RESENHA CRTICA: O Shaolin do Serto
A sensao que fica que o pblico ri porque quer que o filme de certo, que o humor funcione


O Shaolin do Sertão
Brasil, 16. 100 minutos. Direção de Helder Gomes. Foi rodado nas Cidades de Quixadá e Guanacés, estado do Ceará no dia 30 de novembro de 2015 e terminou de ser filmado no dia 19 de janeiro de 2016. Carlos Diegues assina o filme como co-produtor. Elenco: Edmilson Filho, o lutador Fábio Goulart, Bruna Hamú, Dedé Santana, Marcos Vera, Fafy Siqueira, Falcão, Solange Teixeira, João Inácio jr e Frank Menezes.
Em 2012, fez muito sucesso no Nordeste a comédia Cine Holliúdy, do mesmo diretor Helder Gomes, no tom de chanchada ingênua que não conseguiu conquistar um público maior do resto do país. Mas ficou registrado como fenômeno. Na verdade, eu assisti o filme mas não quis escrever critica. Era muito mal realizado mas tinha uma vontade de acertar, achei que seria injusto detoná-lo. Na verdade, tinham falado tanto dele e caíram no exagero.
Helder tinha uma carreira expressiva como produtor, diretor, roteirista, ator. E foi como produtor em vídeo que ele começou a rodar filmes, como Sunland Heat - No Calor da Terra do Sol (04),com elenco internacional, seguido por outro em vídeo. Veja sua biografia no final do texto.
É evidente que há uma boa vontade em relação a um projeto de humor (coisa hoje tão rara até mesmo na televisão, ainda mais vindo do Nordeste de onde saíram muitos talentos). A moça que cuidava da sala de cinema foi a primeira a elogiar, afirmando que eu ia rir muito. Quase. Talvez a melhor coisa seja mesmo o humorista Edmilson Filho (veja ele no Youtube entrevistado por Jô Soares, onde mais jovem está muito engraçado). E acredito que tenha ajudado mais desta vez a presença de Carlos Diegues, como um dos produtores, já que também é nordestino e certamente o cineasta de maior competência de sua geração. Ainda assim há a velha maldição da chanchada, que veio do teatro português para o Brasil (chanchada é a expressão para designar quando alguém não acredita que entenderam sua piada ou trejeito e carrega numa careta, na repetição ou exagero. Aqui volta a suceder isso como nos antigos primórdios da Atlântida. O herói não pode levar uma única paulada na cabeça, tem que ser várias. Há um negro gordo e efeminado que fala com dificuldade, engraçado talvez, mas de gosto discutível.
E assim por diante, tudo é repetido, gritado, exagerado. Como se não confiasse na plateia. A sequência de luta então se arrasta durante o que, por volta de vinte minutos ou mais. Não aprendem que sempre menos é mais. E lá vai o coitado do herói apanhando para valer primeiro com um professor fajuto (aliás o cantor Falcão esta inesperadamente como o professor japonês). E depois no transcorrer da luta que demora uma eternidade para ter o final esperado... Isso prejudica o protagonista e quase todo o elenco (porque não aprendem com Fafy Siqueira que faz caretas e gestos para serem engraçados mas sempre na medida, deixando o espectador rir com ela e não dela!).
Apesar de tudo, com os aparentes esforços da Globo e seus parceiros, o resultado já melhorou muito dos projetos anteriores. É legal brincar com as fitas de vídeo de kung fu que tem o defeito do amassado. Mas precisa ficar repetindo sempre a mesma situação? A sensação que fica é que o público ri porque quer que o filme de certo, que o humor funcione. Já foi um grande passo adiante.
Halder Gomes (1967- ): Diretor brasileiro nascido em Fortaleza, no Ceará. Morou em Senador Pompeu até os 12 anos de idade. Começou como professor de artes marciais. Formado em Administração de Empresas, pós graduado em Marketing (ambos pela Unifor), também mestre em Taekwondo. Iniciou sua carreira no cinema em 1991 quando teve participações como duble de lutas em filmes de artes marciais em Los Angeles (depois dirigiu um filme por lá em 2004, Sunland Heat- No Calor na Terra do Sol). Por meio de contatos conseguidos nestes trabalhos, escreveu, dirigiu e atuou em seu primeiro longa-metragem, Sunland Heat, todo falado em inglês e com elenco norte-americano. No mesmo ano, finalizou o curta Cine Holiúdy - O Astista Contra o Caba do Mal, que ganhou, entre diversos prêmios, o de Melhor Filme - Júri Popular no Amazonas Film Festival. Seu último filme, lançado direto em DVD, foi chamado aqui de Cadáveres 2 em uma manobra da distribuidora para atrair mais visibilidade a ele, que não tem relação alguma com Cadáveres, de Jason Todd Ipson. É codirigido por Gerson Sanginitto, fundador da produtora Reef Pictures, onde Gomes começou a trabalhar quando foi para os Estados Unidos, tendo o curta Cine Holiúdy como bilhete de entrada. Para 2009, prepara um documentário de média metragem, Quantos "Eu te Amo", a ser lançado pela Estação Luz Filmes. Mora em Fortaleza e faz viagens frequentes a Los Angeles. Produziu em 2008, Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito (Carlos Vereza, Magno Carvalho) de Glauber Filho e Joe Pimentel e dirigiu no mesmo filão As Mães de Chico Xavier. Fez grande sucesso no circuito nordestino com a comédia Cine Holliday, promovido como “O Cinema Paradiso” da região. Também produziu em 2011, Área Q, de Gerson Sanginito, com o ator americano Isaiah Washington.
Filmografia: 2004- Sunland Heat: No Calor da Terra do Sol (Sunland Heat. Alex Van Hagen, Jay Richardson. E Halder como ator!). Cine Holiúdy-The Good Guy Against The Bad Guy (CM. Edmilson Filho, Pedro Domingues). Cine Holiúdy- O Artista contra o Cabra do Mal (CM. Edmilson Filho, Amadeu Maya). 2008- Cadáveres 2 (Co-Direção Gerson Sanginito. Bill Cobbs, Lisa Crilley). 2011- As Mães de Chico Xavier (Nelxon Xavier, Herson Capri). 2012- Cine Holiúdy (Edmilson Filho, Roberto Bomtempo). Já se anuncia durante a exibição do filme atual, a parte 2 do Holiúdy.


Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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