As Facilidades Americanas
Em O Reencontro os amigos que se reencontram para o funeral de um deles que se suicidou
Amado em sua época e ainda hoje por um público que teve facilidade de identificar-se com os traumas geracionais das personagens dentro da cena, O reencontro (The big chill;1983) é um melodrama que busca um modelo de sensibilidade média padronizada pelo cinema americano do início dos anos 80; superficial e desabusado, o filme realizado por Lawrence Kasdan não exige muito de seu espectador porque abdica de propor um mergulho na complexidade de suas criaturas, prefere o fácil e o rasteiro em sua visão do conflito geracional.
Sabemos que O reencontro adota sem pestanejar o modelo de Hollywood. Mas que modelo é este? Haverá mesmo este modelo? Ou é um clichê crítico? Clint Eastwood, na pele de John Wilson, um fac-símile do diretor de cinema John Huston, em Coração de caçador (1990), dirigido pelo próprio Eastwood, usa de sarcasmo para criticar aqueles que passaram a usar o vocábulo Hollywood como uma ofensa; ali Clint/John lembra que Hollywood é somente um lugar onde se fabricam coisas, no caso filmes. Sim: Hollywood é um lugar. Mas é também um modo de produção de filmes, uma visão de mundo e contém peculiares artifícios de encenação. São estes artifícios que Kasdan adota sem muito barulho em O reencontro. Vai facilmente ao modelo. Este modelo também está na base estrutural do que faz outro realizador americano, Arthur Penn, em Amigos para sempre (1982), também um drama geracional contada com as armas habituais no cinema majoritário da época; a diferença: Penn tem mais agudeza e, mesmo sem descaracterizá-lo, transcende seu modelo. Kasdan, não: está o tempo todo no espelho, para seguir passo a passo todas as instruções.
Em O reencontro os amigos que se reencontram para o funeral de um deles que se suicidou, buscam, na pele de seus intérpretes, uma artificiosa espontaneidade diante das câmaras. Mas há trejeitos interpretativos demais, de Tom Berenger, Glenn Close, Jeff Goldblum e, mais que todos, William Hurt. Para o espectador de hoje, devoto ou não do filme, reencontrar estas imagens é um ato nostálgico: para com as personagens e para com as ideias sobre cinema que se apresentaram naqueles anos.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br