Crítica sobre o filme "Noite, A":

Rubens Ewald Filho
Noite, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/07/2012

Este é o filme do meio da trilogia da incomunicabilidade e tédio, também o mais fraco deles. Produzido por DeLaurentiis, embora tenha a bela e ousada fotografia de Gianni Di Venanzo, o argumento é interessante, mas mal desenvolvido.

Com esse filme o diretor ganhou sua fama de colocar os personagens andando porque La Moreau faz isso o filme inteiro, primeiro caminhando pelos arrabaldes da então periferia de Roma, depois passeando pela festa de luxo que sucede num lugar imenso com enorme piscina e campo de golfe (na festa tem aparição de Umberto Eco e a anfitriã é realmente uma milionário local). Mas resulta um pouco longo (a festa resulta artificial, com ações meio ridículas em especial quando cai uma chuva, e figurantes que não sabem o que fazer).

Dá para entender o impacto que teve na época já que não se havia mostrado antes nada assim (e mesmo a forte cena final, spoiler! Que é igualmente esticada e deveria ser mais sucinta, o casal não se consegue falar e de repente vai se explicando apenas porque estamos no fim da metragem. Ainda assim há uma leitura de uma carta com resultado tocante e uma tentativa de ressuscitar um amor morto com uma cena de sexo que também tem sua força).

Percebe-se porque o brasileiro Walter Hugo Khouri gostava tanto de Antonioni (mais do que Bergman, como diziam) e tentou fazer em outros filmes dele festas semelhantes. Mas o resultado é irregular.

O roteiro (como sempre do grande Tonino Guerra, o diretor e alguns colaboradores) depois de uma bonita abertura já tentando retratar a Milão moderna, através dos vidros de um aranha-céu, mostra o casal visitando um velho amigo que está morrendo de câncer terminal (o diretor alemão Bernhard Wicki, que fez A Visita).

Já se percebe que o casal mal se fala e a dupla tem uma participação passiva, ambos com olheiras as de Marcello Mastroianni vindas da maquiagem as de La Moreau naturais (tenho que confessar que nunca fui fã da atriz, ainda viva, cuja aparência nunca me atraiu e talento não me convenceu.

Sempre me apareceu amarga, sofrendo de dor no estomago, ainda que tenhamos que levar em conta que ela passou as filmagens brigando com Antonioni, com quem não se entendeu. Ainda assim anos mais tarde o casal voltou a se reencontrar noutro filme dele, quando já estava doente, Além das Nuvens. Somente na festa é que surge a musa de Antonioni que faz a filha do dono milionária, que lê Os Sonâmbulos, de Dostoievski, mas Monica está usando uma peruca morena que parece ter sido jogada no lixo por Gina Lollobrigida!

Naturalmente Mastroianni dá em cima dela e os dois tem pouco mais do que um flerte, interrompida por filosofadas sobre a vida, o dinheiro, a política (todo mundo aquilo fala um pouco demais sem necessidade). Não é à toa que os Monty Python colocaram a seguinte piada no fim de A Vida de Brian: se gostaram desse filme não deixem de ver A Noite!

Ganhou o Urso de Ouro em Berlim, o David de Donatello de diretor. Edição com cópia restaurada traz o documentário já conhecido Michelangelo Antonioni, feito por franceses, cinejornais da época, trailer de cinema e texto sobre o diretor.