quatro filhos vive sob a pressão muda do marido que não consegue deixar. Depois reúne todos os parentes próximos e já esta separada dele. Mas é na terceira e última parte que ela vai tentar buscar o manuscrito que lhe dá o divórcio (que seria o Gett do titulo original).
Num cenário despido de uma sala de audiências, tudo muito cru e direto, participamos da discussão, da querela e da decisão. Meias verdades, injustiças (um marido testemunha no lugar de sua mulher proibida de falar), o filme é direto, sem tempos fortes, ou qualquer romantismo. E talvez por isso mesmo ainda mais tocante.


Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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