Um Foco Menor do Neorrealismo

Funciona justamente quando se propoe captar, a maneira de um neorrealismo poetico, o cotidiano das femeas arrozeiras da Italia dos anos 40

27/04/2024 17:09 Por Eron Duarte Fagundes
Um Foco Menor do Neorrealismo

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Arroz amargo (Riso amaro; 1948), considerado por alguns um marco do neorrealismo italiano, tem um coro de imagens extremamente musical e chega a uma produção de enquadramentos que apresenta uma musicalidade plástica. Giuseppe De Santis (1917-1997), o diretor, irmão do fotógrafo de cinema Pasqualino De Santis (1927-1996; aquele mesmo da fotografia esbatida de Um dia muito especial, 1977, de Ettore Scola), executa com uma beleza exterior pouco neorrealista a denúncia social da exploração do trabalho das mulheres nos arrozais italianos do pós-guerra; De Santis (o Giuseppe), ex-crítico de cinema, parece um tanto quanto amarrado ao expor as relações entre o argumento e a imagem, em momento algum soltando-se cinematograficamente, em momento algum aproximando-se dos verdadeiros mestres do neorrealismo, como Roberto Rossellini e Vittorio De Sica.

Não que Arroz amargo chegue a perder-se inteiramente como filme. Em três quartas partes de sua narrativa o filme funciona. E funciona justamente quando se propõe captar, à maneira de um neorrealismo poético, o cotidiano das fêmeas arrozeiras da Itália dos anos 40. No final Arroz amargo perde-se um pouco ao injetar uma movimentação policial para sua ação romanesca. Se a crônica das arrozeiras não o eleva à profundidade dos pescadores de Rossellini, por exemplo, é igualmente verdade que o desastrado final não invalida o conjunto da narrativa.

Entre as curiosidades, é em Arroz amargo que a italianíssima atriz Silvana Mangano (1930-1989), então com dezoito anos de idade, estreia diante das câmaras. Quando o espectador a vê dançando em Arroz amargo, liga seu jeito físico e seus passos a certas coisas que o cinema do italiano Federico Fellini espalharia a partir da década de 50. Sabe-se que Silvana havia sido convidada por Fellini para o elenco de A doce vida (1960), mas o ciúme do produtor Dino de Laurentis, marido da atriz, a impediu de aceitar o papel, que cairia nas mãos de Anouk Aimeé; imagina-se que o embrião das imagens-dança de Fellini esteja nos gestos bailados de Silvana em Arroz amargo, que certamente Fellini viu e reviu em sua juventude. Outro dado da vida de Silvana é que ela se candidatou a Miss Itália 1947, perdendo o troféu para Lúcia Bosé, que também viria a ser atriz e estrelou Crimes d’alma (1950), do italiano Michelangelo Antonioni.

Ao lado de Silvana, aparece o astro Vittorio Gassman. E tanto Silvana quanto Gassman estão longe de seu melhor momento interpretativo: excessivamente soltos (ou desleixados), excessivamente flácidos (dramaturgicamente). Sobra para Silvana a beleza e a energia de sua mocidade.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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