Apesar de suas posições libertárias e seu trabalho no Haiti, Sean Penn não chega a ser uma figura simpática. Mas não dá para discutir seu trabalho como ator. Este filme aqui ele foi rodar na Itália (e o filme concorreu no Festival de Cannes do ano passado, levando o prêmio ecumênico!) sob a direção de realizador italiano importante, Sorrentino (que fez Il Divo).
O resultado é muito interessante, principalmente pela interpretação de um rock star aposentado chamado Cheyenne, que ele faz quase sem reações, só sentindo e demonstrando pelos olhos e a maquiagem pesada (como se fosse um integrante do Kiss, que só anda montado). O filme chegou a ganhar David de Donatellos de melhor canção, If it Fails, it Fails, de David Byrne - que faz também adequada aparição -, maquiagem, roteiro, trilha musical, penteado, fotografia, e mais quatro indicações, incluindo filme e diretor).
Cheyenne vive nesse pequeno - mas rico e elegante - esconderijo com sua companheira (a sempre especial Frances McDormand), totalmente dominado pela apatia, até o dia em que resolve solucionar uma velha questão do passado: seu pai judeu foi perseguido por um criminoso de guerra nazista, que agora está escondido em alguma parte dos Estados Unidos.
Sabendo que o pai está perto da morte, vai para Nova York tentando se reconciliar com ele depois de 30 anos de afastamento. Mas chega tarde demais. Ainda assim, fica sabendo melhor o que ele sofreu no campo de concentração de Auschwitz nas mãos deste oficial da SS, Aloise Muller. Assim começa um filme de estrada atrás do criminoso. Pelo caminho, ele vai encontrando pessoas (que naturalmente o estranham, já que está sempre paramentado) em busca da redenção.
Tive uma certa dificuldade em acreditar nessa busca, não achei os encontros pela estrada particularmente luminosos (apesar do elenco trazer coadjuvantes interessantes, como o muito veterano Harry Dean Stanton, que certamente faz referência a Paris, Texas), e alguns momentos são desnecessários. Assim como não funciona como deveria o encontro com o caçador de nazistas (Judd Hirsch), que relembra o que foi o Holocausto (suponho que seja necessário, já que as pessoas não tem memória). Ou seja, a trip, a parte "on the road", é irregular e pouco orgânica.
Apesar disso, eu gostei da tristeza que Penn traz no olhar, me senti solidário com sua busca tão distante de sua realidade. Muita gente já viu o filme, porque ele circula faz tempo na pirataria (embora tenha passado em Sundance 2012, me parece que não estreou nos EUA até hoje). Justamente por ser bizarro, mas também humano, que ele me interessa.