Crítica sobre o filme "Albert Nobbs":

Rubens Ewald Filho
Albert Nobbs Por Rubens Ewald Filho
| Data: 23/02/2012

Quem teve falta de sorte foi Glenn Close, está claro que ela tem a mágoa de nunca ter ganhado um Oscar, mesmo tendo cinco indicações ao prêmio. Embora já tenha o Tony, dois Emmys, dois Globos de Ouro, Melhor Atriz em Veneza. E este é o projeto que ela namorou durante anos na tentativa de corrigir essa falha. Escolheu para a direção um amigo, Rodrigo Garcia (filho de Gabriel Garcia Marquez), co-escreveu o roteiro baseado numa peça que ela já tinha feito no teatro, por sua vez inspirada em conto de famoso escritor irlandês naturalista George Moore (a história original baseada em fatos reais havia sido escrita e prevista para o diretor húngaro Istvan Szabo, também amigo dela) e ainda se deu ao luxo de escrever a letra da canção-tema que chegou a ser indicada no Globo de Ouro, mas ignorada pelo Oscar (uma pena porque é uma bela e delicada canção).

Mas com tudo isso teve a infelicidade de ser superada por uma coadjuvante Janet McTeer que está sendo mais festejada do que ela. E que na verdade chega a roubar o filme (Janet é uma mulher grande, masculinizada e ótima atriz teatral). Mesmo assim ambas conseguiram ser finalistas no SAG e no Globo de Ouro e entre os finalistas do Oscar. Mas com pouca chance de ganhar (e enfrentar Meryl Streep ou Viola Davis). Assim é uma volta com prestígio.

A maior prova da vaidade de uma atriz é justamente se deixar feia. E Glenn que nunca foi uma beleza, fez um trabalho perfeito (inclusive de maquiagem, que também foi indicada ao Oscar se disfarçando de homem). Há uma razão para isso. A condição da mulher na Irlanda do século 19 era de tal forma baixa e indigna, que quando ela fica órfã, sem família e sem quem a sustente, prefere se passar por homem e assim ao menos conseguir uma profissão digna e razoavelmente bem-humorada.

Quando a conhecemos ela que se passa por Albert Nobbs faz as tantas de um mordomo num hotel de qualidade média frequentando por gente rica (entre eles o visconde Jonathan Rhys Meyers). O que mais me impressionou, fora a habitual competente direção de arte, foi a qualidade do elenco de apoio, em particular feminino.

Albert conhece um homem que tem que dormir em sua cama e descobre seu segredo (numa cena não muito convincente) que ele também é uma mulher disfarçada de homem, um trabalho muito forte de Janet McTeer (que já foi indicada ao Oscar por Tumbleweeds, 1999, Livre para Amar, mas desde então não teve grandes chances). É inclusive casada com uma mulher de verdade e esta nem desconfia de nada, vivem felizes.

Isso dá idéias na cabeça com Nobbs que vai logo se interessar pela menina mais bonita do hotel, a Mia Wasiskowa (Alice no País das Maravilhas). Que logicamente prefere um rapaz bonitão que a engravida (o já famoso Aaron Johnson de O Garoto de Liverpool e Kick Ass).

Ajuda muito a presença da grande indicada ao Oscar Pauline Collins (de Shirley Valentine, como a dona do hotel) e de Brenda Fricker (esta ganhou por Meu Pé Esquerdo, como a cozinheira). Assim como também de Brendan Gleeson (como o médico).

Glenn faz o homem com toda dignidade, até discreta, sinto que lhe faltou uma fagulha maior de loucura, de paixão para diferenciá-la num ano de grandes presenças femininas. O filme é bem feitinho e modesto mas é para ser visto e discutido.