Já faz mais de um ano que vendo na internet o trailer deste filme de que nunca tinha ouvido falar eu mandei buscar o DVD, imaginando que ele nunca iria chegar ao Brasil. Mas está entrando agora em cartaz, discretamente, na expectativa de encontrar depois melhor público no Home Video ou TV por assinatura. Parece ser este o destino certo para esta comédia discreta e melancólica, mais endereçada para os maiores de quarenta anos. Lembra um pouco aquele O Acompanhante/The Walker, de Paul Schrader, em que Woody Harrelson faziam um homem de 60 e poucos anos de Washington que é um Escort de profissão, sua missão é jogar cartas e acompanhar senhoras de idade em festas ou recepções. Mas no caso também é gay e se envolve num escândalo.
Nada disso sucede com Kevin Kline, conhecido heterossexual (até eu fui testemunha disso uma vez, sentei num teatro em LA ao lado de uma atual companheira eventual dele e a moça me manteve informado!) que também agora já está maduro (65 anos) mas ainda bonitão. Ele interpreta um certo Henry Harrison, um senhor que precisa de alguém para dividir o apartamento porque o dinheiro está escasso. Ele vive precariamente servindo de Escort para uma velha dama (a atriz da Broadway Marian Seldes) enquanto abriga o rapaz recém-chegado do interior (Paul Dano, de Little Miss Sunshine, fazendo um papel de sua especialidade, o jovem problemático).
Baseado em livro de Jonathan Ames, foi dirigido por uma dupla que teve boa repercussão com American Splendor, mas depois fez a besteira do Nanny Diaries. Não muito segura qual o tom da história a ser escolhido. Querem humor, mas algo um pouco discreto demais, quase imperceptível. O rapaz se mudou para Manhattan com o sonho de se tornar escritor à la Fitzgerald e se impressiona com o colega, um solteirão aristocrata que vive de dar pequenos golpes e sonha em ter um convite para passar a temporada em Palm Beach.
Só que Henry é misógino, solteirão assumido, assexual, mas que mesmo assim gosta de ópera e é cheio de tiques e preconceitos. E lições (ensina para o jovem como urinar na rua sem ser percebido, como entrar sem pagar na Opera etc.). Já o jovem Louis é ainda mais complicado, tem fantasias de se vestir de mulher (e fica um pavor, ele mesmo confirma isso olhando no espelho), passa mal com uma dominatrix, mas mesmo assim paquera sua colega de jornal, a vegan Katie Holmes. Tudo isso, porém, verdade para a dupla, sem cair em exagero ou caricatura.
Não se pode dizer o mesmo de John C.Reilly, que carrega demais a figura pouco crível do vizinho que vive abandonado que fala com voz fina. Atrapalha um pouco o filme que já tem dificuldade para subsistir e convencer. Não acredito que leve gente ao cinema, mas como já disse, com um custo mais baixo pode-se perfeitamente curti-lo.