São muitos os chamados, mas poucos os escolhidos. Podia-se dizer o mesmo sobre a corrida do Oscar. Muitos filmes de qualidade se apresentam, mas por alguma razão ficam para trás e não chegam nem mesmo a serem finalistas.
É o caso desta produção bonita e elegante, que concorreu em Cannes (onde também passou em branco), deu uma imerecida indicação de ator a Mortensen para o Globo de Ouro, mas que, apesar de tudo, merece sua atenção.
Faz tempo que o canadense deixou de ser apenas um diretor de filmes de ficção científica ou terror (e por vezes brilhante, como em A Mosca).
Para ampliar seu espaço com os competentes thrillers policiais recentes Marcas da Violência e Senhores do Crime (por sinal, ambos com Viggo Mortensen, razão porque o utilizou de novo aqui no papel chave de Sigmund Freud apesar do ator não ter nem a dimensão técnica para segurar um personagem tão cerebral e complexo.
Essa falha pode explicar o fracasso do filme que, apesar disso, é sempre interessante, muito bem produzido (paisagens de vilas suntuosas na Suíça) e tem um grande interesse para os ligados em psicanálise. Um detalhe Cronenberg antes tentou contratar Christoph Walts (que recusou para fazer Água para Elefantes) e Christian Bale.
Sua qualidade nasce do roteiro do britânico Christopher Hampton que primeiro transformou em teatro The Talking Cure, o livro de John Kerr (não o ator). É bom lembrar que Hampton fez um trabalho parecido com Ligações Perigosas e fez outros roteiros notáveis como Desejo e Reparação, Chéri, Carrington, O Americano Tranquilo.
De certa forma, o filme relata o nascimento justamente da psicanálise através da correspondência e eventuais encontros entre dois médicos que pesquisam uma pratica semelhante. O Dr. Freud (Viggo) em Viena, trabalhando com discrição e Jung, na Suíça, vivendo no luxo porque era casado com uma mulher rica (foi rodado na Bavária, Viena e Vestfália).
As teorias tomam forma quando aparece uma paciente, Sabina Spielrein, que parece ter alguma forma de demência, dominada por alguma forma de histeria, gritando, fazendo caras e caretas, por vezes, agressiva. Keira Knightley sai-se dignamente de um personagem muito difícil, mas que tem um arco interessante. Começa como louca varrida e eventualmente estudará e se tornará uma colega deles e a responsável pela introdução da psicanálise na União Soviética.
O método perigoso não é cuidar da moça, mas a fraqueza de Jung (que era um sujeito atraente e metido a conquistador, muito bem vivido pelo ator do momento, Michael Fassbender, agora famoso por ser despir em Shame).
Assim aos poucos se aproxima de Sabina e atravessa as fronteiras do permissivo, tendo um romance com a moça. O que é contra a ética e, pior do que isso, pode ser muito prejudicial ao tratamento. Freud não aprova e os dois entram em conflito.
Como se vê, o filme tem seus atrativos de escândalo (médico seduzindo paciente, brigando com seu melhor amigo, traindo a esposa).
Gostei bastante do filme e tomara que não se perca em meio a tantos lançamentos mais comerciais ou mais premiados.