Fences: Denzel na Broadway

Um texto que eu escrevi quando vi a peça original na Broadway, em 2009, que tem muitas curiosidades relativas ao filme que concorre ao Oscar neste ano

13/02/2017 21:39 Por Rubens Ewald Filho
Fences: Denzel na Broadway

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Sempre achei  conversa fiada esse papo de não ver peças porque estão  lotadas. Indo na porta do teatro, dificilmente se deixa de conseguir ao menos um ingresso ou dois, que sobraram. Somente num caso há muitos anos (que foi o Fantasma da Ópera) tive que voltar as quatro da tarde, para esperar a devolução das agências de venda de ingressos, ou seja o encalhe, mas o ingresso mais difícil que enfrentei foi de ver Denzel Washington, onde estava tudo lotado e só consegui no que chama de vista Parcial (num dos camarotes onde para ver a ação no canto esquerdo era preciso esticar o pescoço, mas bem que valeu até porque era a metade do preço! Com a sala lotada, e com mais metade do teatro formada por blacks (aliás os mais bem vestidos, em particular as mulheres uma delas na fila se queixava da época em que para ir ao teatro era preciso usar luvas brancas), a plateia era ótima, levava sustos, suspirava, aplaudia no meio dos desabafos e cenas de vingança. E riam muito E muito forte. Vvocês não imagem o aplauso quando apareceu em cena Denzel, acontece que ele começou em teatro e tem bastante experiência para dar uma interpretação convincente e forte, que lhe deu o Oscar do teatro, o Tony.


Deixa eu dar mais explicações. A peça se chamava Fences (Cercas) e foi escrita já ha algum tempo pelo famoso dramaturgo August Wilson, que faleceu e já virou nome de teatro na rua 52. Nunca tinha visto  uma peca dele, mas  tinha total domínio do playwriting, contava muito bem seus dramas e sua obra monumental foi  contar a história dos negros no Século Vinte, fazendo uma peça para cada década. Esta aqui corresponde aos anos cinquenta e fala de um homem casado, pai de um rapaz estudante que ele não deixa seguir carreira como jogador de beisebol (porque ele mesmo não conseguiu fazer isso, talvez por ter começado velho demais ou então por mero ciúme). Sua mulher Rose é uma santa, aceita o irmão maluco dele, um filho malandro mais velho e até um  bastardo que ira surgir. Denzel faz o protagonista, um  homem cheio de defeitos, que vive brigando com  o Diabo (que ele quer deixar do outro lado da cerca mas a peça se pergunta será que a cerca não é para não deixar alguém não escapar daquela casa?). É daquelas peças onde se fala muito, se lava a roupa e depois conclui  com um posfácio, com a ação já anos depois.


Sem dúvida pela amostragem a obra de Mr. Wilson criou realmente uma painel interessante da experiência negra americana no século.  Se o elenco é competente, a direção de Kenny Leon (A Raisin in the Sun) só tem de criativo o uso da trilha de jazz de Brandford Marsalis, estranhissimamente indicada ao Tony. E que só se ouve durante as mudanças de cena!  Quem rouba a peça é a conhecida Viola Davis, aquela mesmo que roubou o filme Dúvida, da Meryl Streep. E que tem outra cena de choro e briga fenomenal. Acho que no momento ninguém no cinema ou no palco chora tão bem quanto Viola!

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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