TREMEBE: RESENHA ESPECIAL
Atuacoes corajosas e desconfortaveis, especialmente das mulheres. Um retrato duro que confia mais nos interpretes do que nos truques faceis
“Tremembé” é uma série que não se sustenta em reviravoltas fáceis, mas na espinha dorsal de suas atuações.
Desde o primeiro episódio, fica claro que o maior risco do projeto era cair na caricatura do mal.
Felizmente, isso não acontece — em grande parte graças ao elenco.
Interpretar facínoras exige mais do que gritar ou ameaçar; exige silêncio, contenção e olhar.
Os atores masculinos entendem isso e constroem personagens endurecidos pelo sistema, não pelo exibicionismo.
Há uma economia de gestos que comunica mais do que longos discursos.
Mas o verdadeiro desafio dramático está nas personagens femininas.
Mulheres violentas ainda incomodam mais do que homens violentos — e a série sabe disso.
As atrizes encaram o risco sem pedir licença ao público.
Não há tentativa de justificar comportamentos nem de buscar empatia fácil.
São personagens frias, estratégicas e, justamente por isso, perturbadoras.
Esse desconforto é mérito da interpretação, não do choque gratuito.
A direção acerta ao valorizar rostos e pausas, permitindo que o ator respire em cena.
Há momentos em que um simples olhar comunica uma biografia inteira.
A fotografia opressiva ajuda, mas nunca se impõe sobre as performances.
O roteiro, por vezes, se repete em conflitos semelhantes.
Alguns episódios poderiam ser mais concisos.
Ainda assim, quando confia nos intérpretes, a série cresce.
“Tremembé” entende que o mal cotidiano não precisa ser espetacular.
Ele é banal, calculado e assustador justamente por isso.
Poucas produções nacionais recentes exigiram tanto emocionalmente de seu elenco.
E poucas atrizes aceitaram papéis tão ingratos sem suavizá-los.
Não é uma série confortável.
Nem pretende ser.
É dura, áspera e incômoda.
Como seus personagens.
Nota: 4 / 5
Sobre o Colunista:
Edinho Pasquale
Editr-Executivo do site DVDMagazine
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