Evereste (Everest)
Não é o grande filme que almejava ser mas ainda assim funciona
Evereste (Everest)
EUA, 15. 121 min. Direção de Baltasar Komakur. Roteiro de William Nicholson, Simon Beayfoy inspirado em fatos reais. Com Jake Gyllenhaal, Jason Clarke, John Hawkes, Martin Henderson, Emily Watson, Keira Knightley, Josh Brolin, Robin Wright.
Eu sempre acho que este tipo de filme deve ser assistido em alguma sala que tenha Imax, que lhe dá uma nova dimensão e outro impacto. Embora para muita gente seja difícil entender o que leva um ser humano a sonhar em escalar a montanha mais alta do Mundo, que fica no Nepal. O fato é que isso continua acontecendo (e depois dos fatos narrados neste filme já houve outro caso em que morreu mais gente ainda do que aqui, 16 vitimas todas nepaleses que preparavam o terreno para a temporada de escaladas ). Antes de tudo é preciso lembrar que houve antes um telefilme chamado Morte no Everest (Into Thin Air: Death on the Everest, 97) que saiu aqui em DVD e conta os mesmos acontecimentos. Dirigido por Robert Markowitz, tinha um elenco menos famoso (Peter Horton, Nat Parker, Richard Jenkins, Christopher McDonald) e também se baseava na História real baseada em livro best-seller de John Krakauer. Centrado em Scott Fisher e Rob Hall, guias experientes que conduzem uma escalada com várias pessoas ao Everest. As duas equipes se juntam e próximo ao topo sofrem problemas que ameaça suas vidas. Foi adaptado para a televisão com todas as concessões ao formato (elenco mais fraco, pausa para intervalos comerciais, menor orçamento). Era uma história intensamente dramática de luta pela sobrevivência que poderia ser muito melhor explorada. Achava que ficava devendo a outros do gênero como Risco Total ou Limite Vertical.
Acho que o problema é o diretor Baltasar Komakur, que é islandês (e por isso deveria entender de paisagens geladas) e que foi chamado pelos americanos depois de alguns sucessos locais. Não vi o primeiro Tráfico de Orgãos (10) com Delmort Mulroney, mas achei muito fraco o seguinte Contrabando (12) com Mark Wahlberg. Veio outro local o islandês Sobrevivente (12) e este ano o fraco filme de ação Dose Dupla (15) com Wahlberg e Denzel Washington (fez ainda uma série de TV que desconheço chamada Trapped (15).
Deve ter sido dificílimo rodar o filme em locações (Nepal, e um pouco na Itália, em Val Nepales, Trentino) com um orçamento limitado de 55 milhões (ainda que utilizando material pré-existente que havia sido feito com câmera Imax de 1998) e certos problemas não conseguiram ser resolvidos. Por exemplo, com a nevasca para reconhecer os atores é preciso que eles tirem a máscara protetora do rosto (o que seria absurdo na prática, mas essencial para se entender a história). O fato é que com uma rodagem tão elaborado em algum momento ele perdeu a mão e não conseguiu dar o desejado tom de suspense e ansiedade que a história pede. O resultado é razoável mas convencional, mais convincente quando conseguem planos aéreos (caminhando nas pontes improvisadas, ou o helicóptero tentando voar no ar rarefeito). Também por alguma razão não são marcantes as cenas em que se corta para as esposas dos protagonistas que ficaram em casa sofrendo (Keira faz uma grávida, Robin uma esposa já madura de Brolin). Quem faz o protagonista, Rob Hall, o único a escalar o Everest 5 vezes, é o australiano Jason Clarke (O Grande Gatsby, A Hora Mais Escura), que iria ser de Christian Bale (que preferiu estrelar Êxodo).
Ou seja, Evereste não é o grande filme que almejava ser mas ainda assim funciona nem que seja para convencer você a não cometer a besteira de querer imitá-los.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.