Rubens & Eu
Guardo especial lembran?a todas as vezes que ele me aconselhava
Gratidão. Nada mais justo do que começar este texto expressando minha gratidão ao maior crítico de cinema que este país já teve, e que dia 7 de março deste ano faria aniversário: Meu mentor, meu amigo, o saudoso Rubens Ewald Filho. Tive o prazer de trabalhar ao seu lado, e ainda mais do que isso, de aprender com ele.
Eu devia ter uns 13 anos quando conheci Rubens assistindo pela Tv Cultura o programa “Isto é Hollywood”, mostrando os bastidores do cinema hollywoodiano. Para quem foi criado como eu, de frente para a Tv, consumindo filmes, Rubens acentuou minha curiosidade em descobrir as histórias que existem por trás dos filmes que eu gostava de ver. A magia do cinema tinha um truque para se fazer valer, histórias humanas por trás de todo o glamour. Fiquei fascinado e comecei a ler tudo que podia sobre filmes. Rubens, visivelmente apaixonado pela sétima arte, foi o primeiro crítico a ganhar extensa popularidade aparecendo no Jornal Hoje para acompanhar os lançamentos no circuito comercial, e desde 1983, ou talvez fosse 1984, de fato não lembro com exatidão, comentando a cerimônia de entrega do Oscar, inicialmente pela Globo, mais tarde pelo SBT, HBO até chegar na TNT. O que lembro com exatidão era levar bronca de minha mãe para que eu dormisse cedo, pois tinha escola no dia seguinte. A cerimônia de entrega do Oscar sempre foi tarde, e a cada ano irresistível para mim, graças ao Rubens que sempre destilou uma enciclopédia de nomes de atores, diretores e títulos, entre indicados e vencedores, sempre impressionante.
Fiquei admirado com a história do caderninho que o Rubens trazia com a lista de todos os filmes que assistira, com nota, e decidi fazer o mesmo. Primeiro, recortando as resenhas do jornal e fazendo um álbum, depois escrevendo a mão o que copiava das publicações especializadas. A aproximação de meu ídolo aconteceu graças à popularização da internet nos anos 90. Pesquisando, com a minha velha conexão discada, consegui achar um site para o qual Rubens escrevia, não lembro o nome. Enviei um e-mail para ele (na época eu usava o ig), me identificando e comecei a trocar mensagens com ele sobre filmes, descobrindo que compartilhávamos da admiração por Christopher Lee. Em meio a nossas conversas descobri também que ele gostava muito do filme “Todos os Irmãos Eram Valentes” de 1953 com Robert Taylor e Stewart Granger. Sua paixão era pela atriz Debbie Reynolds, que estrelou o clássico “Cantando na Chuva”. Mas em nossas conversas falávamos também de Gloria Grahame, Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Esther Williams, e lembro uma vez que ele ficou impressionado comigo quando eu disse conhecer a atriz Carol Wayne, desconhecida do público em geral.
Com o tempo, em nossos e-mails, passamos a falar de outros assuntos, inclusive de cunho mais pessoal. Guardo especial lembrança todas as vezes que ele me aconselhava, Rubens já fazia parte de minha família a cada vez que minha filha, que fazia ballet, se apresentava e ele sempre mandava uma mensagem positiva para ela.
A partir de 2011 passei a colaborar escrevendo para ele. Na época Rubens escrevia para o R7 e a grande popularização dos filmes de super heróis me levou a perguntar se eu poderia colaborar com ele escrevendo do assunto pois, sendo colecionador de hqs (Tenho mais de 2500 hqs), eu poderia ser de alguma ajuda. De lá para cá, Rubens foi me ensinando a arte da crítica, me guiou, aprovou e reprovou sempre me preparando para os vôos que eu queria fazer dentro da crítica cinematográfica. Logo, não apenas filmes de super heróis, mas outros gêneros abriram a oportunidade para que eu ficasse como seu assistente colaborador. E Rubens SEMPRE me creditou em todas as vezes em que eu tive a honra de ver meu nome junto do dele.
Ao seu lado publiquei no R7, no jornal A tribuna, no site dvdmagazine (do amigo Edinho Pasquale) e provando a máxima chinesa que diz que a viagem é que ilumina, e não a chegada, me sinto hoje iluminado por essa experiência adquirida, por todos os puxões de orelha (sim houveram vários), e de toda a confiança que ele depositou em mim. Nunca esquecerei a figura amiga, fraterna e até mesmo paterna assim ouso dizer.
Ele que representou tanto para tantos, sabia que quero seguir seus passos. Só espero estar à altura da dignidade que ele trouxe para o jornalismo, para a crítica cinematográfica, e sobretudo para minha vida. Obrigado Rubens.
"Para pensar quase sozinho, um amigo em geral pode ajudar.. mas critica onde? Não temos ninguém mais hoje no brsail, e muito menos no exterior.. ainda assim.acho que no seu caso voce deve escrever para seu próprio prazer. Se gostar da Mumia defenda ela.. ou acabe com ela se achar errado.. começaste como pesquisador mas va evoluindo como critico ..E que seja dos melhores.. Abços" (REF)
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com