RESENHA CRTICA: O Boto de Prola (El Boton de Nacar)

Mesmo conhecendo a reputao do documentarista chileno mais famoso de sua gerao, Patrcio Guzman, fiquei muito impressionado e emocionado com este seu mais recente trabalho

30/05/2016 01:41 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA: O Botão de Pérola (El Boton de Nacar)

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O Botão de Pérola (El Boton de Nacar)

Chile, 15. 82 min. Direção de Patrício Guzman.

Mesmo conhecendo a reputação do documentarista chileno mais famoso de sua geração, Patrício Guzman, célebre por sua trilogia sobre Allende (Batalha do Chile) e o mais recente, Nostalgia do Luz (10), ainda assim fiquei muito impressionado e emocionado com este seu mais recente trabalho (em cartaz no cine SESC de São Paulo em apenas uma sessão diária as 19h30), vencedor do Prêmio Ecumênico e Urso de Prata do Festival de Berlim (além de outros prêmios como o Lumière Francês, Festival de Jerusalem, Fênix, Lamagata, Philadelphia etc.).

Sem renegar sua missão de denunciar a tragédia que foi o assassinato no Chile de todos os possíveis seguidores de Allende (militares na Ilha Dawson, uma comovente cena dos sobreviventes numa mesma sala e principalmente a tática semelhante dos argentinos de jogar os corpos dos prisioneiros/torturados no oceano ancorados a trilhos) ele vai mais adiante e conta sua história até autobiográfica de outra tragédia chilena menos conhecida, o desprezo que o pais dedicou a sua costa oceânica e pior ainda, já que ao menos eu não sabia, a frieza com os colonizadores mataram e liquidaram os nativos índios, que foram dizimados com total frieza pelos homens do governo, de tal forma que hoje existem muito poucos, conservando sua língua original.

O filme é basicamente uma homenagem muito poética e delicada a essa civilização que esta morrendo que acaba tendo em comum o mesmo oceano que serviu para encobrir os mortos da ditadura militar (recentemente o governo atual ordenou que tentassem recuperar os corpos e o máximo que conseguiram foram alguns dos trilhos carregados de dejetos marinhos e um único sinal de humanidade, justamente o que dá o titulo ao final em espanhol, um botão de Pérola).

Mas não quero dar a impressão de que ficam repetindo a mesma ladainha ainda que importante, mas já é uma conhecida litania. O filme se propõe a contar a própria história do Universo, do oceano, de toda a Humanidade. Também dessa água que contém todas as vozes e música da Terra, da água que veio para a Terra das distantes estrelas e que se espalharam por todo o planeta. Ouvindo poetas, pesquisadores, mostrando o sonho dos nativos em alcançar as estrelas, relembrando uma história real de um nativo que foi mandado para a Europa e perdeu sua identidade, Guzman constrói mais que uma denúncia ou um apelo à sobrevivência de um país de algozes que tanto sabem matar os revolucionários quanto ignorar a costa marítima a quem renega as riquezas (e olha que nem sequer menciona o conflito ainda existente com seu vizinho argentino por essas terras geladas).

Não sinto que neste texto curto eu esteja fazendo justiça a um filme que tanto admirei e a um cineasta que infelizmente não conheço tão profundamente quanto desejaria. Mas sem duvida confirma minha admiração cada vez maior aos que batalham com o tão admirável gênero documental.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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