A Gordura Exposta e Traumas Familiares
O americano Darren Aronofsky faz filmes turbulentos e provocativos
O americano Darren Aronofsky faz filmes turbulentos e provocativos. Tem originalidade de encenação e sua linguagem não desdenha muitas vezes a precariedade formal de um certo amadorismo. A baleia (The whale; 2022) traz todos os ingredientes polêmicos de que Aronofsky se cerca em suas realizações.
Exposta e cruamente, A baleia enquadra com certa perversidade a estratosférica gordura de um homem quase o tempo inteiro, criando uma claustrofobia visual que nasce muito de suas origens teatrais, uma peça escrita e roteirizada por Samuel D. Hunter; ao espectador não é dada trégua no ato de ver em cena Charlie, o homem gordo, vivido magnificamente, sob quilos de maquiagens, por Brendan Fraser, com suas dificuldades físicas estando constantemente a comer de maneira exagerada, ainda sobrecarregado por seus traumas familiares, a relação com a ex-mulher, com a filha áspera, o fato de ter abandonado a família por uma relação homossexual (o parceiro já morreu), a relação com sua cuidadora; o sentido do desagradável de A baleia não é o mesmo daquele escatológico de Triângulo da tristeza (2022), do sueco Ruben Östlund, embora os dois filmes possam em alguns momentos tocar-se.
Preso em sua teatralidade, A baleia tem o estilo agressivo de filmar de Aronofsky para tentar contrabalançar suas retrações formais. Graças também aos bons atores diante das câmaras (além de Fraser, destaques para Sadie Sink como a jovem Ellie, Hong Chau como a cuidadora Liz e Samantha Morton como a ex-eposa Mary), A baleia não chega a aborrecer. Mas traz sempre esta sensação de um filme de Aronofsky: fica no meio do caminho.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br