Muitos Homens Num S
O filme surpreendente e me pareceu uma raridade no cinema nacional


Muitos Homens Num Só
Brasil, 2014. 90 min. Direção de Mini Kerti. Com Vladimir Brichta, Alice Braga, Caio Blat, Pedro Bricio, Silvio Guidane. Música de Dado Villa Lobos.
O público tem ignorado vários filmes brasileiros premiados em festivais , ou seja, de qualidade, o que tem provocado compreensível apreensão na nossa ainda em formação indústria de cinema. Será possível que só comédias são aceitas e assim mesmo nem todas? Ou será a crise que se manifesta também nas salas de cinema, que tem o preço alto (30 reais é pesado hoje em dia). Duvido que seja reação ao desamor e desencantado com tudo que é brasileiro.
De qualquer forma, tem sido uma injustiça que pode acontecer de novo com esta produção da Conspiração que há mais de um ano atrás foi profusamente premiada no Festival do Recife, com o Troféu Calunga. Ganhou o premio do Júri Popular, além dos de filme, direção (Mini Kerti, que é nome de mulher caso alguém tenha dúvida), ator (Vladimir), atriz (Alice), coadjuvante (Bricio), roteiro (Leandro Assis), direção de arte (Kiti Duarte), musica (Dado), edição de som (Thomas Alen).
O filme é inspirado em fatos reais e registrado em diversos livros do famoso João do Rio, pseudônimo do escritor e jornalista Paulo Barreto (1881-1921), e em especial em Memórias de um Rato de Hotel (12), que retrata uma figura do inicio do século 20, Artur Antunes Maciel, um ladrão inteligente e elegante e sedutor, gaúcho, de família rica, que morava no Rio e se hospedava nos melhores hotéis da cidade para roubar. No filme, ele se apresenta como Dr. Antonio e tem um romance proibido com Eva (Alice), desenhista casada com um homem rico (Bricio) mas egoísta e desatento com sua mulher. Felix Pacheco (Blat) que é diretor do recém inaugurado gabinete de identificação - e que esta agora lidando com modernidades, com digitais! - decide caçar este rato de hotel.
Realizado com muito cuidado, bela produção, locações luxuosas, elenco eficiente, certamente lembrando mais os filmes europeus do gênero “ladrão galante”, o filme é surpreendente e me pareceu uma raridade no cinema nacional.


Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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