Com Amor, Van Gogh
O carteiro Joseph Roulin encarrega seu filho mais velho, Armand, de levar uma carta do pintor Vincent Van Gogh (voz de Robert Gulaczyk) ao irmão, Theo Van Gogh. O ano é 1891, e o rapaz viaja à França em busca dele, cruzando com uma série de pessoas que tiveram alguma relação com o artista plástico, que havia morrido de forma misteriosa um ano antes
Com Amor, Van Gogh (Loving Vincent). Polônia/ EUA/ Reino Unido/ Suíça/ Holanda, 2017, 95 min. Animação. Colorido/ Preto-e-branco. Dirigido por Dorota Kobiela e Hugh Welchman. Distribuição: Focus Filmes
Uma animação grandiosa indicada ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao Bafta na categoria (infelizmente perdeu todos), sendo o primeiro filme da história do cinema totalmente pintado a mão, quadro a quadro, com tinta, resultando numa técnica impecável que reconstitui as cores vibrantes e pinceladas fortes do renomado artista plástico holandês Vincent Van Gogh. É tão rico em detalhes que demorou seis anos para ser produzido, com um custo de cinco milhões de euros, bem caro para uma animação europeia. Os atores foram filmados, e depois cada fotograma foi pintado, num total de 65 mil quadros, por uma equipe de 100 artistas plásticos selecionados num concurso, que tiveram a liberdade de utilizar como base 120 obras de Van Gogh. Além das cores vibrantes, a animação mistura um preto-e-branco puxado para o cinza nos momentos de flashback, de bastante destaque, vale lembrar.
Em formato de documentário com um quê investigativo, a intrínseca história é narrada pelo protagonista Armand Roulin (que realmente existiu, aliás, tudo no filme é baseado em fatos comprovados), filho de um carteiro incumbido de levar a última carta do pintor para o irmão, na França. Armand segue a viagem para Auvers-sure-Oise, vilarejo no norte do país, onde Van Gogh morreu um ano antes, e lá ele descobre que o irmão, Theo, também morrera pouco tempo atrás. Circulando por bares e ruelas, tromba com vários moradores que tiveram algum contato com o pintor. Estes narram diversas passagens para ele, enquanto tenta descobrir as causas da morte de Vincent. Inclusive nas andanças encontra versões não-oficiais sobre a morte do pintor, e passa a investigar o caso - Van Gogh faleceu de maneira trágica, ferido a bala, alguns falavam em suicídio, num fato ainda sem explicações.
Nesse filme cult, um pouco lento para o público comum, somos aproximados de um perfil autêntico do pintor, entregue à bebida, que sofria depressão, possivelmente tinha esquizofrenia, e num dos surtos cortou a própria orelha. Morreu pobre, às mínguas, sua obra ficou conhecido pós-morte. É inegável seu talento, que influenciou gerações de pintores, é considerado um dos maiores artistas modernos e o principal represente da Holanda nas artes plásticas.
“Com amor, Van Gogh” é visionário, uma obra de arte dificilíssima de ser feita, poética e instigante, com participação de atores como Chris O'Dowd, Douglas Booth e Saoirse Ronan (os vemos “sob” a tinta, mas reconhecemos seus traços e a voz). Assemelha-se à técnica das duas animações de Richard Linklater, “Waking life” (2001) e “O homem duplo” (2006), porém estes eram no processo de rotoscopia, onde artistas gráficos redesenham os quadros filmados, que não envolve tinta direta e é mais comum no cinema.
Palmas para a diretora Dorota Kobiela e para o diretor Hugh Welchman, ganhador do Oscar pelo impressionante curta “Pedro e o lobo” (2006), que possuía uma técnica bem parecida de pintura por cima do quadro.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com