Crítica sobre o filme "Heleno":

Rubens Ewald Filho
Heleno Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/03/2012

Comentam os exibidores que este ano estão com dificuldade de cumprir a chamada cota de tela, ou seja, os dias obrigatórios de filmes nacionais. Todas as comédias tem sido um fracasso e este mais ambicioso (Rodrigo ganhou como Melhor Ator em Havana) é uma decepção.

Não acredito que tenha maior repercussão com o público não apenas por ser em preto e branco. Há ao menos duas ou três gerações que desconhecem o PB e O Artista, ao menos é indispensável ser assim. Aqui poderiam muito bem ter usado um colorido de época. Mas quem fez não quis ou não soube sequer construir um universo Noir, de claros e escuros e cinzas contrastantes que lhe daria ao menos alguma beleza. Ao contrário, procurou o desfoque, o granulado, a câmera na mão.

Mas o equívoco maior é mesmo o roteiro. Eu quando era criança ouvi falar de Heleno e como ele era apelidado de Gilda (em relação aquela de Rita Hayworth), o que por sinal passa batido, como, aliás, tudo no filme, e havia sido um grande astro do futebol que acabou mal. Sempre achei que era uma história que deveria ser contada porque tinha todos os elementos dramáticos que podiam interessar. Claro que hoje ninguém sabe quem foi Heleno, mas o triste é que vai sair do cinema do mesmo jeito, porque o roteiro conseguiu o feito de não contar grande coisa a não ser suas brigas com os colegas e seus feitos amorosos. Não mostram sua infância, a mãe é mencionada num telefonema, não se tem ideia de como começou, o que o motivou, enfim, quem era esse sujeito nos anos de formação. Ele já aparece consagrado e com a cabeça cheia. Menciona-se a sífilis que ele não queria tratar e supõe-se que foi ela a maior causadora de seus delírios (informam-me que há pelo menos 3 tipos de sífilis, e além disso a penicilina surgia recente com a Segunda Guerra, nada disso é esclarecido).

O que vemos é uma repetitiva e aborrecida insistência em mostrar Heleno com duas mulheres (que além de tudo são parecidas). Uma cantora latina (a colombiana Angie Cepedas que fez Pantaleão e as Visitadoras, mas que não deixa qualquer impressão especial) e uma moça de família (Aline Moraes em seu pior dia). Fora os atropelos nos lençóis do Hotel Quitandinha (ao menos foi o que me pareceu), o filme insiste nos delírios de antipatia do protagonista, que nunca se humaniza. Está sempre brigando com os colegas, ofendendo-os e insistindo nos sonhos de ganhar título pelo Botafogo e depois jogar no Maracanã. E aí está o problema máximo: este é um filme sobre um ídolo do futebol, onde não tem futebol. Claro que se vê um flash ou outro, mas nunca uma jogada completa, algo que justificasse a fama do jogador.

Para o desastre não ser completo, felizmente Rodrigo se defende bem, ajudado por uma magreza exigida pelo papel, uma maquiagem bem caracterizada. É uma presença digna em busca de um personagem que nunca se encontra ou se esclarece.