Culpado ou Inocente?

Fúria de Justos é um filme imperdível, não só pelo tema, mas por ser um brilhante filme de tribunal

01/04/2017 23:24 Por Marcus Pacheco
Culpado ou Inocente?

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Segregação, discriminação, bullying são algumas das características da vida dos negros nos Estados Unidos nos anos 50. Neste contexto, para analisar a profundidade de Fúria dos Justos (1955) é preciso entender o que se passava na época. Basicamente, o circo explosivo do filme é armado mais pela etimologia e ideologia que pelo crime em si: um advogado defende um mexicano acusado de assassinar uma moça branca. Neste cenário, somam-se o promotor (comunista) e o juiz do caso, que é negro. Agora imaginem este tema, como estes elementos, em pleno 1955. Um negro sentenciando um branco? Um comunista do lado do Estado? Este é Fúria dos Justos, dirigido por Mark Robson, que era uma pessoa politizada (estudou ciência política e econômica na Universidade da Califórnia além de estudar direito na Universidade Pacific Coast). Robson, que era Canadense, partiu cedo (64 anos), de infarto, durante a pós produção do filme Pânico no Atlântico Express que, por infeliz coincidência, um dos protagonistas também morreu sem ver o filme pronto: Robert Shaw.

Voltando ao filme, como esquecer a bombástica cena do enterro, que um determinado cidadão defende a separação das raças, meio que como um Hitler, querendo a purificação  racial. Cidadão que pertencia a nada menos que a Klu Klux Klan. Para se ter uma ideia do momento social, no ano que foi produzido o filme, em 1954, a Suprema Corte proibiu a segregação em escolas públicas. Em 1955 Rosa Parks, uma mulher negra, se negou a dar seu lugar num ônibus para uma mulher branca e foi presa. Os líderes negros da cidade organizaram um boicote aos ônibus de Montgomery para protestar contra a segregação racial em vigor no transporte. Durante a campanha de um ano e dezesseis dias, coliderada por Martin Luther King (que organizou e liderou marchas a fim de conseguir o direito ao voto, o fim da segregação, o fim das discriminações no trabalho e outros direitos civis básicos), muitas ameaças de morte foram feitas (foi preso e viu sua casa ser atacada inclusive).  O boicote foi encerrado com a decisão da Suprema Corte Americana em tornar ilegal a discriminação racial em transporte público. Mas proibir não é mudar a mentalidade de ninguém (Martin foi assassinado, em 1968, momentos antes de uma marcha!!!).

A tentativa de enforcamento do mexicano, suposto criminoso, é na verdade uma forma de mostrar como pré julgamos as situações, muitas vezes baseadas em religião, orientação sexual e etnia. Até este momento no filme, discursos de ódio tomam conta, sem nunca pensarem na possibilidade do menino ser inocente. Na verdade, o rapaz (pelo menos até 1 hora de filme) é um reles figurante das inflamadas questões que o filme propõe.

Recentemente, uma moça foi espancada e morta (tem o vídeo no You Tube) por conta de um pré julgamento que fizeram dela, mostrando que pouca coisa mudou nestes anos.Ela, inclusive, era inocente.

Fúria de Justos é um filme imperdível, não só pelo tema, mas por ser um brilhante filme de tribunal. Vale o ingresso (afinal, cinema, pipoca e refri sai mais caro que adquirir o filme).

Ahh... já ia me esquecendo (sem spoiler). O que dizer do final triunfante? Não me refiro, evidentemente, ao veredito. Quem viu o filme sabe. Foi um tremendo tapa na cara da sociedade dominante... E o veredito?? Ele é culpado ou inocente? Bom... o filme deixa claro que não tem a menor importância, porque ele claramente era inocente do crime, mas a sociedade o culpou por ser "diferente". 

Informações Técnicas

Título: A Fúria dos Justos
Elenco: Arthur Kennedy, Dorothy McGuire, Elisha Cook., Glenn Ford, John Hodiak, John Hoyt, Katy Jurado, Rafael Campos Juano Hernandez, Robert Middleton
Diretor: Mark Robson
País de produção: Estados Unidos
Duração: 109 minutos

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Sobre o Colunista:

Marcus Pacheco

Marcus Pacheco

Marcus V. Pacheco é jornalista, formado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Cinéfilo, Editor de site, Colecionador e Escritor. Marcus já realizou vários curtas metragens e um longa chamado "O último homem da terra (2001)", baseado no conto de Richard Matheson. Escreveu também 30 e-books sendo 29 sobre cinema e um de ficção que está em fase inicial para publicação. Criador e editor do site "Tudo sobre seu filme (http://www.tudosobreseufilme.com.br/)" onde publica críticas, listas, aulas de cinema e curiosidades do mundo da 7ª arte há 4 anos, além de realizar entrevistas com atores, diretores, críticos e colecionadores do mundo todo.

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