EM DEFESA DA DUBLAGEM VIVA

O debate acerca da ameaca de que nossos dubladores, artistas inestimaveis, venham a ser substituidos pelo uso da inteligencia artificial: queremos A DUBLAGEM VIVA

23/01/2024 02:27 Por Adilson Carvalho
EM DEFESA DA DUBLAGEM VIVA

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A dublagem sempre foi um precioso recurso para a apreciação de filmes e para a popularização da cultura cinematográfica. Considerada uma das melhores do mundo, a nossa dublagem é parte de nosso patrimônio desde os tempos áureos de estúdios como a AIC (Arte Industrial Cinematográfica) e a Herbert Ritchers. Nos últimos dias vem se intensificando, contudo, o debate acerca da ameaça de que nossos dubladores, artistas inestimáveis, venham a ser substituídos pelo uso da inteligência artificial, que se avizinha no horizonte próximo nos estúdios de dublagem.

É necessário primeiro quebrar, antes de mais nada, o preconceito que muitos nutrem pelo trabalhado da dublagem. Esta potencializa o produto estrangeiro, melhora muitas das vezes, mas nunca estraga o conteúdo de filmes, séries e desenhos. O saudoso Orlando Drummond popularizou a fala "Tá limpo!", dita por Alf (sitcom de sucesso nos anos 80) em adaptação do original (No trouble). Não era a frase em si, mas a intonação e a maneira como Orlando a dizia que dava graça ao alienígena criado por Paul Fusco. O mesmo trabalho inestimável foi feito por Orlando em Scooby Doo, Popeye, Star Trek Deep Space 9 (voz do Comissário Odo), Zorro (voz do Sargento Garcia) e muitos outros papéis cada um modulando sua voz para transmitir humor ou drama, aspectos de emoção humana, que máquina nenhuma poderia igualar por mais sofisticada que seja. Elcio Romar, outro mestre em seu ofício, adaptou o tom de sua voz para um humor intelectual de Woody Allen em filmes como Noivo Neurótico Noiva Nervosa e Sonhos de um Sedutor, mas potencializa um timbre mais firme e dramático em todos os filme em que dublou Michael Douglas, e ainda transforma sua voz em algo completamente diferente fazendo o Snarf da famosa animação Thundercats. Tudo isto é um humano, e não uma máquina, tudo e cada um desses se conecta conosco e marca nossa memória auditiva e nossos sentimentos elevados à pura catarse de nossos próprio sentimentos.

E o que dizer de trabalhos como a série A Gata & O Rato (Moonlighting) em que cada história trazia um recorde de páginas de texto, muitas das vezes com o dobro de falas conduzindo cada episódio, e que no Brasil se faz marcante não apenas pelos atores Bruce Willis e Cybill Shephard, mas sobretudo por seus dubladores, o saudoso Newton da Matta, e a fabulosa Sumara Louise. Esta é um típico caso em que a apreciação das história se perderia muito se limitada ao som original com legendas. Diga-se aqui, claro, que a dublagem é democrática, e não nega que os apreciadores do som original com legendas possam usar esse recurso em qualquer streaming ou outra forma de exibição.

A dublagem TEM de ser viva, porque nós estamos vivos, e nos conectamos com as obras áudio visuais através de nossos sentidos naturais. E não apenas isso, nos relacionamos não apenas com obras americanas, mas também espanholas, japonesas, italianas, alemãs e doramas coreanos, cada um passando por um processo de adaptação e tradução que não apenas verte palavras de um idioma em outro, mas as ajeita de acordo com a realidade social de cada um, e a dublagem é parte essencial deste processo. Precisamos de Evie Saide, Elcio Romar, Miriam Ficher, Leo Martins, Aline Guioli, Wagner Torres, Rita Ávila, Alexandre Moreno, Mario Jorge, Márcio Simões, Sergio Stern, Duda Ribeiro, Sumara Louise, Nizo Neto, Bruna Laynes, Juraciara Diácovo, Márcio Seixas, Carmem Sheila, Selma Lopes, Ricardo Juarez, Wendell Bezerra, Manolo Rey, Felipe Drummond, Marco Ribeiro, Claudio Galvan, e todos os que se dedicam à esse primoroso ofício. Por isso, nós cinéfilos, nós telespectadores, nós jornalistas, nós críticos, nós professores, nós profissionais de todo as áreas, nós seres humanos, queremos A DUBLAGEM VIVA.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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