A Casa Que Jack Construiu

O engenheiro Jackeh na realidade um serial killer que ataca mulheres e sofre de TOC. Ele tem um metodo proprio: apos assassinar as vitimas, guarda seus corpos em um frigorifico desativado para um projeto futuro

20/07/2021 02:23 Por Felipe Brida
A Casa Que Jack Construiu

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A Casa Que Jack Construiu (The house that Jack built). Dinamarca/Suécia/França, 2018, 153 minutos. Drama/Horror. Colorido. Dirigido por Lars Von Trier. Distribuição: Versátil  

Causou indignação com direito a vaias no Festival de Cannes em 2018 o filme mais perverso e polêmico do cineasta dinamarquês Lars von Trier, o mesmo de “Dançando no escuro” (2000), “Dogville” (2003), “Melancolia” (2011) e “Ninfomaníaca – partes 1 e 2” (2013). E é o seu segundo longa na linha de terror psicológico, depois do também controverso “Anticristo” (2009). Na exibição em Cannes, parte da plateia abandonou a sessão, reclamando da violência explícita (exatamente numa das cenas mais chocantes, a caçada em que o protagonista mata crianças com um rifle). O diretor fez esse seu projeto ultrapessoal em resposta às acusações sofridas no festival, de que ele era misógino e nazista. A vingança veio dura, numa fita de arte perturbadora, macabra, indigesta e para público restrito. 

Matt Dillon está maduro e super bem no papel difícil do serial killer Jack, um engenheiro que mata mulheres de inúmeras maneiras. O psicopata narra todos seus crimes em cinco capítulos (chamados de “incidentes”) para um interlocutor de nome Virgílio (papel de Bruno Ganz, num de seus últimos trabalhos - ele morreria em 2019 aos 77 anos). Virgílio faz referência ao maior poeta romano, autor de ‘Eneida’, que passa a ouvir as falas e evocações do protagonista, chega a dar conselhos e tramar com ele - Virgílio também teria outras simbologias, como o diabo e até a própria mente de Jack em suas indagações. 

Virgílio (com uma voz gutural de amedrontar) e Jack filosofam acerca de obras-primas da História da Arte, falam de momentos históricos (como o Nazismo), onde se discute a grandiosidade e a beleza da arquitetura e das pinturas, e num dado momento até há uma menção ao próprio cinema de Trier, com cenas de seus filmes. E numa belíssima sequência alegórica em slow-motion eles imitam ‘A divina comédia, de Dante Alighieri, navegando numa barca quando visitam o inferno. 

Enquanto a conversa se desenrola com Virgílio, Jack comete crimes bárbaros, tortura as vítimas, esconde seus corpos em um frigorífico desativado, e até registra fotos dos mortos. Só que ele não é um assassino comum: ele tem TOC, precisa voltar à cena do crime várias vezes para checar se ficou tudo limpo, se nada vai incriminá-lo. E tudo prepara Jack para um objetivo maior: um projeto de engenharia referente à construção de uma casa com materiais únicos (e no desfecho você ficará aturdido com a escolha dele). 

Com um humor macabro que chega a ser agressivo, o filme descontrói paradigmas e cria situações incômodas para exibir com sordidez a mente de um psicopata e fazer uma analogia à banalidade da violência no mundo contemporâneo. 

Repito que é um filme para poucos, tachado até de doentio, com cenas de mortes brutais (em uma delas ele mutila o seio de uma mulher). Longo em seus 154 minutos e complexo, traz rápidas participações de atores e atrizes em momentos marcantes, como Uma Thurman, Riley Keough, Siobhan Fallon Hogan, David Bailie e Jeremy Davies. 

Novamente colabora no roteiro com Trier Jenle Hallund, que haviam feito “Melancolia” e “Ninfomaníaca – volume 1”. 

A pedido dos colecionadores, a Versátil lançou o filme em bluray em parceria com a California Filmes; acaba de sair no Brasil em edição especial em disco duplo, contendo, além do filme em BD, um disco em DBD com duas horas de extras, com dois cards, pôster e livreto. 

 

 

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Sobre o Colunista:

Felipe Brida

Felipe Brida

Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com

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