ROBOCOP: A História

Era o final de 1987 e surgia um novo herói nas telas. Conheça a história deste personagem que tem José Padilha como Diretor da nova edição.

20/02/2014 14:45 Por Rubens Ewald Filho
ROBOCOP: A História

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Era o final de 1987 e surgia um novo herói nas telas: meio homem, meio máquina, um tira total, conforme anunciado pelo cartaz promocional do filme. O filme foi na época um grande sucesso de bilheteria impulsionando em Hollywood a carreira de seu diretor, o holandês Paul Verhoven. O filme, que teve orçamento de US$ 13 milhões, flertava com a linguagem das histórias em quadrinhos e não escondia a influência do trabalho do artista Frank Miller em Batman, fosse pelo visual do policial robótico ou pelo uso da mídia televisa como um elemento narrativo constante e onipresente no roteiro do filme. Na história de Edward Neumeir & Michael Miner, o honesto policial Alex Murphy (Peter Weller) é morto em combate de forma desumana e cruel pelo terrível bandido Clarence Boddicker (Kurtwood Smith) e o que resta de seu corpo e cérebro é mesclado a um organismo cibernético criado pela OCP (Omni Produtos de Consumo), uma multinacional responsável pela polícia de uma Detroit futurista e violenta, na qual a segurança do cidadão é entregue a uma organização privatizada e desalmada, crítica ferrenha de um capitalismo selvagem. No filme, a consciência abalada de Murphy vai aos poucos, e com a ajuda de sua , a oficial Lewis (Nancy Allen), sobrepujando a programação recebida e recuperando as memórias de sua vida anterior, o que o levará a se rebelar contra a OCP quando descobrir a ligação entre Dick Jones (Ronny Cox) – alto oficial da empresa – e os crimes de Clarence, contra quem busca vingança. A roupa de Robocop preta e prateada, que custou entre U$ 500.000 e U$ 1 milhão, demorava horas para ser vestida por Peter Weller e era muito pesada, o que por um lado dificultava para o ator, mas por outro salientava ainda mais seus movimentos robóticos. Na cena em que o personagem sai de dentro do carro, o ator foi filmado de forma a parecer que este saía de dentro do veículo quando na verdade o ator não conseguia se sentar nele com a roupa completa.

O filme aproveita ideias já exploradas antes na literatura de ficção científica como “Cyborg”, de Martin Caidin (que foi adaptado para a TV no seriado clássico O Homem de Seis Milhões de Dólares) e nos contos de Isaac Asimov em que este desenvolveu as leis da robótica, claramente servindo de base para as 3 diretrizes de Robocop que são “Servir o público, proteger o inocente e garantir a manutenção da lei”. Contudo, muito longe de se entregar a uma discussão filosófica a respeito do que define o homem e a máquina, Robocop era um filme de ação sem a preocupação de ser politicamente correto, usando e abusando da violência explícita com um total de 30 mortos nos seus 102 minutos originais de projeção, o que o levou a ser reclassificado pelo MPAA (órgão que regula as faixas etárias estabelecidas para os filmes) 12 vezes antes de ser finalmente liberado. O filme chegou a ser indicado ao Oscar® nas categorias de melhor som e melhor montagem. Perdeu, mas ganhou o Saturn Awards, premiação voltada para os filmes do gênero fantástico.      

Robocop foi marcante por empregar a tecnologia à disposição na época aliada à linguagem das HQs, que naquele final da década de 80 alcançava um forte apelo artístico e comercial em obras como a de Frank Miller, principalmente por mostrar a mídia televisiva como elemento manipulador da opinião pública. Tal afinidade e dinâmica eram tão acentuadas que o artista foi convidado a escrever o roteiro da sequência que seria lançada em 1990, sem a direção de Paul Verhoeven, que achava cedo demais para uma continuação. Tim Hunter chegou a assumir o posto de diretor, mas abandonou o projeto devido a diferenças criativas. Coube então a Irvin Kershner (diretor de O Império Contra Ataca) preparar o filme que veio a ser classificado como “impossível de ser filmado” de acordo com o roteiro original de Miller. O resultado foi uma mudança tão grande no roteiro que se tornou uma pálida imitação do primeiro trocando Clarence por um perigoso traficante que tem sua mente implantado em um robô. A bilheteria foi abaixo do esperado nos EUA (continuou  oêxito no Brasil)  e embora não tenha sido um grande fracasso, ficou pouco acima de seu orçamento que foi mais que o dobro do primeiro filme. Anos mais tarde o roteiro original de Miller veio a ser usado em uma HQ intitulada “Frank Miller’s Robocop”.

O 3º filme começou a ser produzido em meio a dificuldades financeiras da produtora Orion Pictures e só obteve metade do orçamento do segundo filme. Peter Weller se recusou a voltar e foi substituído por Robert Burke, enquanto Nancy Allen aceitou seu retorno com a condição de que sua personagem morresse no início do filme. A história que tratava da venda da OCP para um conglomerado Japonês teve a assinatura de Frank Miller, mas este não conseguiu elaborar uma história empolgante colocando Robocop enfrentando samurais e incluindo uma constrangedora sequência de voo do herói que em nada acrescentou. O filme foi feito em 1991, mas teve que esperar mais dois anos para chegar às telas devido aos problemas financeiros da Orion Pictures.

O personagem ainda continuou fora do cinema em duas sérias animadas, histórias em quadrinhos (incluindo um encontro entre Robocop & O Exterminador do Futuro) e um seriado de TV de 1994, novamente sem Peter Weller, com o personagem vivido por Richard Eden. O seriado teve 23 episódios e não foi além da primeira temporada, mas o personagem voltou a TV na mini-série Robocop: Prime Directive com Page Fletcher no papel principal. Contudo, o apelo original do personagem foi diluindo e ficando muito aquém daquele promissor início do filme de 1987 e que José Padilha agora tentará restabelecer junto às plateias de oje, em uma realidade em que o crime e a corrupção ainda são as grandes mazelas da sociedade (por Adilson de Carvalho Santos).

 LEIA A CRÍTICA DO FILME ROBOCOP DE 2014, DE JOSÉ PADILHA

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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