Crítica sobre o filme "Afterimage":

Rubens Ewald Filho
Afterimage Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/08/2017

Dentre os grandes cineastas de todos os tempos eu deixo um lugar especial reservado para o maior da Polônia, recém falecido já aos 90 anos, que não apenas deixou uma carreira excepcional de filmes políticos importantes como também teve participação fundamental na libertação de seu país ao apoiar o fim do regime comunista, mas em particular apoiando a resistência do líder Lech Walesa. Na verdade, sua história se confunde com a da própria Polônia, que veio de um trágico passado sob domínio nazista que ele revelou  tralhando desde 1950, numa série de filmes que anteciparam  o movimento francês da Nouvelle Vague (Generation, Kanal, Cinzas e Diamantes).Basta dizer que em nenhum momento ele fugiu a luta chegando a descrever mais de 60 anos de História (por exemplo, foi com Katyn, que foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro, que se revelou que os oficiais mais competentes do país foram trucidados pelos nazistas a sangue frio e os chefes ocidentais ingleses e americanos esconderam essa barbaridade por décadas!).

Apesar de ser sim um engajado nas lutas de seu país, Wajda era também um grande cineasta e neste seu novo filme demonstra isso em pelo menos duas grandes cenas. Logo no começo quando a sala onde o pintor está fazendo seu trabalho fica coberta de sangue... na verdade, é uma grande bandeira vermelha que encobre a janela da casa, no que é um retrato de Stalin que passa a ocupar a Polônia, numa sucessão de desastres. Outra já no final do filme, o protagonista o pintor perto da morte tenta trabalhar numa loja tentando dar vida a manequins, e cai morto noutra cena inesquecível.

Passamos a seguir desde 1948, o protagonista Wladyslaw Stzreminki, que faz o pintor Boguslaw Linda, já sem braço e sem uma perna, ele leciona arte na famosa Escola de Artes Visuais de Lodz, serão anos de sofrimentos e perseguições, por vezes por questões banais, quase sempre estúpidas que afetam também os estudantes que tentam ajudá-lo. Mas a perseguição irá se repetir, inclusive numa exposição famosa que se chamava Neo Plastic Room.

Não é preciso dizer qual é o final, e em momento nenhum Wajda faz discursos ou lança pedras no governo, prefere contar a vida triste e arruinada (há outro momento que eu achei incrível, o artista não quer comer uma sopa, a senhora que por gentileza trata dele, vai embora irritada, ele arrependido e com fome, lambe o prato com a língua...). Um incrível cineasta que continuou fiel a si mesmo na sua despedida. Um filme que se enquadra entre os grandes de sua obra.