Hollywood continua com a mania de contratar diretores estrangeiros até desconhecidos para nós, como é o caso de Espinosa, que é filho de um chileno (com mãe sueca onde nasceu e fez carreira). Parece que fez dois longas por lá (mais um curta e um episódio de série de TV), mas o nome Snabba Cash não quer me dizer nada. Então acho difícil creditar a ele o sucesso deste filme, sabendo como no sistema americano é o produtor que tem a palavra final e o realizador não tem corte final. E me pergunto porque não deram a direção para o roteirista David Guggenheim (ele escreveu também outro filme de ação para este ano, Stolen, com Nicolas Cage).
Contam que o filme originalmente estava planejado para ser rodado nas favelas do Rio de Janeiro, mas acharam que não havia segurança (!) suficiente para garanti-los! Então a ação foi transferida para Capetown e arredores na África do Sul. Se bem que não faça grande diferença porque a câmera é daquelas na mão, que vão trepidando e pulando, no estilo Bourne. Ou seja, não se vê ou distingue muita coisa, enquanto se enfatiza a ação. Mas parece que deu certo porque o filme foi muito bem de bilheteria, apesar de ter sido lançado no começo do ano, uma época tradicionalmente fraca (está com US$ 116 milhões).
Quem faz o papel principal é o pouco convincente Ryan Reynolds, com seus olhos juntos e cara de bobo, que interpreta Matt, um agente novato da CIA, que tem a aborrecida missão de cuidar de um esconderijo seguro (seria a tal Safe House) para emergências. Por uma série de coincidências, principalmente porque está sendo caçado por inimigos, um ex-agente, Tobin Frost, que virou de lado (na verdade, ele agora vende segredos internacionais para o lado que pagar mais) precisou se refugiar ali, provocando o pânico nos antigos colegas. Esse é o papel de Denzel Washington, grande ator como sempre e alvo de uma piada, quando o chamam de Dorian Gray negro (porque não parece envelhecer mesmo com cabelo meio grisalho).
O problema é que há alguma falha na segurança porque justamente quando ele começa a ser torturado pelos agentes da CIA (como se isso fosse coisa rotineira), o lugar é atacado por bandidos que vão matando todo mundo. Matt não tem escolha de pegar Tobin e tirá-lo dali sem destino imediato, fugindo que nem louco pelas ruas e viadutos (as cenas de ação são muito competentes, não faz muito sentido eles irem parar num estádio de futebol que foi feito para Campeonato do Mundo, mas também é um momento eletrizante). Enquanto Matt entra em crise com sua mulher (Nora Arnezeder, uma loira francesa, de Paris 36) eles sempre se digladiando acabam encontrando outro refúgio no interior. Enquanto isso, correm paralelas as intrigas dentro da Organização, com continuas traições, segredos omitidos e revelados, amigos que não valem nada e profusão de assassinatos.
Enquanto se questiona se Tobin Frost traiu ou não seu país, o filme tem uma montagem alucinante feita pelo mesmo Richard Pearson de Bourne (chega ao cúmulo de cortar entre ações simultâneas, mas sem perder o fio da meada).
Aliás, o fotógrafo Oliver Wood também é o mesmo de Bourne, não por coincidência. Embora o elenco ajude a manter o interesse na trama de espionagem tradicional, o que segura o filme são duas coisas:
a) o carisma habitual de Denzel;
b) b) a eficácia das cenas de perseguição e ação.
Resultado: um bom filme de ação que merece ser visto.