RESENHA CRTICA: T2 Trainspotting (Idem)

Boyle quis manter o visual rpido, os altos e baixos das drogas, a energia e euforia

21/03/2017 23:56 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA: T2 Trainspotting (Idem)

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T2 Trainspotting (Idem)

Inglaterra, 16. 1h57. Direção de Danny Boyle. Com Ewan McGregor, Robert Carlyle, Jonny Lee Miller, Ewen Brewmer, Robert Carlyle, Shirley Henderson, Pauline Turner, Anjela Nedyalkova,Kelly McDonald. Roteiro de John Hodge.

Foi memorável o lançamento do primeiro Trainspotting, no Festival de Cannes de 96 (aqui para variar teve o sub titulo ridículo de Sem Limites). Onde o diretor Danny Boyle era praticamente desconhecido (e eventualmente vários filmes bons e outros horríveis, mas também levaria um Oscar por Quem quer ser um Milionário (08) e indicação por 127 Horas, 10). Na verdade todo o elenco central escocês era desconhecido e está de volta aqui, bem mais envelhecido. Todos fizeram carreira, Carlyle como vilão, Bremmer como vigarista, Lee Miler como o primeiro marido de Angelina Jolie e protagonista de um Sherlock de série de TV. O que se deu melhor foi justamente o mais bonitão deles, Ewan McGregor, o protagonista que fez muitos sucessos embora sem estourar (entre outros, uma trilogia Star Wars, O Livro de Cabeceira, Moulin Rouge). Sua grande arma que lhe dava brilho e presença era a juventude e a simpatia, que o tempo logicamente espaireceu. Sim, ele fica pelado mas de costas e por pouco tempo. Há outra cena semelhante, mas curta e mostrada à distância.

Não sei se é uma boa ideia fazer uma continuação tanto tempo depois, 21 anos, ainda mais centrada em uso de drogas no mais abusivo, ou seja, seu público alvo da época, está morto ou internado ou mínimo lesado. A direção ágil e ligeiramente satírica (o filme começa mostrando todos eles como ficaram a partir de Ewan que tenta fazer exercício em academia e escorrega e cai, sonado) vai irritar o público tradicional, porque no fundo repete o esquema do malandro velho se dando mal e tentando se ajustar, para desespero da mulher e filhos! Ou seja, mais triste que divertido. Não tem tanta graça hoje fabricar o vício em heroína e a metáfora dos bolos fecais como metáfora para a vida perdidas deles. Os excrementos que escandalizaram no primeiro filme estão também neste. Renton (Ewan McGregor) está de volta a Edimburgo, deixando Amsterdam, querendo enfrentar as consequências de ter escondido dos amigos a parte do que roubou anteriormente. Simon (Lee Miller) ainda se vira tentando transformar seu bar decadente num bordel mais chique. Begbie ( Carlyle), que sempre foi muito violento, sofreu atentado na prisão de onde fugiu. Resta ainda o mais coitado deles, que é o Spud (Bremner), que é salvo do suicídio por Renton (também é o personagem que muitos acham o mais divertido). O roteiro é de novo de John Hodge, inspirado em livros de Irvine Welsh. Há mais ou menos no meio do filme uma lição muito pática para os nossos assaltantes quando a dupla tira os paletós dos bêbados, enquanto Ewan canta (mal) no palco e fogem rapidamente para tirar o dinheiro do banco com cartões.

Boyle quis manter o visual rápido, os altos e baixos das drogas, a energia e euforia (inclusive numa sequência final bem interessante). Essas imagens cheias de truques, trilha musical adequada para o momento, sustentam a duvidosa proposta. Mas quem curtir o filme, é provável que encontre nele algum interesse e atração.

 

Quem quiser saber mais sobre o primeiro filme, eis sua resenha:

Trainspotting, sem Limites (Trainspotting)

Inglaterra,Escócia, 1996. 94min. Diretor: Danny Boyle. Elenco: Ewan McGregor, Robert Carlyle, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Kevin McKidd, Kelly Mcdonald, Peter Mullan, James Cosmo.

Sinopse: Em Glasgow, na Escócia, um grupo de jovens vive para o consumo de drogas, passando por problemas e dificuldades, mas também se divertindo. Até quando dois deles resolvem largar o vício, Mark Rent Boy e Simon Sick Boy. Acabam se envolvendo também num perigoso esquema de assalto.

Comentários: Roteiro de John Hodge (Cova Rasa, Em Transe, A Praia, Por uma Vida Menos Ordinária). Adaptação de um livro de Irvine Welsh (que desde então se tornou um escritor de êxito, editando entre outros, Acid House, Filth, mas a maioria que viraram filmes ficaram inéditos no Brasil). O filme fez enorme sucesso em Cannes e transformou em astros McGregor (Star Wars, Moulin Rouge), Jonny Miller (foi casado com Angelina Jolie na época, é filho do Bernard Lee, o M de 007 e hoje trabalha na série como Sherlock Holmes!), Carlyle (Ou Tudo ou Nada), além do diretor Boyle (A Praia). Na verdade, ele começou antes com outro filme engenhoso, que passou depois aqui chamada Cova Rasa, com o mesmo Ewan e fez vários sucessos modestos até ganhar o Oscar de direção por Quem quer ser um Milionário, 08, e depois fez 127 Horas com James Franco, o pouco visto Em Transe (que foi rodado durante um intervalo dos preparativos que duraram dois anos quando ele planejou e depois dirigiu as brilhantes cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, inclusive o ponto alto que foi a participação de James Bond e a Rainha). É basicamente um exercício de estilo com o competente McAvoy, que é o narrador, um empregado de loja de leilões de quadro famosos que está para vender um famoso trabalho do espanhol Goya. Para prevenir roubos e a perda de vidas humanas, Simon é treinado para fugir com a pintura e esconde-la num largo determinado. Dito e feito, uma quadrilha assalta o lugar, provoca pânico e incêndio, enquanto Simon age como o previsto. Ou não? (a quadrilha é liderada pelo francês e brasileiro Vincent Cassel, já que vive parte do ano no Rio de Janeiro). Num filme deste tipo nada é o que parece e ficou esquecido. Também rodou há pouco o fracasso Steve Jobs e ainda outros filmes interessantes (A Praia, Extermínio, Caiu do Céu, Sunshine).

O titulo misterioso vem de uma brincadeira feita pelos drogados-viciados em heroína, que brincam de ficar esperando a chegada ou passagem de um trem e adivinhar sua numeração, mas se refere também às veias no braço de um drogado. Foi o primeiro filme a mostrar um detalhe importante: as pessoas se viciam em drogas porque ela dá prazer! Assim em toda a primeira parte, o clima é de Music Video, tudo corrido, agitado, bem humorado (até mesmo os momentos grotescos). Mas depois a fita ganha uma mensagem antidrogas, quando começamos a ver suas consequências. Extremamente inventivo, revolucionou o gênero, teve muita influência e foi marcante na criação de uma indústria de Cinema na Escócia. Foi indicado ao Oscar de roteiro (levou o BAFTA dessa categoria), na Escócia o Bafta local de melhor filme e ator (Ewan), 4 prêmios centrais da revista inglesa Empire. Foi rodado em baixo orçamento. O livro teve antes uma adaptação para o palco. A famosa cena da privada foi feita com pedaços de chocolate. O filme teve problemas para ser exibido nos EUA onde é difícil se entender o sotaque escocês (e os primeiros vinte minutos de diálogos foram redublados para se tornarem mais compreensíveis). Foi o maior sucesso de bilheteria britânico do ano.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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