É uma proposta interessante lançar este filme gaúcho em aquilo que chamam de diferentes plataformas. Já foi exibido uma única vez no Canal Brasil, numa teve regional de Porto Alegre, já está disponível em DVD e em cartaz nos cinemas.
Não sei se vai ajudar, mas lhe da ao menos uma certa visibilidade (como diz o título do filme é Menos que Nada). Na verdade, as produções gaúchas são as únicas regionais que ao menos têm lançamento no chamado Eixo Rio-São Paulo. Esta, porém, não parece ter muitas possibilidades de alcançar um público maior.
Sua maior qualidade é a escolha das atrizes, que incluem Rosana Mullholand (protagonista de Falsa Loura do Carlão, mas derrotada por um personagem mais facetado), Maria Manoella (Mulher Invisível), Branca Messina (Não Por Acaso).
Outra coisa interessante é a utilização de locações pouco conhecidas (no sul do Rio Grande do Sul (praia do Cassino e proximidades do banhado do Taim) e litoral norte (Arroio do Sal e Araçá). Em Porto alegre, os principais cenários foram o Hospital Psiquiátrico São Pedroe a PUCRS).
Por outro lado, o pior defeito é a irregularidade do elenco, por vezes muito mal dirigido (é o caso do rapaz que faz o marido de Maria Manoella completamente fora de tom e inconvincente). Isso porque o enredo escolhido para o filme é muito difícil e não especialmente interessante.
A história de um rapaz de trinta e poucos anos (Felipe) que está num sanatório de loucos há muitos anos, abandonado e sem aparente chance de melhoras, diagnosticado como paranóico que chama a atenção de uma jovem doutora que faz residência e o escolhe para objeto de estudo (um colega aconselha sabiamente de que paciente que não demonstra chances de recuperação não é bom para um trabalho escolar. E nem para ser tema de um filme!). Mas mesmo assim ela insiste em investigar a sua vida passada entrevistando mulheres de sua vida (a única pista que temos é que quando muito pequeno ele acha que foi castigado por Deus porque flertava com uma menina do bairro e lhe deu um beijo no rosto).
Na trama ele é um semi-arqueólogo e irá esbarrar num sambaqui (estuda terrenos possivelmente arqueológicos para liberação de obras, sem dúvida uma profissão nunca vista em nosso cinema). Mas o difícil mesmo é entender porque as mulheres têm desejos por ele (o diretor é conhecido por suas cenas de sexo e aqui tem um quase estupro, dois encontros sexuais e mais um terceiro ainda com um casal pré-histórico).
Enfim, a história não envolve e termina como só podia acabar. Porém, o recurso mais criativo do filme é fotografar protagonistas com tomadas fotográficas que cobrem 360 graus de cada um. Visualmente é competente, mas tudo está a serviço de um argumento nada atraente.