Interestelar

Tudo pode parecer ficção, no entanto, não é

12/11/2014 13:25 Por Germano Pereira
Interestelar

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Na época de Kubrick 2001 Uma Odisséia no Espaço não poderia se retratar as questões do filme Interestelar de Nolan, a não ser através da imaginação artística.

Estamos vivendo uma geração de especialistas que deram grandes avanços científicos no que diz respeito à física e mecânica quântica. Elas deixaram de ser ficção para se tornarem possíveis da humanidade no nosso futuro. Eis alguns fatos práticos que já se aplicam hoje em dia devido a essa nova ciência: nanotecnologia, biogenética, computadores quânticos, novos combustíveis com uma energia nunca imaginados, novas matérias primas e coligações químicas.

Tudo pode parecer ficção, no entanto, não é.

Vamos lá a algumas questões de extrema importância do filme, e que para o público do cinema ou da crítica pode parecer um pouco “não comercial” ou fantasioso. Ressalto esse tumulto de interpretação com base nas críticas negativas ao filme que ora não entendem nada ora simplesmente acham que são escolhas delirantes, reduzindo-o a algo que não expressa suas questões fundamentais, e apenas delata Nolan como plagiador fracassado de Kubrick e Tarkovisky.

Em relação a 2001 de Kubrick: O foco desse filme é na questão da inteligência artificial, criada pelo homem ou outro ser superior que mais a frente o dominará. O embate entre criador e criatura (a máquina) está em voga.

Já em Interestelar a máquina está tão avançada (caminha junto) que pode nos ajudar a buscar outros territórios além do nosso. Não existe aquele embate entre criador e criatura, e sim o homem que mata o homem e o próprio planeta.  

Não temos nenhum plágio nisso. São histórias e intenções diferentes, porém num mesmo “espaço”, tal qual é Rambo e Apocalipse Now em relação à “guerra”. Por favor, sem comparações desses filmes com os acima. Estou apenas  coligando as questões de similaridade. Filme romântico é filme romântico... Mas será que todos têm a “mesma história” apenas por percorrerem o território do romantismo? Estão plagiando? Não. Fizeram apenas um reducionismo pueril e imediato, sem a devida análise. Nolan sim usou o portal do buraco negro que existe no Universo como Kubrick o fizera, porém em outro sentido, e a meu ver muito melhor, pois mais próximo da realidade (disseco abaixo), mas apressadinhos de plantão falaram que ele quer imitar (ser) Kubrick. E por aí vai.

Não podemos tampouco pensar que a passagem pelo buraco negro em ambos os filmes seja idêntica.

Eis as grandes diferenças instigantes nos dois casos.

Em Kubrick como ainda não se sabia pela ciência o personagem adentra a memória dele próprio, num espetáculo pirotécnico de efeitos especiais e depois em suas reminiscências, conseqüentemente retornando para um chamado do Super-homem interno, o renascido, como diria Nietzsche.

Em Interestelar, algo mais próximo da realidade, pelo menos no quesito físico, as imagens se aproximam de uma deformação do espaço-tempo. Essa deformação geraria a possibilidade de uma quinta dimensão, quem sabe outras oito.

Matematicamente já se comprova essas outras dimensões e a antimatéria. Isto é, o negativo de tudo que existe estaria em outra grandeza que não este Universo observável. E a questão do tempo, espaço, gravidade imperariam apenas em nossa dimensão, não nesse(s) outro(s). Portanto, outra física rege esse outro espaço, e, principalmente, a comunicação se daria melhor de lá pra cá, do que o inverso. Tal qual a visão do buraco negro.

Um exemplo para se entender essa questão complexa.

Imaginem seres bidimensionais que vivem em uma folha de papel. Esse seria o mundo deles. Assim como seria a dificuldade enorme desses seres bidimensionais acreditarem em nós que somos tridimensionais, será a nossa barreira mental em acreditarmos em outros seres que estão na quinta dimensão.

Porém nós da terceira dimensão descobrimos a ferramenta da matemática avançada e da física quântica, que sonda um território por enquanto não trafegável, embora  perscrutável, possível, latente.

Portanto, a quinta dimensão, acreditam os cientistas, transita por entre nós mesmos, (além de todas as outras), assim como a antimatéria (em sua ausência) fundamenta a matéria.

Lá no buraco negro, esse deformador espacial, reside toda a salvação.

Muito diferente do wormhole, minhocão, que é um atalho geográfico no espaço que encurta as distâncias do Universo.

O filme explica bem, embora seja simplista.  Gostaria de falar um pouco mais, pois como antigamente os homens acreditavam que a Terra era quadrada, hoje muitas pessoas acreditam que o Universo tenha a forma de que se vê pelos nossos olhos ou telescópios.

Vivemos num Pluriverso mais do que num Universo, e eles se deformam e se coligam. A própria espacialidade do Universo é toda disforme, e ao invés de se percorrer, por exemplo, a extensão de toda a ferradura, o wormhole nos mostra os dois pontos mais próximos de suas extremidades.

Essa é apenas uma característica da matéria, posso relatar outras, e que sempre me quebraram a cuca...

Já se sabe que existem partículas de matéria no Universo que se girar 360 graus em seu próprio eixo não se chega ao mesmo ponto. Ora, se pegarmos uma moeda e girarmos 360 graus veremos o mesmo lado ou ponto de antes. No entanto, matérias quânticas e espaciais quando giradas 720 graus chegam ao mesmo ponto. Outras girando apenas 30 graus estão nesse ponto. Ed infinitum!

Agora imaginem essas figuras geométricas com a nossa mente 3D.

Não é possível.

Porém através da matemática e da física quântica é possível comprová-las.

Nolan toma a liberdade de quando o personagem chega à quinta dimensão, depois de adentrar um buraco negro, dominar a questão desfragmentada do Tempo.

Isso não é sabido. É uma liberdade artística, embora seja uma possibilidade, dentre milhões de outras. Não sabemos ainda o que acontecerá depois que atravessarmos, apenas no caminho da passagem, fisicamente falando. Por exemplo, um corpo físico se alongaria adentrando-o por causa da deformação espacial e temporal. E isso é retratado bem no filme.

O que se sabe é que o buraco negro tem uma energia gravitacional tão forte, mas tão forte que nem a luz consegue sair de dentro dele. Ou seja, quem está do lado de dentro vê a luz, mas quem está do lado de fora vê a ausência de luz, pois ela não consegue sair. Essa energia poderosa que deforma o espaço e abre um portal se dá na fusão nuclear. A fusão nuclear acontece constantemente em uma estrela, como o nosso Sol, mas não tão poderoso para deformar o espaço. É necessária a energia comparada da explosão de inúmeras estrelas para deformar o espaço. Isso acontece nos quasares.

Agora pensem o seguinte... Nossa galáxia tem um Buraco Negro no centro que está puxando todos para esse outro lugar...

Imaginem um ralo de pia. O ralo é o buraco negro, e toda a água a galáxia, ou seja, toda a galáxia adentra o ralo que encaminha por canos até a fossa. Os canos são a passagem para o novo mundo desconhecido. A fossa, portanto, seria o outro universo. No entanto, as tubulações da fossa não param por aí. O Big Bang, dizem agora os cientistas é a explosão de outro Universo supra lotado.  Isto é, uma fossa lotada que teve que escoar para fora formando um novo rio. Outro(s) universo(s) surge assim, quando um buraco negro está tão lotado de matéria e antimatéria, embora não se veja nada do lado de cá, que explode em um Big Bang, espirrando matéria (e vida) em forma de um balão explodindo e expandindo, gerando o próprio espaço/tempo (além de trilhões de componentes) que durarão milhões de bilhões de anos.

O filme transita por essas questões, além da relatividade do tempo nesses outros mundos. O que é uma hora aqui são sete anos acolá. Isso é justificável pela teoria da relatividade de Einstein de se chegar próximo a velocidade da luz com as questões dos multiversos.  

O ponto de partida do filme surge “na falta que enfrentamos no planeta” e que relato abaixo. Tampouco é ficção.

Tudo parte da escassez dos recursos deste planeta em que vivemos. E aqui reside um dilema matemático de falta dos recursos que nos suprem, pois não podemos fechar os olhos para o “Boom” populacional das próximas décadas versus o declínio exponencial da escassez. Estatísticas prevêem uma média de 9 bilhões de pessoas até 2050.  Acaso não resolvamos os problemas de emissão de CO2 até 2100, eliminando por completo a emissão desse gás, aumentaremos a temperatura da Terra em 4,8 graus Celsius. Uma verdadeira bomba relógio. É questão de pouco tempo para destruirmos por completo nosso planeta através dos diversos tipos de poluição que interferem em todo o sistema harmônico da natureza. E, se acaso não destruamos esse planeta e consigamos agir de modo sábio hoje e no futuro, naturalmente o planeta se extinguirá por causa do aumento do volume de nossa estrela mãe, o Sol.  Num procedimento de expansão-implosão que os físicos denominam como o processo da morte de uma estrela. Restam milhões de anos para isso acontecer ainda. Claro que os recursos naturais irão acabar antes que o Sol nos destrua. Não se enganem, pois ele não será o vilão da história, mas nós mesmos vestiremos esse personagem. Somos o Judas de nós mesmos.

Portanto, tudo nos leva para o mesmo caminho, outros planetas para habitarmos. Questão de tempo.

Essas questões não são somente do filme, mas pressões atuais que cientistas têm atualmente para desenvolver. Não por acaso, instituições recebem bilhões e bilhões de dólares de investimentos todos os anos. Essas imensas verbas servem para resolverem questões de nosso planeta. Todos conhecem a famosa palavra da vez: Sustentabilidade! Mas essas imensas quantias em dinheiro são direcionadas também para (NASA e afins) para um dia colonizarmos outros mundos habitáveis. Isso nada mais é do que o incentivo à “Sustentabilidade Espacial Intergaláctica”.

Outra palavra que está em voga dentro de nossa crise existencial enquanto humanidade é a: Economia. Em contraponto a Economia da Libido (Sexual) de Freud. Não à toa que o filme coloca a falta de recursos de investimentos em novas tecnologias e o incentivo à produção de alimentos para sobrevivência. Um engenheiro é menos importante do que um fazendeiro. Wow! Gostei dessa “trans-valoração de valores”. Nela está embutida a questão da alta-tecnologia inútil, por onde caminham muitos mercados de celulares iphones 4,4s,5,6 ou bolsas da Louis Vuitton. São meros exemplos, porém pensem no todo do capitalismo inútil e que serve apenas como ilusão do desejo consumidor alienado.

Ao mesmo tempo, vemos uma NASA “clandestina”, que age pelas beiradas para salvar a humanidade ou pelo menos fazer com que a nossa espécie não se extinga em outros mundos.  Já que este está comprometido pela falta de recursos num ambiente incontrolável e revolto.    

O filme percorre esse viés. Ele teve uma pesquisa de sete anos, assessorada por um cientista gabaritado que encabeça a co-produção do longa-metragem de duas horas e quarenta minutos. A meu ver um trabalho imenso e comprometido com questões muito sérias e reais. Digno de nota, já que são erupções inquietantes não somente de um futuro próximo, mas como do aqui e agora.

Boa viagem. Vai quem quer, fica quem não quer... O tempo urge... Arde... Queima... Como uma bola de Sol incandescente... Morrendo... Esfriando... Deformando... Se tornando buraco negro... Novas vidas... Novos paradigmas fulgurantes...

Mais uma vez tripulante, tenha cuidado, e... Boa viagem.

(Por Germano Pereira)

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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