Este foi o quarto filme da série e único vencedor do Oscar de efeitos especiais, mais famoso por ter sido refeito dezoito anos depois novamente com Connery como “007-Nunca mais outra vez” (houve uma indicação para Moonraker mas não levou. Goldfinger ganhou, mas por efeitos sonoros). Foi também o terceiro e último dirigido pelo diretor que realizou o primeiro da série, o medíocre Terence Young (1915-94), que nunca fez nada que prestasse mas era bom vivant e bem amado (chegou a dirigir Audrey Hepburn duas vezes em A Herdeira e Um Clarão nas Trevas que deu a ela indicação ao Oscar). Young só assumiu o filme quando o outro diretor Guy Hamilton que fez Goldfinger se declarou cansado demais para fazer outro em seguida.
Explicar como Young acertou nos dois primeiros Filmes de Bond fica difícil. Deve ter sido pela participação ativa da dupla de produtores, em particular Broccoli. Mas aqui a produção é assinada por outro Kevin McClory! O que ao menos justifica o desastre. Talvez seja exagero chamar este filme assim. Mas nunca tinha revisto este quarto filme de Bond e fiquei muito surpreso em saber que é o mais caro até então produzido (custou sozinho mais do que os tres outros anteriores) e que rendeu maior bilheteria em todos os tempos (fazendo-se os ajustes da inflação! Na época eram US$ 140 milhões, 10 a mais do que Goldfinger).
Mais grave ainda é saber que Sean Connery considera este seu filme favorito de 007! Vai ver é porque ele passa o tempo de shortinhos exibindo as pernas (as mulheres usam quase sempre maios inteiriços), fazendo piadinhas sem graça e deve gostar de caça submarino e mergulhos. Não há dúvida que foi rodado em diferentes e solares locações (Anet e Loir, França, na sequência de abertura, Paris, Bahamas (ou seja, Nassau e arredores), Londres, Miami, Ocala Florida e como sempre o estúdio Pinewood). E o roteiro é do habitual Richard Mailbaum (1909-91), que estava na série desde o primeiro (e ainda faria outros 9, sendo o último Permissão para Matar. É considerado o grande responsável pela criação da personalidade cinematográfica de Bond).
Não se pode evitar uma referência a origem do filme e a associação relutante com McClory. Acontece que quando primeiro pensaram em adaptar Bond no fim dos anos 50, Ivar Bryce, amigo do autor Fleming se uniu a Kevin McClory e começaram a produzir um roteiro para ser filmado. McClory foi quem estava determinado a usar ações submarinas e quando Fleming larogu o projeto, McClory contratou Jack Whittingham para fazer um roteiro que serviu de linha geral para este Thunderball. O problema é que Fleming também usou o script para uma sua novela.
McClory reclamou e processou Fleming. No final das contas, McClory ficou se tornando autor único desta história e a dupla Saltzman e Brocolli achou melhor entrar em acordo com ele para tirar o problema do caminho. Por outro lado, McClory ficou também autor dos direitos de refilmagem, o que explica porque fez depois Nunca Mais Outra Vez, com Connery e sem os produtores oficiais. Um detalhe curioso: este junto com Moscou são os dois únicos filmes que utilizam na montagem o efeito chamado de Swipe, que é uma espécie de cortina que corre pela tela, acentando o ritmo da narração (muito usado em filmes B dos anos 30 e 40).
Uma confusão danada que certamente explica as irregularidades do filme. Não ajuda nada a moda da época, de perucas armadas e o politicamente incorreto herói que torce o pescoço de um bandido no prologo, dá em cima feio de uma enfermeira, beijando-a força, comporta-se como machão pretensioso e assim por diante. Chega a fazer chantagem noutro momento. Desta vez ele não fuma, nem toma seu martini (quando vai beber pede Don Perignon, e sua introdução quase já no meio do filme, é na água do Oceano).
Suas frases engraçadinhas desta vez são sem inspiração variando de citações datadas (quando menciona Outro lugar, Bond Diz, Outra época, outro lugar, Another Time, Another Place que é o nome do filme que ele rodou pouco antes de assumir o personagem!). Ou burras (Ele morreu? Antes ele do que eu!). E como no filme anterior deu certo o uso de geringonças modernas principalmente em seu carro, aqui elas já aparecem no prologo, quando ele voa com maquina individual (hoje bem comum).
Aliás, quando W traz novas armas é que a gente percebe como a tecnologia evoluiu e deixou o filme fora de moda (antes disso ja tinha aparecido um gravador de fita constrangedor). Mas tem ainda um relogio para marcar radioatividade, e cujo maior mérito é ser a prova d´água! E uma camera fotografica que imaginem só, tira oito chapas de uma só vez! E caneta que dá alarme!
Também o elenco não é nenhuma maravilha. O papel central Domino coube a uma ex-Miss França, que fez certa carreira no cinema europeu, Claudine Auger (1941, largou a carreira em 97), que é vesga e inexpressiva (alem disso tiveram que dubla-la por por Nikki Van der Zyl, a mesma que dublou Ursula Andress em Dr. No. Como vilã absoluta aparece a italiana Luciana Paluzzi, 1937, que faz Fiona (Luciana teve uma carreira internacional, lembrando um pouco Deborah Kerr.
Foram mais de 80 créditos, mas em 1978, após o Magnata Grego largou a carreira de atriz e virou produtora. Foi casada com o ator americano Bret Halsey e depois com o produtor Michael Solomon). Aliás, cruzei com ela várias vezes ainda bonitona nos 80 em feiras de cinema. Auger eu conheci em Mônaco, já infeliz por ter perdido a beleza e a fama. Adolfo Celi também foi dublado por Robert Rietty. Molly Peters (1942- ), a loira que faz a enfermeira Patricia, teve seu breve momento de glória aparecendo pelada em revistas como Playboy. Mas largou o cinema (ou foi largada depois de Um Golpe das Arábias, 68, com Jerry Lewis). Normal: ela é a pior do elenco.
Há no elenco outras semi celebridades. No papel de Felix, o agente amigo da CIA que a cada filme ficou um ator está aqui, Rik Van Nutter (1929-2005), que foi casado com Anita Ekberg (de 63 a 75). Tinha 1.93, cabelos grisalhos, bom tipo, mas nenhum talento. Largou a carreira depois de quatro outros filmes ruins. O chefe da Spectre de quem nunca vemos o rosto foi outra vez dublado por Anthony Dawson. Mas o número dois na organização Largo foi feito pelo quase brasileiro Adolfo Celi (1922-1986). Ator italiano que foi nome importante em nosso teatro.
Nascido em 27 de julho, em Messina, frequentou a Academia Nacional de Arte Dramática de Roma, chegando a fazer alguns filmes com Luigi Zampa (Um lanque na Itália/ Un Americano in Vacanza, 1945) e Comencini, É Proibido Roubar (Anni Difficili, em 1948). Veio em 1948 para o Brasil trabalhar no Teatro Brasileiro de Comédia como diretor, onde namorou Cacilda Becker, depois se casou com Tonia Carrero e montou a célebre companhia Tonia-Celi- (Paulo) Autran. Junto com Franco Zampari e Ruggero Jacobbi foi um dos idealizadores da Companhia Vera Cruz, para quem dirigiu o primeiro filme da produtora, Caiçara (1950, com Eliane Lage e Mario Sergio) e depois com Tonia e Anselmo Duarte, Tico Tico no Fubá (1952).
Em 1963, deixou inacabado, o filme Marafa. Depois de ser redescoberto no Brasil por cineastas estrangeiros, principalmente em O Homem do Rio, de Phillipe de Broca, retornou a Itália, onde fez carreira brilhante como ator, inclusive como vilão de James Bond em 007 contra a Chantagem Atômica (Thunderball, 1965). Reencontrou o amigo Vittorio Gassman com quem co-dirigiu o autobiográfico O Álibi (o outro episódio era de Luciano Lucignani) em 1968. Faleceu em 19 de fevereiro, em Roma, quando se preparava para dirigir com Gassman, I Misteri di San Pietroburgo.
Foram mais 90 títulos no exterior,em filmes de prestigio como O Expresso de Von Ryan com Sinatra, Agonia e Êxtase com Charlton Heston, Grand-Prix, El Greco com Mel Ferrer, Esse Mundo é dos Loucos com Alan Bates, Charada em Veneza de Mankiewicz, Brancaleone nas Cruzadas de Monicelli, Irmão Sol, Irmã Lua de Zeffirelli, O Fantasma da Liberdade de Buñuel, Meus Caros Amigos de Monicelli, Monsenhor com Christopher Reeve e Quinteto Irreverente de Monicelli.
Tom Jones canta a música-tema (reza a lenda que Jones teria desmaiado após gravar uma nota muito alta!). Curiosamente a canção se chamou inicialmente Mr. Kiss Kiss.. Bang Bang (que era o apelido de Bond no Japão) e foi gravada por Dionne Warwick, na última hora mudaram de ideia.
O forte do filme são as cenas submarinas (repleta de engenhocas e um iate moderno chamado Disco Volante/Disco Voador) e os letreiros de abertura que voltaram a ser de Maurice Binder (foram rodadas com duas modelos seminuas numa piscina é a mesma da série Flipper e quem dirigiu essas cenas foi Ricou Browning, famoso por usar as roupas de O Monstro da Lagoa Negra). Binder continuaria com todos os filmes de Bond até Licença para Matar.
Segundo o dicionário, a definição da palavra "Thunderball" é um termo militar usado por soldados americanos para descrever a nuvem tipo cogumelo vista durante testes atômicos. O título do filme sugere então o que conseguiria a Spectre roubando as bombas. Esse também foio codinome das forças de Israel em 1976 quando resgataram reféns em Uganda. Em homenagem ao filme.
Na época a piscina onde passeiam os tubarões era uma imagem forte que hoje perdeu o impacto. Largo menciona que os tubarões são de um lugar chamado "Golden Grotto", nas Bahamas (agora rebatizado de "Thunderball Reef"). Ou seja, o lugar existe, mas os tubarões são semelhantes a qualquer outro. Este foi o primeiro filme da série que teve como promoção bonecos, os chamados "action figures". Também o primeiro cujo desenho enfatiza a ação/aventura, como seria dali em diante até Licença para Matar.
É preciso notar que na época a série estava em seu apogeu de popularidade e este foi o primeiro que usou lentes Panavision em Widescreen. A maior parte das cópias não tem a chamada para a próxima aventura de Bond, por que eles mesmos não tinham certeza qual seria.
Mais um detalhe: esta é a primeira vez que Sean Connery aparece no comecinho com o tema de Bond, de chapéu e dando tiros na plateia (antes era um anônimo dublê). Raquel Welch, Julie Christie, Faye Dunaway, Yvonne Monlaur, Mary Menzies, Gloria Paul e Maria Grazia Buccella foram candidatas a papéis no filme. Enquanto Raquel Welch largou o projeto para fazer Viagem Fantástica.
Este é o único filme da série que dá uma visão ainda que rápida de todos os Agentes 00 presentes a uma reunião (E Bond senta-se na sétima cadeira). No trailer Bond diz a frase, "As coisas que eu faço pela Inglaterra”. Isso foi cortado na versão final, mas usado no próximo filme, You Only Live Twice.
O livro original de Ian Fleming é considerado o pior de todos que já escreveu. Talvez eu tenha ficado chocado com a irregularidade do filme, a sequência do prólogo com lutas muito mal encenadas (em geral elas são fracas e a fuga de Bond passando do lado do tubarão pode ser possível, mas era difícil de acreditar já na época). Incomoda também a frieza com que Bond reage as mortes das mulheres, Paula (Martine Beswick por exemplo e fazendo piada com a de Fiona, usando-a para levar o tiro no lugar dele e dizendo “Peço licença para ela descansar um pouco, está morta!”).
Hoje em dia essas coisas de organização secretas exóticas que matam a torto e direito os seus empregados (a gente sempre fica pensando como aceitam um emprego deste de tanto risco e que está sempre querendo destruir o mundo! Por que eles morreriam juntos!). Não é à toa que a série Austin Powers, às vezes, acertava em cheio com sua gozação.
Outra coisa porque os bandidos que tem que esconder sua identidade, usam sinais tão óbvios exteriores, como o anel de Fiona e a tatuagem do Conde no Spa? Aliás, a cena da tração também não convence nem um pouco, cai no ridículo.
Assim como fica duro de engolir um dublê do piloto (e o ator é particularmente feio e canastrão). A missão só vem depois de 40 minutos e é coisa típica da Guerra Fria (hoje continuamos vivendo com esse terror de uma bomba poder explodir a qualquer momento, mas já não assusta tanto). E Bond tropeça no caso por acaso, não por inteligência ou dedução. Vamos depois em excursão tropical pela região que o autor Fleming tanto gostava. Continuo a implicar com cenas de luta (onde esperam o soco do inimigo) em particular debaixo d´água.
Connery, porém, vai ficando cada vez com jeito mais malandro (ou cafajeste, como quando entrega os chinelos para Fiona nua na banheira, seria a única coisa que ela devia vestir!). Ainda que sua peruca vai ficando cada vez mais visível.
As cenas do carnaval Jankanoo são uma bobagem (mas são ajudadas pela melhor coisa do filme, a trilha musical de John Barry) e a cena da cama com Fiona com grades como uma jaula são ao menos sugestivas (ele ainda joga na cara dela: ”o que eu fiz esta noite foi pelo rei e pela pátria. Não acha que me deu algum prazer, acha?”). Sempre cafajeste!
Eu culpo o diretor pela falta de ritmo e tensão. Os anteriores tinham um roteiro mais sólido e por isso mesmo melhores. Prejudicado pelas "back projections", que cada vez parecem mais falsas, alguns dublês que ficam evidentes demais, por um final prolongado, que agora nos tenta convencer do romance com Domino e finalmente uma luta submarina entre os que estão de vermelho e os de negro (na época bem mais impressionantes que agora).
Agradeço a colaboração de Adilson de Carvalho Santos.