A Face Escura: Jornalismo de Contrabando

Nas cronicas, lidas em conjunto, se evidencia o furor critico do jornalista para tentar combater os tristes tempos da estupidez

24/12/2025 02:17 Por Eron Duarte Fagundes
A Face Escura: Jornalismo de Contrabando

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A reunião das crônicas de Juremir Machado da Silva publicadas nos tempos do bolsonarismo (o neofascismo tupiniquim), no livro Face a face (2025), é um testemunho histórico sob a forma de jornalismo. E jornalismo, na escrita de Juremir, é literatura: pela valorização da palavra ou do raciocínio em palavras. Nas crônicas, lidas em conjunto, se evidencia o furor crítico do jornalista para tentar combater os tristes tempos da estupidez.

Esta espécie de agressividade crítica se estabelece desde uma peça introdutória, como “Eu acuso”, onde, cavoucando no francês Emile Zola, o autor recria os conceitos do francês sem pedir desculpas, com uma energia nova, propondo a força da água da linguagem para destravar a represa autoritária, limitadora. “Cento e vinte anos depois do grito de Emile Zola, eu acuso o juiz Sérgio Moro de encarniçamento contra Lula em nome de forçar instituições a partir de uma visão ideológica seletiva”. “Eu acuso o judiciário de ter prendido Paulo Maluf, aos 87 anos de idade, para simular uma universalidade que não pratica de fato, pavimentando o caminho para a prisão de Lula.” Um desabafo? Sim: um desabafo crítico. Juremir, escritor de primeira, o mais completo jornalista destas plagas, foi uma vítima direta do bolsonarismo, que não  tolera analistas ferinos. Tentando permanecer na trincheira para dizer algumas coisas, ainda que não tudo, Juremir acabou encurralado porque o que dizia feria o âmago do fascismo: perdeu os espaços na mídia majoritária e, mesmo após o fim do bolsonarismo no poder, não os recuperou, porque as excrescências deixadas pelo sistema bolsonarista continuaram a existir na sociedade. Face a face é um relato desta trajetória cheia de brilho mas em muitos aspectos vitais quase inglória.

Jair é a personalidade que desponta como uma personagem indesejada mas inevitável. “O vídeo obsceno difundido pelo presidente da República inaugura uma nova era: a da vulgaridade como forma de promover a edificação dos espíritos.”

Entre as meditações em torno do bolsonarismo e da pandemia do coronavírus (na história recente brasileira, uma coisa parece ter nascido dentro da outra, ou vice-versa), um inusitado capítulo, um olhar para o “tempo perdido” de Marcel Proust, um interregno diurno dentro da noite política. Afetação, beleza ou contraponto? Em sua novela Cante o hino antes de entrar (2024) Juremir dá forma ficcional aos duros tempos de Jair e sua turma. Face a face baixa uma visão direta para esta época: a face é escura mas estamos diante dela; face a face com quem não nos compreende nem tem iluminação.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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