RESENHA CRTICA: Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Gray)

Mais uma vez o cinema norte-americano prova que no sabe fazer um filme sobre erotismo

13/02/2015 14:55 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA: Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Gray)

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Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Gray)

EUA/Inglaterra, 2015. 125 min.Direção da Sra. Sam Taylor Johnson .Com Dakota Johnson, Jamie Dornan, Jennifer Ehle, Eloise Munford, Luke Grimes, Marcia Gay Harden, Victor Rasuk, Rita Ora.

Foi bem interessante assistir nesta quinta-feira a exibição pública deste filme tão badalado, que foi considerado R nos EUA, 16 anos no Brasil, mas passou quase livre na França. E ver uma plateia bastante cheia (era a primeira sessão da tarde) rindo muito com as frases do começo e reagindo muito mal no fim, provocando quase uma confusão. Depois quando tiravam selfies comigo deu para perguntar o porquê: me disseram que não gostaram do final, que esperavam mais! Como é sabido, o fim deste primeiro capítulo do que promete ser uma trilogia (foi modificado por pressão da autora do livro a inglesa E.L. James que exigiu que terminasse como no livro. Justamente porque tem continuações!). A diretora deste filme, Sam Taylor (de 1963), apesar do nome é uma mulher que ficou conhecida porque descobriu, casou-se e lançou no cinema um ator muito mais jovem , Aaron Taylor Johnson (1990) que fez com ela O Garoto de Liverpool (2009 onde era John Lennon. Depois esteve em Godzilla, Kick Ass I e II, Anna Karenina, Capitão America Soldado Invernal, Selvagens). Parece que tem presença garantida para o Capítulo 2. 

De fato eu tenho questões mais sérias a discutir. Neste mundo atual em que se estupram e matam mulheres, onde as religiões estão cada vez mais assassinando e negando qualquer direito humano, acho realmente uma estupidez ficarmos discutindo se um milionário bonitinho deve exercer sua tara de um sado masoquismo “light”, que provoque dores num outro ser humano no caso uma mulher ainda virgem alegando que ela vai se sentir bem! Que as mulheres aplaudam isso e que acham felizes pedindo mais sofrimento, que sejam sempre tratadas como objeto, é um caso muito discutível. Sempre se levando em conta que o corpo é delas e podem fazer o que bem entender. Felizmente a surpresa é que o filme não é assim tão a favor da tortura sexual quando fazia parecer. Na argumentação do filme elas chegam até a acertar algumas. 

Antes de tudo como cinema embora tecnicamente profissional, não passa de uma caça níqueis para explorar o sucesso da trilogia escrita por uma senhora inglesa de certa idade (nem tanto nasceu em 1963, casada e com 2 filhos). Quem leu o livro encontrará detalhes sexuais, por exemplo, sobre sexo oral, que o filme passa longe. Vejam que absurdo, nem se vê o casal sem roupa,  há um pequeno pedaço de pênis acho que só para comprovar que existe e a moça não é vista de frente! Meu Deus parece coisa de censura de anos 60! Na verdade, o americano sempre teve horror de encarar o sexo de frente (sem trocadilhos) e não mudou muito.

 A moça protagonista chamada Anastasia Steele tem um corpo feio, um traseiro nada fotogênico e a atriz parece que precisa de um chuveiro urgente. No entanto, é um mistério como uma pessoa que é de família de estrelas seja tão opaca. A Dakota Johnson é neta de Tippi Hendren (Os Pássaros de Hitchcock), filha de Melanie Griffith e Don Johnson (Miami Vice). É suportável como atriz, tem certa sinceridade e não chega ser horrível. Já é muito se comparando com o galã que inventaram. Um magricela que não tem corpo e parece o Helmut Berger de antes de Visconti. É um personagem já  impossível de um rapaz que seria lindo, perfeito, milionário, inteligente e gostoso como elas dizem (embora tenha tido 15 mulheres, ele tem fama de gay que o filme não confirma, gosta mesmo de torturar mulheres). Reparem que esquisito que quando sorri tem duas covinhas bem nos 2 lados da boca, como falsos bigodes. O que não tem mesmo é convicção ou talento, a cena em que leva uma recusa chega a ser patética. E a culpa é do próprio público que fez pressão contra outro que havia sido escolhido, um cara que tem jeitão de homão, forte, assumido (falo de Charlie Hunnam de Queer as Folk e a série Filhos da Anarquia. Com ele o filme teria sido bem melhor).

O elenco de apoio é sofrível e mesmo os nomes mais conhecidos não tem praticamente o que fazer, nem a mãe dela (a interessante Jennifer Ehle), nem a mãe dele (a premiada com o Oscar® Marcia Gay Harden). Não há um momento de genuíno erotismo (embora a trilha musical seja o menos ruim) e quando o herói começa a confessar sua infância e como virou  Bad Boy francamente agradeci de ter sido jovem quando criaram por exemplo O Último Tango em Paris ou Esposamante, ou O Conformista de Bertolucci. E o que há pouco vimos o Francês e muito digno, O Azul é a Cor mais Quente. Não é o erotismo que foi morto pela pornografia na Internet, é que norte-americano nunca soube mesmo fazê-lo. Lamentável.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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