Crítica sobre o filme "Deuses Malditos, Os":

Rubens Ewald Filho
Deuses Malditos, Os Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/06/2012

Nunca se entendeu porque a Warner nunca lançou no Brasil em DVD este filme clássico, escandaloso e pouco revisto, que vai provocar a curiosidade de todos os admiradores do grande diretor italiano Luchino Visconti (1906-76), que demonstra aqui outra faceta. Além de precursor do neorrealismo, Visconti era diretor de teatro e principalmente de Opera (foi com ele que seu assistente Zefirrelli aprendeu).

Nesta época ele fez um contrato com a Warner (com quem fez depois Morte em Veneza, aliás, foi aqui que nasceu o projeto com o astro britânico Dirk Bogarde) e parte de uma trilogia alemã que prosseguiria com Veneza e Ludwig. O filme teve censura X na época (e ainda hoje é bastante forte ainda que nada explícito) e só aqui em DVD que os americanos viram cenas gays da Noite das Facas Longas que haviam sido cortadas nos cinemas.

Fassbinder era um grande admirador do filme que considerava tão importante na história do cinema quanto Shakespeare na história do teatro. Foi indicado ao Oscar de roteiro adaptado, Globo de Ouro de revelação (Berger).

Então foi inspirado nas obras de Wagner, para contar a história de uma família alemã verdadeira, os Von Krupp que realmente colaboraram com os nazistas, participando da produção de aço e armamentos. O filme basicamente é uma grande alegoria sobre a decadência dessa família acompanhando a ascensão ao poder do nazisocialismo.

Basicamente é um veículo que Visconti encontrou para seu muso, o homem que amava (que segundo contam o tratava mal), o alemão Berger (ainda vivo, ainda trabalha na Alemanha). Ele sob a orientação do mestre foi se tornando um ótimo ator, fazendo aqui uma imitação de Marlene Dietrich e depois se envolvendo com incesto.

Há uma espécie de primeira parte que é justamente a mais inspirada quando Visconti retrata o golpe que Hitler deu, mandando matar a tropa de elite que era homossexual, num grande massacre. Não é porem um filme fácil de seguir, a história se perde em personagens e situações misteriosas, momentos escuros, sendo melhor como clima e ambientação, do que narrativa.

Melhor achar tudo aquilo alegórico (de certa maneira lembra o Cabaret de Bob Fosse) de tal forma que Rogert Ebert o considera um ~magnificent Failure. (considerando que o filme durava quatro horas e que Visconti teve que reduzi-lo).

Mas é um filme de grande paixão, coisa rara de se encontrar no cinema atual. Marcou a estreia no cinema da brasileira Florinda Bolkan que era amiga do diretor e que dali em diante teve uma bem-sucedida e longa carreira principalmente no cinema italiano.