RESENHA: Alemão (2014)
Crítica de Rubens Ewald Filho sobre este bom filme nacional, que pode surpreender!
Alemão. Brasil, 14. Direção de Jose Eduardo Belmonte. Roteiro de Gabriel Martins e Leonardo Levis. Com Antonio Fagundes, Caio Blat, Cauã Raymond, Gabriel Braga Nunes, Milhem Cortaz, Otavio Muller, Mariana Nunes, Marcelo Mello Jr.
Não consigo entender como dão títulos tão pouco atraentes a filmes nacionais. Como foi o caso daquele bom filme “Hoje” (“Hoje esta passando Hoje”, imagina o anúncio! Não dá certo né?). A mesma coisa aqui. O carioca tem a tendência de achar que é o centro do mundo porque o Rio é a capital do Império, mas nem todo mundo sabe o que é o Alemão, não a pessoa, nem a nacionalidade, mas o complexo da região da favela carioca que foi “dita” pacificada há algum tempo atrás.
Não é baseado em fato real, mas uma história imaginada naqueles momentos vésperas da provável invasão da polícia no que poderia vir a ser a queda do traficante que domina o local (chamado de Playboy, papel feito por Cauã Reymond, que deve ter aceitado a participação por causa da fala final, que é poética digna de filmes de faroeste de John Ford!). Mas tudo sucede por obra do acaso. Um mensageiro de moto foge para não cair nas mãos do tráfico e deixa caída uma pasta onde estão as fichas dos policiais que se infiltraram no morro para descobrir a geografia do lugar. De repente todos eles são vulneráveis e estão sendo caçados e devem ser mortos (um deles para complicar é apaixonado por uma jovem, irmã do tenente do Playboy). E todos os policiais vão se encontrar numa pizzaria que até então não provocava suspeitas (o dono é Otavio Muller). Tem o bom moço Caio Blat, o bonitão Gabriel Nunes (que tem o personagem menos desenvolvido), o violento e pouco inteligente Milhem Cortaz. Enquanto na cidade Antonio Fagundes faz o chefe da polícia, entre duas cruzes, tenta salvar os colegas (há uma surpresa também que só será revelada quase ao final) enquanto o governador (apoiado até pelo Lula que se ouve em off) está se encaminhando para a tomada da região.
Toda a história é contada com muito suspense, humanizando os policiais (o que costume incomodar nossos críticos), sem, porém, fazer a denuncia dos políticos com a mesma franqueza usada em Tropa de Elite (o que acaba sendo o ponto fraco do filme já que o público esta mal acostumado). Também não sei a Imprensa ira embarcar na historia dramática e triste, mas me envolvi com a história, com os atores (o elenco esta muito bem mas eu gostei particularmente de Caio Blat, que está na medida certa) e na situação “beco sem saída”. Claro que é mais um filme de favela, mas desta vez usando um artifício que é uma situação de filme de guerra ou de suspense só que fazendo isso suceder num outro momento, que é real. É surpreendente o trabalho do diretor Belmonte (ainda mais vindo de outro filme que é melhor esquecer, Billi Pig). Demonstra sua constante e crescente evolução.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.