Crítica sobre o filme "W.E. - O Romance do Século":

Rubens Ewald Filho
W.E. - O Romance do Século Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/02/2012

Nunca entendi porque não houve antes um filme Classe A sobre este que foi realmente chamado do Romance do Século, mas há tanto tempo nem fez parte da minha geração. O assunto foi abordado no recente O Discurso do Rei porque afinal de contas é a razão por que o irmão mais novo George VI terá que assumir o trono quando Edward (que seria o VIII) resolve insistir em se casar com um americana Wallis Simpson e ainda por cima duas vezes divorciada. Coisa impensável naquela época.

Seu discurso ficou famoso inclusive por que ele usou a expressão “a mulher que eu amo”. (que foi o nome de um telefilme The Woman I Love, 1972, sobre o tema com Faye Dunaway e Richard Chamberlain). Depois houve uns poucos teledramas e até minisséries sobre o romance (um deles com Joely Richardson), mas nenhum até hoje teve a coragem de abordar o tema com mais convicção.

É difícil levar a sério um filme dirigido por Madonna, que é menos ruim na música-tema (bem razoável) e na trilha musical (do polonês Abel Kozerniovsky, de Direito de Amar, criativa e cheia de citações). Bom, ao menos de música ela se defendeu bem. Fiquei especialmente chocado pela incompetência, a incapacidade de contar a história.

Este já é o segundo longa de Madonna, que foi casada com diretor (e dos bons, Guy Ritchie) e nem que fosse por osmose deveria ter aprendido alguma coisa. Mas o filme é um clipão, onde ela coloca a câmera perseguindo os personagens (o que, aliás, faz todo mundo hoje em dia que não tem noção de decupagem ou dramaturgia. Ou de como montar uma cena ou um diálogo. Ela chega mesmo a dar aquele famoso pulo de eixo que antigamente era tão importante e tão mal visto).

Ela mistura duas histórias que nada tem a ver, a de uma moça atual que apanha do marido e que se interessa por uma exposição sobre a Duquesa de Windsor (ela usava o monograma em tudo, ou seja, o título do filme W de Wallis e E de Eduardo). Wallis é aquela tal americana e divorciada duas vezes por quem o futuro rei da Inglaterra se apaixonou e largou tudo. Deus sabe por que, já que era feia e vulgar.

As duas histórias são contadas em paralelo sendo que as duas protagonistas às vezes até conversam e trocam ideias! Os diálogos são ruins, os atores estão perdidos e o filme é completamente sem noção. Seu desastre não é propriamente uma surpresa.

Talvez pudesse achar algumas qualidades na direção de arte e figurino, com que houve certo cuidado. Mas o que realmente me espanta como a antiga rebelde Madonna consegue ser tão convencional com uma história que poderia ser potencialmente explosiva. Porque hoje se fala abertamente dos escândalos do casal, primeiro o fato de que Edward era nazista de coração e nunca escondeu suas simpatias por Hitler e sua turma! (pensa bem, que história boa. O rei da Inglaterra é nazista! Dava um grande filme).

A outra bomba é igualmente conhecida e discutida em livros, que é o fato de que o casamento teria sido também por interesse. Ele era gay e ela lésbica e aos dois convinha manter uma fachada. Ou alguma variante igualmente apetitosa para um roteirista disposto a mexer na Caixa de Pandora. Mas Madonna não se atreveu e fez um conto de fadas delirante e bobo. Essa história ainda está esperando quem tenha a coragem de abordá-la da forma verdadeira.