Crítica sobre o filme "Annie":

Rubens Ewald Filho
Annie Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/10/2012

Medíocre adaptação de um musical da Broadway de 1977, criado por Charles Strouse e Martin Charnin que fez enorme sucesso, por sua vez inspirada em quadrinhos famosos dos anos 30. Os direitos para o filme foram comprados na época por um preço recorde.

Chegou a ter uma continuação para a TV e foi refilmado melhor em 1999 pela Disney (até Kathy Bates estava melhor que Carol Burnett). O fato é que o importante diretor Huston não estava inspirado ou interessado no projeto. Erra basicamente no elenco, na coreografia infeliz, na direção de arte sombria (para a mansão, eles aproveitaram uma de verdade que é sede de uma Universidade em New Jersey) e até a ótima Burnett em seu pior momento como Srta.Hannigan.

Para nós, porém, há uma novidade, a fita passou no Brasil com cortes, principalmente o luxuoso Let´s Go to the Movies (rodado no Rádio City Music Hall, com ceninhas de A Dama das Camélias de Garbo). Mas pensando bem, quem errou mesmo foi quem teve a ideia de fazer um musical da Broadway dirigido por um veterano como Huston, que construiu sua carreira toda em cima de dramas e aventuras.

Ele já estava bem velho e doente (1906-87), e ainda dirigiria três outros filmes. Eu fui convidado pela Columbia para ver a rodagem do musical em sua locação, Monmouth College, New Jersey. Era um palácio espetacular (doação de um milionário), mas Huston não tinha gosto nem pelo gênero, nem por suas sutilezas.

O filme virou paquidérmico sem vida ou alegria, que tinha muito na montagem teatral (aliás, fala-se atualmente em remontá-la e está prevista para se ter versão nacional no ano que vem). Eu cheguei a ver na Broadway com a lendária Betty Hutton, fazendo a vilã Miss Hanningans (foi sua última aparição profissional e ela explodia de vitalidade e energia, foi inesquecível).

O longa não chega a ser ruim, mas é lerdo e sem alma. A menina que fez Annie eu a conheci pessoalmente era simpática, bonitinha e resulta encantadora. A produção que não a merecia (mas não se explica porque nunca mais fez nada). Foi escolhida entre mais de 1.800 garotas e foi até bem recebida. Mas não era mais a época dos estúdios e ninguém se interessou em contratá-la nem fazer continuação (a mesma coisa no palco onde tentaram continuações que não emplacaram).

Falta energia na direção dos números de Joe Layton e na coreografia fraca de Arlene Phillips. Na verdade, é o produtor Ray Stark o verdadeiro culpado pelo fracasso (falam em 50 milhões de orçamento e 57 de renda, ou seja, nem se pagou). Não precisava colocar Albert Finney (que tem voz fraca para cantar e não é o mais indicado para o papel do Daddy) e muito menos como a secretaria a lamentável e sem talento Ann Reiking (que estava na moda porque era namorada de Bob Fosse, que morreria em 87 apenas). Ninguém sabia ainda que era fraca. Mas isso não explica porque o trio central de vigaristas não registra, embora continuem a ser estrelas no palco, Carol Burnett (mais ainda em TV), Bernadette Peters e Tim Curry (o travesti de The Rocky Horror Picture Show).