Chegou finalmente a nova obra-prima do diretor italiano Paolo Sorrentino, que ganhou o Oscar de filme estrangeiro, com A Grande Beleza, um evidente homenagem a La dolce Vita (era uma espécie de continuação e homenagem a Fellini mas um filme poético e um pouco rarefeito demais para o público atual). Na verdade, é outra homenagem a Fellini mas particularmente a sequência do mesmo Oito e Meio em que o diretor de cinema (Mastroianni) vai a uma estação de águas em busca de ideias para um filme e procurando o perdão do bispo católico. Esse foi o ponto de partida desta história que lhe rendeu o Grande Prêmio do European Film Award (melhor filme europeu do ano), mas apenas uma indicação ao Oscar, o de canção (a esplendida mas erudita Simple Song 3, de David Lang, que nem sequer foi apresentada no show aqui sublimemente interpretada por Sumi Jo!), foi indicado ainda ao Globo de Ouro (canção e atriz coadjuvante para a aparição muito curta mas marcante de Jane Fonda). Indicado ainda ao César de filme estrangeiro, ganhou dos críticos italianos melhor diretor e fotografia (excepcional de Luca Bigazzi), prêmio do público em Karlov Vary.
Não adianta enganar: não é um filme indicado para os adolescentes ou muito jovens, nem aqueles que não tem uma percepção mais aguçada do cinema europeu, com sua narrativa mais lenta, seus planos mais poéticos, suas imagens alegóricas (algumas só que conhece a obra de Fellini vai entender) nem ao menos para o espectador casual. É uma obra de arte que procura analisar com ternura e certa piedade, a velhice de certos artistas que mesmo sendo famosos (ou “tendo sido famosos”) agora passam por problemas na velhice. A figura central é um famoso maestro aposentado, Fred Ballinger (Michael Caine, em uma de suas melhores atuações) que é ajudado pela filha secretária (uma presença forte de Rachel Weisz) que está separada do marido e meio perdida. A própria rainha da Inglaterra esta pedindo para que o maestro libere sua obra famosa (que seria justamente a Simple Song 3), mas ele obstinadamente se recusa a liberá-la (só na sequência final é que ficaremos sabendo porque). Nesse luxuoso e extremamente fotogênico Spa na Suíça (em Davos, Flims, Kandersteg, se alguém quiser passar férias por lá!) aonde só vão celebridades (há por exemplo um campeão de futebol sul americano que é uma brincadeira com Maradona e uma bela sequência de nudez com uma Miss Universo na piscina (feita por exuberante modelo romena Madalina).
Mas talvez a figura mais importante para Sorrentino não é só o maestro mas um diretor de cinema veterano que esta por lá cercado por um grupo de jovens aspirantes a roteiristas, tentando finalizar o roteiro de seu novo (e definitivo) filme. Mas está em crise criativa e não consegue resolver o problema do final ( é justamente para esse roteiro que aparece inesperadamente Jane Fonda, maquiada para ficar velha e vulgar). Enquanto isso se pinta um retrato do hotel (por vezes, lembra também Marienbad de Resnais) e seus clientes (dentre eles, um jovem ator interpretado pelo muito talentoso e ainda não consagrado como deveria Paul Dano!). Tomara haja ainda espectadores capazes de desfrutar a elegância, a angústia, a beleza deste filme tão singular e de certa forma romântico.