Crítica sobre o filme "Polissia":

Rubens Ewald Filho
Polissia Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/08/2012

É muito difícil aparecer alguma coisa de novo no gênero policial simplesmente porque são muitas e boas as alternativas que as séries de TV nos apresentam toda semana. Mas fiquei impressionado com este drama policial francês que ganhou em Cannes o prêmio do júri e o Cesar de revelação (Naida Ayadri) e montagem (e 12 outras indicações). Tem um realismo, uma franqueza e sinceridade que raramente se vê na tela.

É trabalho de uma jovem mas já veterana atriz (trabalha desde criança), que foi companheira do diretor Luc Besson (com quem tem um filho e teria inspirado O Profissional).

Deve ter aprendido muito porque seu trabalho é muito seguro formando uma equipe homogênea de atores (alguns famosos, outros nem tanto) que compõe os detetives que circulam numa delegacia parisiense especializada em crimes infantis (o título aqui e lá fora quer dar a impressão de que foi dito/escrito por uma criança, no caso o próprio filho da diretora que fez isso).

Se tem algum problema é justamente o excesso de tramas e subtramas, que vão se misturando, algumas delas difíceis de suportar (e todas autenticas, eles informam). Tudo é mostrado com naturalidade, sem criticar ou cair na caricatura. Tudo com muita energia, ate chegar a um final inesperado e chocante.

Não conheço os filmes anteriores da direta (a estreia confessional Pardonnez-moi, o falso documentário The Bal des Actrices), mas ela conseguiu reunir um ótimo elenco e não deixar nos incomodar a estrutura episódica indispensável.

Embora o filme condutor possa ser uma jornalista que está acompanhando o trabalho dos detetives e se envolve com um deles, na cena inicial uma garota diz para uma oficial que o pai às vezes coça seu traseiro, mostrando a dificuldade de abordar o assunto.

Como ter certeza de que se trata de abuso sexual (é impressionante a admissão em outro momento, da mãe que conta tudo com a maior naturalidade). E as situações podem ser engraçadas, mas quase sempre perturbadoras e trágicas. Sem medo de manter certas cenas sem corte, até chegar ao clímax desejado.

Tudo sem glamour dos filmes americanos, mostrando como os detetives atravessam os conflitos do cotidiano (divorcio, separação, solidão). Um destaque é o músico/rapper Joey Starr (que chegou a servir na prisão por ser condenado por agressão) faz Fred que está separado da filha, em conflito com o superior e permanentemente prestes a explodir. 

Não vou enganar ninguém dizendo que é um filme digestivo, fácil. Mas impressiona, toca, comove, assusta. Por isso é dos melhores do ano.