Jauja (idem)
Um filme inacreditavelmente longo, monótono, não aceitável nem como experimental


Jauja (Idem)
Argentina, 14. 109 min. Direção de Lisandro Alonso. Com Viggo Mortensen, Ghita Narby, Villbjork Mallin Agger, Esteban Bigliardi, Diego Roman, Adrian Fondari.
Apesar de ter sido premiado na Semana da Crítica de Cannes, este drama argentino também ganhou fotografia em Huelva e menção especial em Ghent. O que só vem demonstrar nossa velha teoria de que crítico adora um filme chato e tem vergonha de dizer que alguns deles simplesmente não tem pé nem cabeça, são incompreensíveis e pretensiosos, com intenções ditas artísticas.
Este é daqueles que aconteceu isso (ao menos todas as críticas estrangeiras que li se derramam em elogios louvando a fotografia (que na verdade é banal, hoje quando filme graças a tecnologia moderna faz até melhor, embora insistam em usar o tamanho, quero dizer a proporção antiga do cinema, dos anos cinquenta, um por três mais ou menos. O que não muda nada). E louvando o final sem explicação como poético ou sei lá o que mais.
Acho que o único fato realmente curioso do filme é o envolvimento nele do ator de Senhor dos Anéis, Viggo Mortensen, que tem uma história de vida curiosa. Nasceu em Nova York, de pai dinamarquês e mãe americana, mas o avô por parte de mãe era canadense. Seus pais se encontraram na Noruega, onde se casaram. Mas depois do nascimento de Viggo Jr. se mudaram para a America do Sul, onde o pai administrou criações de galhinhas e ranchos na Venezuela e Argentina. Quando Viggo tinha sete anos, os pais o mandaram para um colégio interno, isolada nas montanhas e se divorciaram quando ele tinha 11 anos. Assim ele foi com a mãe e irmãos para Nova York e isso explica porque fala espanhol (melhor do que o filme faz parecer) e gosta de participar de filmes locais (em 2012, fez o fraco suspense policial Todos Tenemos um Plan e neste aqui ajudou no roteiro e na concepção do filme). Aliás é bom lembrar que o diretor é especialista em filmes onde se fala muito pouco e se explica menos. Também na recente visita ao Brasil se mostrou difícil e de poucos amigos.
Mas o que dizer de um filme chamado Jauja e que se pinta de filme de arte. Segundo um letreiro no começo, Jauja seria uma terra mitológica repleta de abundância e felicidade. Mas logo se vê que não tem nada a ver com a história que parecem estar contando, e na verdade é preciso ler algum fonte para se entender o mais interessante. Que a ação se passa no século 19 na Patagônia quando o governo estava em plena guerra de extermínio dos nativos (era melhor ter feito um filme sobre essa tema tão pouco conhecido!). Lá esta um capitão dinamarquês que recebeu convite para posto de engenheiro na força armada argentina, mas uns poucos soldados (o filme é muito parco em elenco) estão é interessados na filha dele, que é uma loirinha bonitinha mas assanhada, porque logo depois ela apressadamente foge com um soldado com cara de imbecil que por sinal logo aparece ferido (o capitão completa o serviço). E continua atrás da filha, andando pelas pedras (é perto do mar) e entrando numa espécie de gruta onde surge uma velha misteriosa que fala umas coisas que não ajudam a decifrar nada... Logo depois a menina aparece no tempo atual, numa mansão com cachorros (antes a mocinha havia dito que queria um cão que a seguisse sempre!). Ela joga uma pedra numa lagoa e pronto.
É uma perda de tempo tentar entender porque não é fornecido qualquer outra informação para salvar este filme inacreditavelmente longo, monótono, não aceitável nem como experimental.


Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

últimas matérias




